Rio - Há 5 meses, a vida escolar e social das crianças se transformou completamente. Com o decreto da pandemia e início das aulas online, o que parecia ser passageiro se tornou uma realidade sem data para terminar. Enquanto isso, as famílias tiveram que se adequar à rotina que, se antes já era pesada para alguns – especialmente mães -, se tornou ainda mais difícil. Afinal, manter a atenção das crianças diante do conteúdo, não é uma tarefa fácil muitas vezes nem para professores. Imagine para os pais que nunca aprenderam sobre didática escolar, e ainda têm que conciliar os estudos dos filhos com o trabalho em home office, as tarefas da casa, entre outros.
De fato, o conteúdo passado dentro da escola, com aulas regulares, não pode ser vivenciado na íntegra por uma tela de computador. Afinal, no colégio, os alunos não apenas aprendem o que está nos livros. Existe a ludicidade ao ensinar, a socialização com os colegas de classe, os compartilhamentos, as brincadeiras, os trabalhos em grupo. E tudo isso foi interrompido abruptamente com a Covid-19. Em poucos dias, os pais tiveram que reajustar o dia a dia com todos dentro de casa, as crianças passaram a não ir mais às ruas e os professores precisaram rever todo o método de ensino para que as aulas continuassem de forma online.
E essa nova forma de aprender não tem sido complicada apenas para pais e filhos. Os professores também precisaram se adequar a essa realidade, já para prender a atenção dos alunos é preciso ir além da teoria. A professora Ana Angélica Viana, que dá aula no 5° ano do Ensino Fundamental, conta que quando iria abordar nas aulas o assunto alimentação, por exemplo, costumava usar exemplos práticos para fazer as crianças repensarem o alimento que ingeriam. Porém, com as aulas fora das salas das escolas, abriu-se uma lacuna na forma de ensinar. “Nos outros anos, eu tive tempo hábil para trabalhar calmamente os nutrientes, os grupos de alimentos, a importância de uma alimentação balanceada etc. Com a pandemia, foi preciso desenvolver com eles atividades mitigadoras à distância, sem contato visual, sem eu estar falando com eles presencialmente e frequentemente. Então, eu comecei a procurar vídeos na internet que pudessem ajudar e chamar a atenção deles, e foi quando encontrei os episódios da Helô Heloilda, da atriz Lara Cardoso, que interpreta uma secretária do lar cheia de simpatia, tiradas engraçadas e com uma linguagem bem lúdica, quase infantil. Ela faz vídeos curtinhos, com brincadeiras que as crianças gostam, mas também com vários ensinamentos. Tem um jeito despretensioso de educar. Ela é solta, leve para conversar, chega a ser quase ingênua em algumas falas. E as crianças se identificaram imediatamente, até porque a maioria dos vídeos também têm outras crianças participando. Tem um episódio, inclusive, que uma nutricionista comenta, fala da quantidade de conservantes e afins. E aí, dentro disso tudo, tem as receitas. Então, por enquanto, como estou trabalhando a sensibilização para estimular uma alimentação mais pensada, estou usando a Helô como motivador para comerem coisas gostosas, simples, mas que façam bem. Obviamente que em situação presencial, eu poderia abordar outros aspectos da personagem, de repente recriar as receitas que ela faz para que as crianças pudessem provar. Mas, mesmo à distância, estou conseguindo focar no estímulo a uma alimentação melhor. As crianças estão de fato comendo melhor? Não sei. Mas estou tendo, com esses vídeos, a oportunidade de semear esse conhecimento que certamente será lembrado quando eles se alimentarem, especialmente se os pais também colaborarem”, complementa.
Mãe de uma menina de 10 anos, a atriz que interpreta a personagem dos episódios citados pela professora, Lara Cardoso, conta que a ideia de fazer esses vídeos sobre alimentos começou antes mesmo da pandemia. “Inicialmente, a personagem não tinha esse viés infantil, mas aos poucos caiu no gosto das crianças e adolescentes e comecei a repensar o conteúdo. Escrevi roteiros que mantiveram o perfil da personagem, mas inserindo temas importantes, como alimentação balanceada, respeito às pessoas e animais, cuidados com o meio ambiente, entre outros assuntos. Então, no final de 2019, algumas escolas me convidaram para fazer apresentações bastante interessantes, unindo meu lado atriz com o de educadora, já que fui professora também. Agora, com a pandemia, senti a responsabilidade aumentar, já que as crianças encontram na Internet uma oportunidade de aprender mais e trocar informações. Fico feliz de poder colaborar com conteúdo de qualidade e lúdico ao mesmo tempo”, comenta a atriz.
Mas mesmo com todos os esforços de professores, fazer as crianças manterem uma rotina de estudos é complicado. Não é à toa que muitos, inclusive, têm preferido que os filhos parem de estudar esse ano e voltem apenas em 2021, já que boa parte desses adultos sequer teve qualquer contato com didática de ensino antes da pandemia. A neuropsicóloga Bárbara Calmeto, do Autonomia Instituto, pontua que ensino à distância ainda precisa de muitas adequações. Afinal, todos - professores, alunos e responsáveis - foram inseridos nesse novo método de aprendizado do dia para a noite, literalmente. Não houve um período de adaptação ou testes para definir o melhor modelo para essas aulas online e o resultado é que muitos pais não conseguem acompanhar as aulas com os filhos. Porém, algumas mudanças no dia a dia podem fazer as crianças lidarem com as aulas de forma mais leve. “Se antes elas tinham um horário certo para estudar, talvez dividir esse tempo seja a solução, como estudar um pouco pela manhã e depois um pouco à tarde. Outra ideia é deixar a criança escolher onde quer estudar. Às vezes nós achamos que um cantinho sem barulho é o melhor para os nossos filhos terem foco, mas eles preferem estudar em outro local, como na mesa com os pais enquanto trabalham em home office ou na varanda. Outra dica é mexer na rotina. Se na escola acontecem pausas como intervalos ou a exibição de um filme que tenha a ver com o conteúdo programático, por que não fazer isso em casa também? Há ainda a possibilidade de fazer uma espécie de recreio, com descidas para o play para tomar um sol se o local estiver vazio ou comer um lanchinho. O importante é que a criança se surpreenda, como acontece na escola. Se nós, adultos, estamos entediados com tudo isso, imagine as crianças”, avalia.
Mãe de Olívia, de 8 anos, a publicitária Tatiane Souza, criou um planejamento semanal pensando em aliviar a rotina da filha, com direito à pausa para a hora do recreio, preparo de uma receita juntos na cozinha e até praticar exercícios juntas para gastar energia. A ideia é tirar a menina da frente do computador, já que ela não era acostumada e da noite pro dia precisou criar um vínculo com a tela por cerca de 5 horas de estudo diários. "Levantar da cadeira é fundamental para esticar o corpo, gastar energia acumulada, relaxar os olhos e aproveitar o tempo de pausa como fazia na escola. Eles já não têm a presença de outras crianças pra brincar. Então, o mínimo que posso fazer é pausar meu home office ao mesmo tempo e oferecer minha companhia e opções para aliviar as pressões", conta.
E um aviso importante: lembre-se que este momento, apesar de difícil, pode ser uma boa oportunidade para ensinar e aprender a se colocar no lugar do outro. Sempre que possível, converse com seu filho sobre o que ele está sentindo, o que está pensando disso tudo, deixe-o falar sem cobranças, seja empático. “Se seu filho disser que está complicado acompanhar alguma aula ou que está cansado, entenda, se solidarize. Afinal, não está sendo fácil para ninguém”, conclui Bárbara Calmeto.
De fato, o conteúdo passado dentro da escola, com aulas regulares, não pode ser vivenciado na íntegra por uma tela de computador. Afinal, no colégio, os alunos não apenas aprendem o que está nos livros. Existe a ludicidade ao ensinar, a socialização com os colegas de classe, os compartilhamentos, as brincadeiras, os trabalhos em grupo. E tudo isso foi interrompido abruptamente com a Covid-19. Em poucos dias, os pais tiveram que reajustar o dia a dia com todos dentro de casa, as crianças passaram a não ir mais às ruas e os professores precisaram rever todo o método de ensino para que as aulas continuassem de forma online.
E essa nova forma de aprender não tem sido complicada apenas para pais e filhos. Os professores também precisaram se adequar a essa realidade, já para prender a atenção dos alunos é preciso ir além da teoria. A professora Ana Angélica Viana, que dá aula no 5° ano do Ensino Fundamental, conta que quando iria abordar nas aulas o assunto alimentação, por exemplo, costumava usar exemplos práticos para fazer as crianças repensarem o alimento que ingeriam. Porém, com as aulas fora das salas das escolas, abriu-se uma lacuna na forma de ensinar. “Nos outros anos, eu tive tempo hábil para trabalhar calmamente os nutrientes, os grupos de alimentos, a importância de uma alimentação balanceada etc. Com a pandemia, foi preciso desenvolver com eles atividades mitigadoras à distância, sem contato visual, sem eu estar falando com eles presencialmente e frequentemente. Então, eu comecei a procurar vídeos na internet que pudessem ajudar e chamar a atenção deles, e foi quando encontrei os episódios da Helô Heloilda, da atriz Lara Cardoso, que interpreta uma secretária do lar cheia de simpatia, tiradas engraçadas e com uma linguagem bem lúdica, quase infantil. Ela faz vídeos curtinhos, com brincadeiras que as crianças gostam, mas também com vários ensinamentos. Tem um jeito despretensioso de educar. Ela é solta, leve para conversar, chega a ser quase ingênua em algumas falas. E as crianças se identificaram imediatamente, até porque a maioria dos vídeos também têm outras crianças participando. Tem um episódio, inclusive, que uma nutricionista comenta, fala da quantidade de conservantes e afins. E aí, dentro disso tudo, tem as receitas. Então, por enquanto, como estou trabalhando a sensibilização para estimular uma alimentação mais pensada, estou usando a Helô como motivador para comerem coisas gostosas, simples, mas que façam bem. Obviamente que em situação presencial, eu poderia abordar outros aspectos da personagem, de repente recriar as receitas que ela faz para que as crianças pudessem provar. Mas, mesmo à distância, estou conseguindo focar no estímulo a uma alimentação melhor. As crianças estão de fato comendo melhor? Não sei. Mas estou tendo, com esses vídeos, a oportunidade de semear esse conhecimento que certamente será lembrado quando eles se alimentarem, especialmente se os pais também colaborarem”, complementa.
Mãe de uma menina de 10 anos, a atriz que interpreta a personagem dos episódios citados pela professora, Lara Cardoso, conta que a ideia de fazer esses vídeos sobre alimentos começou antes mesmo da pandemia. “Inicialmente, a personagem não tinha esse viés infantil, mas aos poucos caiu no gosto das crianças e adolescentes e comecei a repensar o conteúdo. Escrevi roteiros que mantiveram o perfil da personagem, mas inserindo temas importantes, como alimentação balanceada, respeito às pessoas e animais, cuidados com o meio ambiente, entre outros assuntos. Então, no final de 2019, algumas escolas me convidaram para fazer apresentações bastante interessantes, unindo meu lado atriz com o de educadora, já que fui professora também. Agora, com a pandemia, senti a responsabilidade aumentar, já que as crianças encontram na Internet uma oportunidade de aprender mais e trocar informações. Fico feliz de poder colaborar com conteúdo de qualidade e lúdico ao mesmo tempo”, comenta a atriz.
Mas mesmo com todos os esforços de professores, fazer as crianças manterem uma rotina de estudos é complicado. Não é à toa que muitos, inclusive, têm preferido que os filhos parem de estudar esse ano e voltem apenas em 2021, já que boa parte desses adultos sequer teve qualquer contato com didática de ensino antes da pandemia. A neuropsicóloga Bárbara Calmeto, do Autonomia Instituto, pontua que ensino à distância ainda precisa de muitas adequações. Afinal, todos - professores, alunos e responsáveis - foram inseridos nesse novo método de aprendizado do dia para a noite, literalmente. Não houve um período de adaptação ou testes para definir o melhor modelo para essas aulas online e o resultado é que muitos pais não conseguem acompanhar as aulas com os filhos. Porém, algumas mudanças no dia a dia podem fazer as crianças lidarem com as aulas de forma mais leve. “Se antes elas tinham um horário certo para estudar, talvez dividir esse tempo seja a solução, como estudar um pouco pela manhã e depois um pouco à tarde. Outra ideia é deixar a criança escolher onde quer estudar. Às vezes nós achamos que um cantinho sem barulho é o melhor para os nossos filhos terem foco, mas eles preferem estudar em outro local, como na mesa com os pais enquanto trabalham em home office ou na varanda. Outra dica é mexer na rotina. Se na escola acontecem pausas como intervalos ou a exibição de um filme que tenha a ver com o conteúdo programático, por que não fazer isso em casa também? Há ainda a possibilidade de fazer uma espécie de recreio, com descidas para o play para tomar um sol se o local estiver vazio ou comer um lanchinho. O importante é que a criança se surpreenda, como acontece na escola. Se nós, adultos, estamos entediados com tudo isso, imagine as crianças”, avalia.
Mãe de Olívia, de 8 anos, a publicitária Tatiane Souza, criou um planejamento semanal pensando em aliviar a rotina da filha, com direito à pausa para a hora do recreio, preparo de uma receita juntos na cozinha e até praticar exercícios juntas para gastar energia. A ideia é tirar a menina da frente do computador, já que ela não era acostumada e da noite pro dia precisou criar um vínculo com a tela por cerca de 5 horas de estudo diários. "Levantar da cadeira é fundamental para esticar o corpo, gastar energia acumulada, relaxar os olhos e aproveitar o tempo de pausa como fazia na escola. Eles já não têm a presença de outras crianças pra brincar. Então, o mínimo que posso fazer é pausar meu home office ao mesmo tempo e oferecer minha companhia e opções para aliviar as pressões", conta.
E um aviso importante: lembre-se que este momento, apesar de difícil, pode ser uma boa oportunidade para ensinar e aprender a se colocar no lugar do outro. Sempre que possível, converse com seu filho sobre o que ele está sentindo, o que está pensando disso tudo, deixe-o falar sem cobranças, seja empático. “Se seu filho disser que está complicado acompanhar alguma aula ou que está cansado, entenda, se solidarize. Afinal, não está sendo fácil para ninguém”, conclui Bárbara Calmeto.
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