Aventuras maternas: Por que isso? Por que aquilo? - Divulgação
Aventuras maternas: Por que isso? Por que aquilo?Divulgação
Por Priscila Correia
Quem tem filho sabe como, a partir de uma determinada idade, eles começam com mil questionamentos sobre tudo e nem sempre os pais estão preparados para responder de forma objetiva e sem passar mensagens preconceituosas ou mais confusas.

Para Talitha Nobre, psicóloga, psicanalista e coordenadora do Centro de Apoio à Família, do Grupo Prontobaby, as dúvidas fazem parte do processo de construção psíquica e do desenvolvimento pedagógico da criança e é natural que elas façam as perguntas aos pais, em quem elas confiam.
"O problema é quando os pais se sentem constrangidos, inseguros ou até ansiosos em responder as perguntas das crianças. Mesmo que seja um assunto difícil, é importante que encontrem um caminho de responder sem enganar os pequenos. A inquietação da criança ao fazer uma pergunta é apaziguada quando os pais conseguem responder", explica.

Ela diz, ainda, que respostas como “porque sim” ou “porque não” também podem causar um certo bloqueio, como se perguntar fosse errado. Então, agir com naturalidade e tentar responder as perguntas que são feitas numa linguagem que a criança compreenda é sempre o melhor caminho. Se ela está perguntando é porque, em alguma medida, está preparada para saber.

Além de serem honestos nas respostas, alguns pais se perguntam sobre até onde devem ir ao esclarecer algo. Bárbara Snizek Ferraz de Campos, psicanalista e especialista em saúde mental, diz que, geralmente, sugere que os pais procurem escutar as perguntas antes de se adiantarem nas respostas. “As crianças costumam construir suas perguntas, hipóteses e respostas aos poucos, passo a passo. Respostas muito elaboradas ou longas não costumam surtir efeitos, pois tendem a ir além do que a criança pode elaborar naquele momento. O recomendável é acompanhar a criança no processo de construção de suas descobertas e se mostrar disponível para responder questões a qualquer tempo”, esclarece.

A seguir, especialistas sugerem formas para responder algumas perguntas enviadas por pais leitores da coluna.

1. O que é sexo? Como se faz? Para que serve?

“Acredito que os responsáveis devam abordar o assunto sexo de forma leve, explicando que ocorre entre todas as espécies do planeta. Os bichinhos fazem sexo, os humanos também. É uma forma de se relacionar um com o outro e demonstrar o amor. E é fundamental dizer que criança nunca faz sexo, porque o corpo precisa crescer e desenvolver antes disso, e que, na hora certa, vão conversar sobre o momento exato para isso”. Vitor Friary, psicólogo, especialista em Terapia Cognitiva baseada em Mindfulness e Diretor Clínico do Centro de Mindfulness no Brasil.

“Depende da idade da criança. Mas tem um recurso muito bom que é levar a criança para um sítio e mostrar como isso acontece na natureza, como um peixinho faz, um pintinho, sempre de forma mais natural. Há materiais didáticos muito bons nessa linha também que ajudam a responder de forma simples e natural questões que os adultos acham complexas” - Leila Navarro, psicóloga e especialista em Medicina Comportamental.

2. Como o bebê entra na barriga da mãe?
Publicidade
“Falar sobre sexo pode ser embaraçoso para os pais, mas insisto em dizer que a verdade é sempre o melhor caminho. A história da cegonha um dia cai e a criança pode ficar com a sensação de que foi enganada. Então, explicar com cuidado e até de uma maneira lúdica pode ser um bom caminho, como, por exemplo, falar que “a sementinha do papai é depositada na mamãe, encontra a outra sementinha, e assim o bebê começa a se desenvolver na barriga...”. Sempre agindo de maneira natural e respondendo o que foi perguntado, sem ansiedade de se prolongar na explicação, expondo além do que foi perguntado” - Talitha Nobre, psicóloga, psicanalista e coordenadora do Centro de Apoio à Família, do Grupo Prontobaby.

3. Por que você e papai vão morar em casas separadas? Vocês não se gostam mais? Não são mais amigos? Por que papai está com uma namorada e você com um namorado se vocês são casados?

“O tema da separação deve obviamente ser tratado com honestidade e sensibilidade. A criança tem que saber, prioritariamente, que a despeito da separação, sempre terá um pai e uma mãe. O problema maior aqui é quando há um abandono de uma das partes, sendo mais comum ser por parte do pai. Se for uma separação amigável em termos civilizados, o ideal é que ambos mantenham coerência de discurso e ainda melhor se conseguirem conversar juntos com a criança. Em princípio, os pais deveriam entender que a separação é do casal, mas não dos filhos (as), embora um certo afastamento se estenda às crianças logo após a separação. Parece óbvio, mas é um detalhe sutil que faz enorme diferença se todos entenderem ao pé da letra o que isso significa. Os pais se separaram, vão ter casas diferentes, não vão mais ter convívio juntos, vão ter outra família, mas a criança não será separada deles. Irá viver com ambos, que continuarão sendo seus pais, amando aquela criança. No mundo ideal, mas possível, os pais prosseguirão conversando civilizadamente, com respeito e amor mútuo. É importante fazer a criança entender que o casal tem diferenças e chegou ao ponto de não conseguir mais morar junto para justamente continuarem a ter um bom relacionamento, pois juntos estavam se desentendendo, brigando; e separados irão todos viver melhor”. Kleber Maia Marinho, psicólogo analítico e responsável pela Clínica Psicologia e Psiquiatria Integradas.

“As crianças devem ser poupadas dos detalhes, problemas e sofrimentos que o casal estiver passando. Quem se separa na realidade é o casal, os pais sempre ficam juntos dentro da criança. Essa é uma noção importante para a criança saber. Seus pais continuam juntos como pais, dentro dela, e estarão presentes para ela. Somente o casal teve problemas e se separou, e pode vir a ter outros relacionamentos. Importante também colocar que essa separação nada tem a ver com a criança, ela não tem culpa de nada, e pode ficar tranquila quanto a isso. E os pais precisam aprender a se separar com amor, respeitando um ao outro, não colocando o filho no meio de seus problemas e muito menos fazendo “alienação parental” e tentando colocar o filho de seu lado contra o outro”. Roberto Debski, médico e psicólogo.

4. Eu vi um homem beijando outro homem (ou uma mulher beijando outra mulher). Por que ele beijou o outro moço?

“Dois rapazes e duas moças podem demonstrar seu amor e ternura assim como um rapaz e uma menina. O importante é que as pessoas reconheçam o que lhes fazem felizes, respeitando um ao outro. Devemos respeitar todas as formas de amor, e no tempo certo você também vai descobrir a sua forma individual de amar. O amor é lindo”. Vitor Friary, psicólogo, especialista em Terapia Cognitiva baseada em Mindfulness e Diretor Clínico do Centro de Mindfulness no Brasil.
5. O que são espíritos? Eles são bons ou maus?

“As respostas serão dadas de acordo com a crença ou ausência da crença em cada contexto familiar. O importante mesmo é sinalizar para a criança que a sua família acredita nisso e outras famílias podem acreditar em outras coisas. Isso é importante para que a criança não desenvolva preconceito ao se confrontar com outras realidades”. Talitha Nobre, psicóloga, psicanalista e coordenadora do Centro de Apoio à Família, do Grupo Prontobaby.

“Vale fazer a diferença entre os espíritos da religião espírita, que devem ser abordados se fizer sentido pela família, e os espíritos que podem causar uma fobia nas crianças e que devem ser abordados com calma e cautela pela família, sem que nunca sejam incentivados, pois condensam um ponto de angústia”. Bárbara Snizek Ferraz de Campos, psicanalista e especialista em saúde mental.

6. O que é morte? Para onde vamos? O que acontece com quem morre? Um dia vou encontrar com quem morreu?

“O que recomendo sempre é tratar todos os assuntos de forma natural (e morrer é natural, ninguém sairá daqui vivo). Tem gente que é contra levar criança em velório, eu já acho que faz parte e ajuda no entendimento da vida. Não precisa fazer isso de forma violenta e carregada, mas sutil, sem mentiras. Outra forma de explicar esse processo é usando os animais como exemplo, falando sobre algum caso que conheçam de um bichinho que tenha morrido. Se a criança perguntar pra onde vamos ao morrer, eu sou da linha que se deve falar naturalmente do que acreditamos. Algumas acreditam em reencarnação, outras não. Essa é uma oportunidade importante que os pais têm de passar alguns dos seus valores”. Leila Navarro, psicóloga e especialista em Medicina Comportamental.

7. Por que tem gente morando na rua?

“A questão da pobreza é causada por vários problemas. Há pessoas que tiveram problemas de família, de relacionamentos, e adoecem mentalmente, das emoções, e acabam indo morar na rua. Há questões referentes ao profissional, à economia, que gera pobreza, e os governos não conseguem resolver adequadamente esses problemas. E que quanto mais um país se desenvolver, olhar e cuidar das pessoas de uma maneira justa e saudável, com liberdade e oferta de trabalho, menos pessoas passarão por essas dificuldades”. Roberto Debski, médico e psicólogo.

8. Por que a outra criança fala estranho (se referindo a crianças com Trissomia 21 ou Autismo)?

“Trabalhar a tolerância e respeito começa em casa. Dizer que as pessoas são diferentes e têm habilidades e necessidades diferentes é fundamental para trabalhar a diversidade. Dizer que precisamos respeitar cada coleguinha do jeitinho que ele é faz total diferença em como as crianças vão se comportar diante das diferenças na escola e na sociedade” - Talitha Nobre, psicóloga, psicanalista e coordenadora do Centro de Apoio à Família, do Grupo Prontobaby.