Leitura como caminho alternativo para as crianças Divulgação
Por Priscila Correia
Publicado 22/11/2020 11:56
Rio - Desde que a tecnologia entrou na vida das pessoas, o uso prolongado de telas se tornou uma preocupação para a saúde. E quando essa prática passou a ocupar o tempo das crianças também, não faltaram especialistas alertando sobre o perigo de ficar muito tempo de frente para tablets, celulares e monitores em geral. Entretanto, com o passar dos meses da pandemia, as aulas online, a necessidade de se comunicar com amigos e familiares e sem quase nenhuma opção de entretenimento exterior, muitos pais que antes se desdobravam para evitar que os filhos ficassem de olho nas telas, se renderam e deixaram os pequenos navegarem com menos controle.
Não há como negar que o isolamento impôs alguns hábitos, como uma alimentação mais desregrada, falta de exercícios, mudança na rotina do sono etc. Algumas dessas mudanças acabaram sendo “aceitas” por profissionais de saúde. Afinal, ninguém esperava por algo como o que está sendo vivido atualmente. Entretanto, as recomendações e cuidados com o uso de telas por crianças e adolescentes continua o mesmo, ou seja, evitar o uso precoce, prolongado e excessivo – inclusive, no último dia 11, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lançou um vídeo informativo sobre o assunto (https://www.youtube.com/watch?v=eO_RMv-50JE&feature=youtu.be), estrelado pela personagem animada VeVê, que, de maneira didática e lúdica, destaca algumas dicas para um uso mais saudável de aparelhos tecnológicos.
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Para Patrícia Rezende, pediatra do Grupo Prontobaby, encontrar um ponto de equilíbrio entre atividades dentro e fora das telas não é tarefa fácil. “É difícil a gente falar para os pais estimularem atividades fora das telas, quando o que vemos hoje em dia é que os próprios pais ficam basicamente em atividades na tela. Então, o melhor jeito de estimular os filhos a reduzirem esse uso, é ficando fora delas você também. Se os pais realizarem atividades fora das telas com as crianças, elas terão mais interesse. Isso é importante para o desenvolvimento das crianças, para manter os laços entre pais e filhos e, principalmente, para que tenham momentos bons, nessa rotina em que vivemos de pandemia”, explica.
Entretanto, pensar em uma rotina em que todos fiquem sem acesso a esses aparelhos é praticamente uma utopia. “O uso da tecnologia é um ponto sem volta na nossa sociedade. Não podemos ir contra a tecnologia. Porém, temos que saber dosar a quantidade e qualidade. Pais podem liberar a exposição às telas, contanto que incentivem atividades em conjunto com os filhos. Pode ser um momento de brincadeira, de cozinhar juntos, de ler algum livro. Tente encontrar algum ponto em comum entre vocês, alguma atividade que seu filho se interesse e tenha esses momentos juntos, vai ser muito importante para vocês dois”, complementa. E mais: ainda que as crianças usem telas pelo tempo recomendado, a cada 45 minutos de uso de tela, a criança deve ter 15 minutos de descanso para os olhos. Além disso, deve-se evitar usar tela à noite por causa da luz azul.
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Já Gesika Amorim, pediatra e neuropsiquiatra com ênfase em saúde mental e neurodesenvolvimento infantil, esclarece que, acima de tudo, é preciso o bom senso. “Existe a obrigatoriedade das telas nesse momento para atividades escolares e não deixamos também de enaltecer a importância das telas para as questões afetivas, de aproximação daqueles que estão longe. Isso tudo é muito importante. O que não pode acontecer é o abuso do tempo de virtual, do tempo do uso dessas telas e isso se tornar ou evoluir para uma dependência”. Perguntada sobre como os pais podem integrar os gostos dos filhos nas telas e fora delas, ela lembrou de uma questão bastante importante: o fato de que, geralmente, adolescentes e pré-adolescentes têm uma tendência ao isolamento, ao fechamento.
“Eles gostam de ficar nesse mundo virtual e é extremamente sedutor, mas esse é o momento de aproveitar que a família também está dentro de casa para apresentar novos prazeres: filmes, brincadeiras, tudo isso pode ser feito. Além disso, nós estamos no momento de abertura, então, por que não os passeios em família? É preciso ter também horários com atividades que podem ser jogos de tabuleiro. Além disso precisam ser apresentadas as prática de esportes junto os pais, bicicleta, pedal tudo isso tem crescido muito nesse momento.
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Renata Aguilar, neuropsicopedagoga, educadora e desenvolvedora de conteúdo educacional para o Grupo Super Cérebro, faz, ainda, um alerta. “O grande segredo é as famílias compreenderem que este é um momento único e diferente para todos. Ninguém nunca havia passado por esta experiência. Escolas, alunos, professores e famílias tiveram que se adaptar a um confinamento familiar. Que o excesso de tela é prejudicial isto é fato, e neste momento cabe às famílias perceberem que seus filhos precisam de um novo olhar. Colocar a criança frente à tela pode trazer um certo “conforto” aos pais, pois a mesma fica quieta e acaba não atrapalhando quem está no home office. Mas é preciso ter clareza do que está acontecendo. As crianças estão interagindo com as telas ao invés dos amigos. E isto pode trazer muitos danos cognitivos, sociais e até alimentares. Passam a comer além do necessário, não praticam exercícios físicos e muitos estão dando sinais de depressão”.
E mais: “o maior equilíbrio está nas famílias manterem maior diálogo com as crianças e proporem atividades simples para entretê-los e, ao mesmo tempo, estimular habilidades importantes para o desenvolvimento da criança. Nunca os pais tiveram tanto contato com os filhos. Isto cabia a escola em tempo integral. Alguns delegavam a função aos avós e às babás. Agora, alguns pais se veem de frente com esta nova função de “educar” seus filhos, perceber como se comportam, como se alimentam, conversam e brincam. Isto pode ser muito saudável se os pais organizarem seu tempo com atividades com os filhos. Não é preciso passar o dia inteiro proporcionando atividades, mas a qualidade deste tempo deve ser mantida”, complementa Renata.
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Leitura como um caminho alternativo
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Que a leitura é capaz de transportar as pessoas para diferentes universos, todo mundo já sabe. Mas, para as crianças, especificamente, o contato com os livros vai além, ajudando no desenvolvimento psicomotor, cognitivo e intelectual dos pequenos. E esse hábito, certamente, é um dos que deve ser incentivado pelos pais na hora de convencer os filhos a largarem as telas.
A pediatra da Prontobaby explica que a leitura feita por um adulto pode estimular as crianças a não focarem tanto nas telas, principalmente quando o adulto vai envolvendo os menores na história, teatralizando. “Isso ajuda a estimular a imaginação e a curiosidade das crianças”, pontua. Além disso, outra dica interessante é usar assuntos que chamem a atenção das crianças para trazer para o universo literário. “Existem livros sobre músicas ou desenhos animados que podem estimular a criança já que é do interesse delas”, complementa.
Para a pedagoga Claudia Onofre, da Dentro da História, plataforma de livros personalizáveis, embora muitos usem telas para ler histórias, o ideal é que o hábito da leitura vá além dos aparelhos e que os pais utilizem os livros para criar esse momento lúdico que, além de educar, ajuda a criar uma relação mais próxima entre pais e filhos. Assim como Patrícia, ela acredita que uma boa dica é observar o que os pequenos gostam de ver nas telas e utilizar essa informação para estimular o gosto pelos livros. "Conhecer o que atrai a criança ajudará neste trabalho de migração das telas para as páginas impressas. Há muitos livros que fazem uso de personagens famosos, mas que exploram o lado didático na história. Se a criança adora assistir desenhos de dinossauros, com certeza ela se sentirá mais atraída se o livro trouxer esse tema. E consequentemente, aprenderá de forma mais rápida e prazerosa", conta Claudia.
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Além de livros impressos com personagens famosos das telas e outras histórias que atraem a garotada, a plataforma ainda tem a opção de incluir um avatar dos pequenos em algumas publicações impressas, para que ela se sinta, literalmente, parte da história. "É uma maneira de envolver ainda mais a criança na leitura”, esclarece.
Em tempo: “Muitas famílias, mesmo no momento de lazer, estão frente aos smartphones. O ideal é que os pais aproveitem este tempo para conversar com os filhos, ensiná-los a organizar seu guarda-roupa, seus brinquedos, olhar álbum de fotos, preparar um lanchinho juntos, fazer cabana com lençol, piquenique no quintal. Até ajudar nas tarefas da casa, dependendo da idade da criança é benefício garantido. É possível afastar as crianças da tela 24 horas do dia? Não. Mas é preciso, sim, controlar este tempo. E isto é uma tarefa que a família tem que ter”, conclui Renata Aguilar, do Grupo Super Cérebro.