MATRIARCAS DO SAMBA: Geisa Ketti, Nilcemar Nogueira, Vera de Jesus e Selma Candeia (D) DIEGO MENDES
Publicado 25/07/2021 00:00
Elas trazem o samba no DNA e suas histórias familiares ajudaram a compor a história da MPB e da cultura popular. Descendentes diretas de uma ilustre linhagem de sambistas, elas decidiram se unir nos palcos e criaram o grupo Matriarcas do Samba. Vamos conhecer um pouco mais sobre esses mulherões?
NILCEMAR NOGUEIRA tem 62 anos, é neta de Cartola, doutora em psicologia social, mestra em bens culturais, ex-secretária de cultura do Rio de Janeiro e fundadora do Museu do Samba. Coordenou a pesquisa que levou ao registro do samba do Rio como Patrimônio Cultural do Brasil.
Qual a importância de manter as raízes do samba vivas?
O samba é o nosso modo de viver, é a principal identidade cultural do carioca e do Brasil, então ser uma guardiã desse legado não é pouca coisa, significa preservar o modo de expressão do povo brasileiro. Que o Brasil comece a ser um país antirracista, que combata o preconceito e a desvalorização da cultura de matriz africana.
Qual recado você deixaria para nossas leitoras?
Parafraseando Dona Ivone Lara: meu lugar é onde eu quiser estar. Portanto acredite em você e na sua capacidade de materializar seus sonhos.
 
GEISA KETI tem 58 anos, é filha de Zé Keti, formada em jornalismo e atua como produtora cultural. Se dedica a preservar o legado cultural do pai e fundou o Ponto de Cultura Zé Keti, no Engenho da Rainha. Entre os anos de 1995 e 1999 foi produtora de shows do próprio pai.
Como está sendo o projeto Matriarcas do Samba?
Estou entusiasmada. Fortalecer a presença da mulher no samba e preservar e difundir a história de nossos pais para as novas gerações um privilégio. Me acostumei a cantar 'Sem compromisso' em rodas de samba da cidade e hoje tenho planos de incluir canções quase inéditas de Zé Keti nas apresentações. Papai compôs 'Quero Morrer na Portela' e 'Clementina de Jesus' no vale dos orixás para projetos muito específicos e por isso as músicas são desconhecidas do grande público. É hora de tirá-las do baú.
 
VERA DE JESUS tem 60 anos, é neta de Clementina de Jesus e se lançou na carreira de cantora em 2015, interpretando sucessos da "rainha do partido alto" e composições próprias. Ela também é cabeleireira, já trabalhou como telefonista e recepcionista e hoje vive do samba. Quando jovem, chegou a dar tímidas palinhas em shows de sua avó, mas achava que não seria cantora.
O que falta para que o samba e a cultura negra tenham reconhecimento?
Ter igualdade de condições. É preciso ver a mulher preta e cantora de samba ter mais reconhecimento e oportunidades, precisamos vencer essa barreira que ainda existe. O samba é símbolo da resistência da cultura negra e nós que somos mulheres negras, temos que dar continuidade às nossas raízes e tradições, levando adiante o legado de nossas famílias com muito respeito e muito amor.
 
SELMA CANDEIA tem 62 anos e é filha do mestre Candeia. Ela é cantora e coordenadora do Grêmio Recreativo de Arte Negra Escola de Samba Quilombo, agremiação fundada por seu pai em 1975. A artista decidiu se tornar cantora como forma de preservar o legado de seu pai.
Você se acha um mulherão?
Sim, me considero uma mulher forte, guerreira e objetiva nos meus ideais!
O que ainda falta para a valorização da cultura negra?
Priorização dos governantes. Como dizia meu pai: Um país que não preserva sua cultura jamais será uma nação! Ser mulher negra é uma luta diária pelo respeito dentro da sociedade, ocupando os espaços negados para nós, mulheres. Que estejamos unidas em todos os aspectos, racial, cultural e gênero. E que nossa luta seja valorizada e respeitada.
Show
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O grupo faz o primeiro show no dia 6 de agosto, às 19h30, no Teatro Rival Refit. A apresentação terá uma participação especial de Tia Surica. No repertório, clássicos como 'A Voz do Morro', 'Alvorada', 'Preciso me Encontrar' e 'Não Vadeia, Clementina'. Além de sucessos de Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Luiz Carlos da Vila e Xande de Pilares.
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