Eu sou Luciana Gimenez e partir de hoje teremos esse espaço para bater um papo e falarmos o que der na telha. Então, desde já te digo: é tudo nosso e a opinião de vocês é muito importante para os próximos temas.
Acabamos de comemorar o Dia Internacional da Mulher. A grande pergunta é: há o que se comemorar?
Não há como negar que evoluímos muito. Finalmente estamos tendo direito à fala e tendo destaque na sociedade. Passamos de figura ilustrativa para ponto chave. As mulheres que deram suas vidas para começar essa revolução feminista com certeza estão orgulhosas de todas nós. A estrada é longa, mas isso não importa, somos perseverantes.
O feminicídio nunca esteve tão em evidência, nunca foi tão falado e tristemente, nunca foi tão praticado.
São Lucianas, Marias da Penha, Joanas, Priscilas, Joselitas, Tamires e muitas outras. Somos mulheres que aprendemos que não podemos baixar a cabeça e nos calar quando nos mandam, pois a nossa verdade e o direito de ocupar um espaço que é nosso, incomodam. Muitas vezes para lutar por esse espaço somos expostas aos mais diversos tipos de perigo.
Milhares de trabalhadoras acordam às 5h da manhã e ainda à noite se arriscam por vielas e ruas deste país para garantir o sustento de sua família. Mas ao mesmo tempo que somos fortes, estamos à mercê de todo tipo de violência ou "brincadeirinhas".
Mesmo sendo uma pessoa pública, não estou livre de homens que se acham no direito de me abordarem no direct do meu Instagram com mensagens do tipo: "você é uma gostosa, me manda um nude", comentando sobre partes do meu corpo e, acreditem, até assediadores descrevendo coisas que gostariam de fazer comigo.
É uma sensação nojenta, de terror, de impotência. Já pensei mil vezes em fechar ou acabar com meu Instagram, mas me questiono: por que eu tenho que me privar e me "esconder" enquanto esses canalhas (muitas vezes casados) continuam por aí, fazendo o que fazem comigo e com outras mulheres?
Até quando vamos ter que suportar isso? Até quando agressores sairão impunes? Até quando ouviremos frases como: "mas ela provocou" ou “ela estava de roupa curta”?
Nada justifica um tapa, quanto mais um espancamento. As leis precisam ser revistas para se tornarem mais duras aos agressores e assediadores. Nós, mulheres, precisamos denunciar sem o medo de sermos julgadas e humilhadas em delegacias. Nossos gritos não podem ser de dor, e sim de liberdade.
Nossos filhos devem ser criados com a consciência de que não têm direito de agredir ninguém, muito menos a uma mulher! Eles não podem tocar o corpo de uma mulher sem seu consentimento e suas palavras não podem constranger a figura feminina.
O Brasil ocupa o quinto lugar no ranking em mortes violentas de mulheres no mundo, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os direitos humanos.
Os números são assustadores, já que mais de 1.6 milhões de mulheres foram espancadas ou sofreram tentativas de estrangulamento no Brasil. E não para por aí, já que mais de 22 milhões de mulheres no Brasil sofreram algum tipo de assédio no último ano.
Os dados fazem parte de um levantamento do Datafolha encomendado pela ONG Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) para avaliar o impacto da violência contra as mulheres no Brasil.
Esses dados são de doer no fundo da alma, mas ao mesmo tempo me impulsionam a fazer cada vez mais, a me envolver profundamente, a estar aberta para ajudar àquelas que precisam e trazer à tona tudo aquilo que muitas vezes a sociedade quer esconder. Ou simplesmente como se diz no dito popular: tapar o sol com a peneira.
Já fui assim, mas todo dia me policio para fazer a diferença. Todo dia me questiono que tipo de homens estou criando para o futuro. E posso dizer que até o momento estou muito orgulhosa do meu trabalho com o Lucas e o Lorenzo. Não sou perfeita e já errei, mas aprendi que conscientização e encarar de frente o problema fazem parte da solução.
Hoje não foi comigo, mas ser mulher é viver com a eterna pergunta: e amanhã?