A encenação ainda homenageia os 15 anos da Cia dos Comuns e os 40 anos de carreira artística de Hilton Cobra. A história começa logo após a morte de Lima Barreto, quando os eugenistas exigem a exumação do seu cadáver para uma autópsia e para descobrir como um cérebro inferior poderia ter produzido tantas obras literárias - romances, crônicas, contos, ensaios e outros alfarrábios - se o privilégio da arte nobre e da boa escrita é das raças superiores.
A partir desse embate com os eugenistas, a peça mostra as várias facetas da personalidade e da genialidade de Lima Barreto, sua vida, família, a loucura, o alcoolismo, sua convivência com a pobreza, sua obra não reconhecida, racismo, suas lembranças e tristezas.
A narrativa ganha força com trechos dos filmes “Homo Sapiens 1900” e “Arquitetura da Destruição” – ambos cedidos gentilmente pelo cineasta sueco Peter Cohen. O cenário, de Marcio Meirelles – um verdadeiro manifesto de palavras, contribui para a força cênica juntamente com o figurino de Biza Vianna, a luz de Jorginho de Carvalho e Valmyr Ferreira, a música de Jarbas Bittencourt, a direção de vídeo do cineasta David Aynnan e a direção de movimentos do coreógrafo Zebrinha.
O ator Lázaro Ramos e os atores Frank Menezes, Harildo Deda, Hebe Alves, Rui Manthur e Stephane Bourgade emprestam suas vozes para a leitura em off de textos de apoio à cena.
Segundo o dramaturgo Luiz Marfuz, trazer Lima Barreto para o debate foi um desafio, já que se trata de um Lima idealizado. “Ele sempre se colocou como um escritor militante e isso é nitidamente visível não só nos romances, mas nas inúmeras crônicas em que defendeu suas ideias humanistas com fortes doses de anarquismo e socialismo”.
Marfuz acredita que a arte cria um espaço para que Lima, após uma vida marcada pelo alcoolismo, indigência e discriminação racial, retorne com a consciência para defender suas ideias. O projeto de montagem teatral de “Traga-me a cabeça de Lima Barreto”, da Cia dos Comuns, foi contemplado com o Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz, em 2015. A peça é um drama com classificação de 16 anos, duração de 60 minutos e o Teatro Firjan SESI Duque de Caxias fica na Rua Arthur Neiva, 100.