O maior número de leitos — com a abertura recente de 40 no Hospital Municipal São José e mais 56 previstos no Dr. Moacyr Rodrigues do Carmo — foi um dos argumentos para a Prefeitura de Duque de Caxias liberar estabelecimentos comerciais e academias a partir de hoje. Ainda assim, a evolução da covid-19 no município tem preocupado movimentos da Baixada Fluminense. Somente nos 20 primeiros dias do mês de maio, o número de casos confirmadas da doença praticamente triplicou, e de suspeitos aumentou mais de mil.
Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde, Duque de Caxias contabilizou 425 casos de covid-19, com 72 mortes, no dia 30 de abril. Em 20 de maio, os doentes confirmados passaram para 1.161, com 157 óbitos. E o crescimento de casos suspeitos foi ainda maior: de 706 para 1.750.
Números que deixam em alerta a articulação "Corona na Baixada", que conta com várias organizações da região. Elas pediram ajuda ao Ministério Público Federal e à Defensoria contra o novo decreto. Coordenador de mobilização da Casa Fluminense, Douglas Almeida não vê condições para reabertura do comércio.
"Apesar do apelo de parte da população, o executivo tem que preservar a saúde, mesmo que seja com medidas impopulares. É preciso que se tome decisões baseadas em dados científicos. A cidade não pode ser uma ilha na Baixada, e essa decisão pode sobrecarregar os vizinhos, visto que moradores de outras cidades podem se dirigir a Caxias, onde o comércio está aberto, aumentando a circulação na região", analisa Douglas.
Um dos problemas apontados é a subnotificação de casos de covid-19, o que impede saber a real situação do município. O aumento da testagem, o que não vai acontecer, é visto por lideranças da Baixada como peça importante no processo de reabertura do comércio. Além disso, a falta de fiscalização nos últimos dois meses também é considerado decisivo para ser contrário à abertura, ainda mais com várias exigências, como a utilização de máscaras e álcool em gel, além do limite de 30% da capacidade do estabelecimento.
"Nós, do Fórum Grita Baixada, entendemos essa abertura como algo precipitado e na contramão das medidas de distanciamento social. Se a prefeitura mal consegue fiscalizar a abertura do comércio não essencial, como vai fiscalizar que funcionem com 30% da capacidade e que disponibilizem álcool em gel e máscaras? Quais são os dados objetivos na saúde que justificam essa abertura? A pressão do comércio e o financiamento da disputa eleitoral parece prevalecer em relação à saúde da população", critica Adriano de Araújo, do Fórum Grita Baixada.
NÃO VOLTAM
No mesmo decreto que permitiu a reabertura do comércio, o prefeito Washington Reis (MDB) ampliou a suspensão do funcionamento de cinemas, teatros, piscinas, clubes e eventos públicos até 31 de junho. Já as escolas continuarão sem aulas até o dia 15.