Por thiago.antunes

Rio - Os médicos dizem que quando uma pessoa recebe o diagnóstico de que tem câncer, a primeira reação é de negação, de incredulidade, de achar que não merece, que não é justo ter sido “escolhido”. Embora seja doença terrível, em boa medida, com tratamento adequado, muitos conseguem se curar e corrigem hábitos e estilo de vida, que de alguma forma contribuiu para a enfermidade.

As finanças do governo estado e a situação do funcionalismo e dos inativos pode ser comparada a um câncer. No início ninguém acredita que o diagnóstico esteja certo. Com o passar do tempo e constantes sintomas de atraso de salários e interrupção de serviços por falta de insumos e de pagamento a fornecedores, a ficha cai aos poucos.

Estamos na fase da aceitação e da percepção de que as medidas até agora tomadas são paliativas e pouco eficazes na prática. Neste mês, o endividamento do Rio ultrapassou a 200% do PIB. A tentativa de enxugar a máquina e economizar 30% nos gastos de custeios das secretarias, promover o corte de cargos comissionados e contingenciar contas de manutenção da máquina, embora sejam medidas duras, não foram suficientes.

Os dados de corte de cargos comissionados não são conclusivos, existindo diferentes números, que mostram que a diminuição na quantidade levou a redução de menos de 3% no valor despendido. Os gastos de custeio mostram corte de 18%, logo abaixo da meta de 30%.

Analisando o valor total da folha salarial do estado, quando se considera os servidores ativos, aposentados e pensionistas, o governo conseguiu, em cinco meses, diminuir em R$ 10 milhões os custos. Isso representa queda de apenas 0,48%. Agora o governo defende que a extinção de cinco secretarias produzirá redução mais expressiva.

É preciso reconhecer que o governo tenta uma solução, mas o tratamento para o câncer das finanças está longe da cura. Para isso é preciso mudar completamente hábitos e objetivos de vida, como qualquer paciente que quer sobreviver com qualidade. É preciso reinventar o estado.

Gilberto Braga é professor de Finanças do Ibmec e da Fundação Dom Cabral

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