São Paulo - A Embraer e a Boeing anunciada na manhã desta quinta-feira um acordo para criar uma nova empresa (joint venture) que deve ser fechado até o final de 2019. Essa é a expectativa das companhias, em comunicado em conjunto, frisando que se as aprovações ocorrerem no tempo previsto, a conclusão se dará entre 12 a 18 meses após a execução dos acordos definitivos.
Conforme o acordo, a Boeing deterá 80% e a Embraer, 20%, em uma operação avaliada em US$ 4,75 bilhões - dos quais a Boeing pagará US$ 3,8 bilhões. Após os acordos definitivos, a parceria estará, então, sujeita a aprovações regulatórias e de acionistas, incluindo o governo brasileiro que detém uma ação especial (Golden share).
A Boeing terá o controle operacional e de gestão da nova empresa formada com a Embraer no segmento de aviação comercial. "Ao formarmos essa parceria estratégica, estaremos muito bem preparados para gerar valor significativo para os clientes, empregados e acionistas de ambas as empresas - e para o Brasil e os Estados Unidos", afirma o presidente, chairman e CEO da Boeing Dennis Muilenburg. Uma vez consumada a transação, será formada a equipe de gestão, sediada no Brasil, incluindo um presidente e CEO, com reporte diretamente a Muilenburg.
A Boeing considera que a nova sociedade se tornará um dos centros de excelência para o desenvolvimento de projetos, fabricação e manutenção de aeronaves comerciais de passageiros, e que ambas estarão aptas a oferecer uma linha "abrangente e complementar" de aeronaves de passageiros de 70 a mais de 450 assentos, além de aviões de carga. O comunicado lembra que são mais de 20 anos de colaboração entre Boeing e Embraer.
"Esse acordo com a Boeing criará a mais importante parceria estratégica da indústria aeroespacial, fortalecendo ambas as empresas e sua posição de liderança do mercado mundial", declarou o presidente e CEO da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva na mesma nota. "A combinação de negócios com a Boeing deverá gerar um novo ciclo virtuoso para a indústria aeroespacial brasileira, com maior potencial de vendas, aumento de produção, geração de emprego e renda, investimentos e exportações, agregando maior valor para clientes, acionistas e empregados".
Empregos
Detentor de uma ação especial ("golden share") da Embraer que lhe dá direito a veto em decisões importantes, o governo brasileiro estabeleceu que, além da exclusão da área de defesa no negócio, a manutenção dos empregos será uma das principais diretrizes para aprovar a criação da nova companhia. Na lista das questões estratégicas definidas por Brasília como essenciais para o negócio está, ainda, a capacidade de desenvolvimento tecnológico.
Um auxiliar do presidente Michel Temer disse que é preciso "juntar dois interesses e encontrar pontos de convergência. Segundo ele, a preservação de empregos "tão qualificados", num momento como esse, é uma questão "estratégica". A garantia de suprimento e a manutenção de peças das aeronaves também são vistas como primordiais para o negócio.
A preocupação do Palácio do Planalto, porém, é não passar a mensagem de interferência nas negociações. O assunto é tratado como sigiloso por causa da repercussão sobre as ações da Embraer na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo. Na quarta-feira, 04, após as notícias de que o acordo entre as companhias está próximo de ser fechado, as ações da Embraer fecharam o dia com alta de 4,35%.
O interesse da Boeing é reforçar, com a aquisição, sua atuação na aviação comercial de médio porte, segmento no qual a Embraer é líder. O acordo, que envolve, por exemplo, a fabricação de aviões de 150 lugares, está em negociação desde o ano passado, quando a Airbus surpreendeu o mercado global ao anunciar a compra de 50,1% do programa de jatos comerciais da canadense Bombardier, que concorre diretamente com a Embraer.