Rio,01/02/2019 - Silueta - Silueta, Rio de Janeiro.Foto: Armando Paiva/ Agência O Dia  Economia - Armando Paiva
Rio,01/02/2019 - Silueta - Silueta, Rio de Janeiro.Foto: Armando Paiva/ Agência O Dia EconomiaArmando Paiva
Por MARTHA IMENES

Rio - O desencontro de informações e a falta de funcionários nos postos da Previdência no Rio fez a vida de dois segurados do INSS virar uma verdadeira via crucis. De um lado o instituto, que desde a implantação do Meu INSS no início do ano passado tem prometido atender as demandas com agilidade, do outro os segurados que amargam longas esperas para concessão de benefício - no Rio leva até 174 dias-, ou até mesmo um simples agendamento, não é feito pela plataforma.

A alternativa então seria ir ao posto da Previdência e falar com um servidor, certo? Errado. Em dois casos que O DIA teve acesso, não bastasse a "instabilidade" do sistema, dois trabalhadores reclamaram da falta de servidores e obtiveram orientações que não correspondem ao trâmite do INSS.

Em um dos casos, Jorge Delgado, de 58 anos de idade e 35 de serviço, morador de Marechal Hermes, foi mais de uma vez ao posto da Previdência para dar entrada na aposentadoria por tempo de contribuição e até agora, passados quase três meses, vê na página do Meu INSS a resposta "em análise".

Os problemas do segurado vão um pouco além da espera. Em novembro passado, ele agendou atendimento no posto da Praça da Bandeira e munido de todos os documentos e comprovantes de tempo de serviço, inclusive o certificado de alistamento militar, compareceu no dia e hora marcados. "Levei um susto quando a funcionária me disse que a identidade não servia porque tinha mais de dez anos. Não tem isso escrito em nenhum lugar no site", reclama. Após conseguir retirar outra identificação no Detran, Jorge, já de posse do documento, remarcou o atendimento na agência previdenciária, que ocorreu um mês depois do primeiro atendimento.

"Tudo certinho com os documentos, contagem do tempo de serviço permitiu que eu desse entrada na aposentadoria", conta Jorge Delgado. Mas, segundo o segurado, na hora de finalizar o serviço, o sistema ficou inoperante. "A moça do atendimento me disse pra não ficar preocupado, que ela daria entrada no pedido assim que o sistema voltasse a funcionar. Dois dias depois ela me ligou informando que estava tudo certo e que a data de entrada foi a do dia do atendimento", diz Jorge, que acrescenta que obteve a informação de que a aposentadoria seria concedida em no máximo três meses.

Mas não é isso que está acontecendo com o trabalhador. De acordo com o INSS, as aposentadorias por tempo de contribuição saltaram de 90 dias para 146 dias para serem concedidas. Já as por idade passaram de 90 para 174 dias. Enquanto isso, Jorge verifica o site diariamente na esperança de ter seu benefício concedido. "Pensava que iria me aposentar no prazo que me deram e fico sem resposta, estou ansioso, estressado. Tenho aluguel para pagar e agora estou com medo do que pode acontecer. Toda hora é uma coisa diferente no INSS", lamenta.

Auxílio-doença

A dificuldade para deixar de receber o auxílio-doença fez com que Luiz Antonio Almeida, de 45 anos, morador da Tijuca, tem provocado muita dor de cabeça ao segurado. Em auxílio-doença desde 1º de janeiro, por conta de um acidente doméstico, Luiz foi afastado do trabalho pelo médico perito do posto da Previdência na Rua Uruguai, na Tijuca, até o dia 28 de fevereiro. Mas, no último dia 28, o segurado retirou imobilização e recebeu alta do ortopedista. Ou seja, ele está apto a voltar a trabalhar. 

Ocorre que na terça-feira, ao se dirigir ao posto para requerer a alta e retornar ao trabalho, o segurado "deu de cara na porta". "Fui informado que o médico perito estava de férias até 11 de fevereiro e não havia substituto, por isso eu só conseguiria ter a alta a partir deste dia", conta Luiz. E acrescenta: "Ainda na mesma agência fui informado por um funcionário que eu poderia tentar a alta em outra agência. Mas quando cheguei no posto da Rua São Francisco Xavier, o perito também estava de férias."

Por sua conta e risco, e como esse serviço não necessita de agendamento, o segurado foi até a agência que fica na Av. Nossa Senhora de Copacabana. "Depois de uma hora e meia fui atendido por um servidor e ele me informou que eu só poderia dar entrada na alta médica na mesma agência que iniciei todo o processo de auxílio-doença acidentário".

"Quero voltar a trabalhar, sei que meus colegas de trabalho ficaram e estão sobrecarregados pela minha ausência, mas não posso regressar porque o perito está de férias e preciso que ele volte devidamente descansado para, enfim, me atender", dispara.

"Depois de muitas tentativas, consegui falar com a central 135 e fiz uma reclamação sobre a falta de informação e de funcionários. Não é possível esse  descaso", afirma. Antes de conseguir falar com o 135, Luiz tentou registrar uma reclamação no site do INSS, mas ele permaneceu "instável" durante todo dia.

Respostas do INSS

Questionado sobre a perícia médica, o instituto informou ao DIA que "a cidade do Rio de Janeiro dispõe de diversas unidades do INSS, que contam com um quadro de profissionais da área médico-pericial para atender a demanda e não há impeditivo para que a perícia médica seja realizada em qualquer das agências do município, nos casos daqueles segurados que vão se submeter ao exame pela primeira vez." Já acerca da instabilidade do sistema, afirmou que "em relação às inconsistências no site do INSS, Meu INSS e na Central 135, esclarecemos que até o momento não há registros de problemas em nenhum dos sítios eletrônicos, nem na Central de Teleatendimento que venham a causar qualquer transtorno ao segurado. A dificuldade no acesso ao atendimento pode ter sido pontual". 

Sobre a demora na concessão o instituto disse que tem "trabalhado arduamente para prestar um serviço de qualidade aos beneficiários. Nesse sentido, diversas medidas vêm sendo adotadas nos últimos meses, tais quais a implementação do processamento automático de benefícios das espécies: aposentadoria por idade; tempo de contribuição e salário-maternidade. A ideia é que, em futuro breve, outros benefícios possam ser concedidos de forma mais célere com a concessão automática".

Mas sobre a alta médica, como no caso do segurado, e sobre a contratação de pessoas para dar conta da demanda, o INSS não se pronunciou até o fechamento desta edição.

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