Telma, Berta e Maria Antonia: aposta no mercado externo para crescer - Viviane Faver/Agência O Dia
Telma, Berta e Maria Antonia: aposta no mercado externo para crescerViviane Faver/Agência O Dia
Por VIVIANE FAVER
NOVA YORK (EUA) - As pedras brasileiras se destacam em joias produzidas por mulheres brasileiras e “desfilam” em Nova York, para encantamento dos norte-americanos, que veem nas peças a oportunidade de ter um produto que alia beleza, pedras de alto valor e metais nobres, como ouro e prata, e o mais importante: são exclusivas. E para dar espaço a essa beleza produzida por brasileiras, no final de abril, a Cidade da Maçã sediou a exposição Collect Brazilian Jewelry, que ocorreu na galeria One Art Space, em Tribeca, Manhattan.
O evento teve a participação de 20 mulheres joalheiras de diferentes partes do Brasil, que mostraram sua produção e experimentaram a arte de fazer negócios no setor de joalheria no mercado internacional. A exposição teve como tema Empoderamento da Mulher e exibiu peças criadas especialmente para o evento compostas com o melhor do ouro, prata e pedras preciosas brasileiras.
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Dorine Botana, de São Paulo, curadora e organizadora do evento, conta que criou o coletivo Collect Brazilian Jewelry com intuito de juntar grupos de designers brasileiros e mostrar uma joalheria autoral fora do Brasil. É importante destacar que as peças exclusivíssimas são produzidas com esmeraldas, rubis, pérolas, diamantes, entre outras, além de ouro e prata. Ou seja, quem comprar uma das joias não corre o risco de encontrar uma “gêmea” por aí.
“O designer brasileiro é muito criativo e diversificado, por isso muito bem apreciado e aceito tanto na Europa como nos Estados Unidos”, avalia Dorine, que em 19 anos já produziu eventos na Suécia, França, Dinamarca, Hungria, República Checa, Itália, Espanha e Portugal.
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Uma janela de oportunidades
E não é hoje que as joias brasileiras são muito bem reconhecidas em países estrangeiros. Esse fator somado à crise no Brasil favorece a ideia de investir em exposições nos grandes centros como Nova York. Para se ter uma ideia, o Brasil está no ranking dos 15 maiores produtores de peças em ouro, com um total de 22 toneladas de joias criada e comercializadas, segundo dados apurados pelo Instituto Brasileiro de Gemas e Materiais (IBGM), que agrega 261 indústrias ligadas ao mercado de joias.
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Montar uma exposição com objetivo de alavancar negócios e reconhecimento em Nova York não é tarefa fácil. Dorine explica, com exclusividade, como funciona. O custo inicial para participar do evento desse porte gira em torno de US$5 mil e oferece retorno estimado em até 50%. Mas, diz Dorine, os benefícios vão além do dinheiro. “O expositor que faz esse tipo de negócio esta em busca de reconhecimento da sua marca e, porque não, a chance de expandir permanentemente seu negócio em terras internacionais”, avalia.
E por que Nova York? A curadora e organizadora do evento é direta: visibilidade. Nova York é uma ampla vitrine para produtos e serviços brasileiros. Por isso a seleção dos expositores é bem rigorosa. “São feitas avaliações do trabalho do designer e é imprescindível que as peças sejam únicas e feitas à mão”, explica.
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Mostra no exterior garante maior visibilidade às joias
Designers brasileiras contam como é participar de um evento no exterior e todo o processo de produção das peças. Entre as 20 participantes, três se destacam mais pela sua originalidade e o uso de diferentes técnicas usadas nas construções das jóias.
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Produtora da coleção Desigual, onde todas as peças foram influenciadas pela natureza, Maria Antonia Antonelle, também de São Paulo, gemóloga de formação, já expôs na França, Itália, Iugoslávia, Emirados Árabes. Maria Antonelle afirma que estar na mídia internacional é ter acesso ao mundo da joalheria. É também ser reconhecido no Brasil, pelo trabalho realizado fora.
“É mais marketing do que venda, e Nova York é um grande centro de negócio, onde tudo acontece. E como não poderia deixar de ser arte na joalheria. O país tem grande potencial para o cliente que deseja ter uma joia exclusiva com sua características pessoais”, avalia.
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Cabe ao curador selecionar as peças a serem expostas. Maria Antonia conta que somente podem participar da exposição joalheria autoral e com peças únicas. “É esse o diferencial. O cliente estrangeiro valoriza a exclusividade e considera joalheria como arte. No Brasil existem clientes com esse perfil, mas em número muito menor. O mercado joalheiro no Brasil gira em torno do modismo”, afirma.
E acrescenta: “A curadora pesquisa os países, faz contatos com curadores de galerias e com a mídia que faz a divulgação do evento tanto no Brasil como no país da exposição. Além, de providências como vitrines, coquetel, catálogos. E antes disso faz a seleção dos designers e a assinatura do contrato”.
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A designer Telma Aguiar, de Fortaleza, concorda com Maria Antonia, e acrescenta que além dos os clientes europeus e americanos apreciarem as peça atemporal e diferente, não pedem descontos e valorizam bastante o joalheiro.
“Já o cliente brasileiro quer o que está na moda, muitas vezes pede para fazer uma cópia, não valoriza muito o joalheiro, pedem muitos descontos e querem quase sempre parcelar”, lamenta a designer.
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Telma que completou sua 16ª exposição internacional em Nova York, já esteve na Alemanha, Espanha, Portugal. Ela desenvolveu uma coleção especial para NY chamada Jardim – que teve como inspiração o cuidado pessoal, do relacionamento e do amor próprio para enfrentar os desafios do dia a dia como mulher.
Telma, que também trabalha como bancária, analisa a crise no Brasil como uma época de incertezas que o país vem atravessando nos últimos anos, que faz com que os consumidores e varejistas tenham mais cautela ou até mesmo pensar em paralisar os planos de expansão de um negócio.
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“O mercado de joias tem as perspectivas positivas, mas é necessário ter uma variedade de portfólio, percepção da qualidade dos produtos por parte dos consumidores, qualidade da matéria-prima disponível, variedade dos canais de venda e demanda interna aquecida”, avalia Telma.
O processo evolutivo das matérias primas dos metais e gemas brasileiros foi o que impulsionou a carreira da designer Berta Antunes, de Araruama, na Região dos Lagos (RJ). Especialista em trabalhar com prata pura, ela começou sua carreira fazendo essas experimentações.
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Berta participou anteriormente com a mesma produtora do grupo de trabalho da Collect Brazillian Jewelry, em Paris, na Joaillerie Contemporaine D’auteur au Carrousel Du Louvre, em 2018.
A inspiração da sua coleção foi influenciada pelo artesanato da cestaria que reflete a importância da atividade feminina no processo de evolução cultural, como a trama, enredo, e fios entrelaçados revelando a delicadeza e força feminina.
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Os principais desafios, segundo Berta, é driblar o preconceito que ainda existe no mercado e conseguir verba para bancar o alto custo da empreitada fora do Brasil, esse valor varia de US$ 2 mil a US$ 5 mil, com retorno em torno de até 50% do valor investido. Mas, segundo ela, vale a pena fazer esse investimento. “O retorno é mais sobre a divulgação, que vai gerar maior reconhecimento para suas peças”, avalia.
“Naturalmente, o Brasil possui excelentes artistas que não conseguem sobreviver economicamente a estas demandas mercadológicas. O mercado é cruel com os produtores de arte em todas as instâncias e há uma corrente preconceituosa em todas as linguagens artísticas penalizando-nos, inclusive”, finaliza.
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Edição: Martha Imenes