Rio - A facilidade de comprar algo mesmo sem ter imediatamente o dinheiro, é sempre interessante e tentador, ainda mais com o aumento "espontâneo" do limite do cartão de crédito - pesquisa da CNDL aponta que quatro em cada dez usuários de cartão de crédito (38%) receberam alguma oferta de aumento do limite sem que tenham solicitado ao banco ou instituição financeira. Mas o que é visto positivamente pelo consumidor serve de alerta para especialistas: Fujam do endividamento. Eles explicam que que essa autonomia pode ter um alto custo e se tornar a grande vilã da saúde financeira. Isso ocorre porque se o consumidor não conseguir quitar a fatura completa, começará a pagar uma alta taxa sobre o montante devido. Os juros médios do rotativo chegaram a 299,8% ao ano em junho, segundo o Banco Central (BC). Para não cair em cilada e se livrar dessa dívida O DIA fez uma lista com 10 dicas para ajudar na saúde do bolso.
A taxa exorbitante faz com que qualquer dívida se torne rapidamente uma bola de neve, complicando o orçamento doméstico. Para 76,4% das famílias endividadas no país, o cartão de crédito é o principal responsável pela dívida, segundo pesquisa divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). E como fugir dessa dívida? O presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), Reinaldo Domingos, dá algumas dicas para o consumidor se livrar e não cair nessa cilada. "O rotativo do cartão de crédito é algo bem caro e, se a pessoa não tiver cuidado, pode ser a porta de entrada para o fim da tranquilidade financeira", adverte.
Perda de tranquilidade é o que vive o motorista de aplicativo Thiago Gil, de 31 anos. Há 10 anos ele tem nome sujo na praça e, mesmo assim, ainda não tem perspectiva de quitar as dívidas. O valor total que Thiago deve gira em torno de R$ 10 mil, fora os juros.
Após perder o trabalho e a esposa ter sofrido uma redução no salário, Thiago passou a ganhar menos e não pôde mais pagar os cartões. "Já recebi várias propostas, e-mails, telefones, valores para eu pagar à vista. Propostas até boas, mas não tenho dinheiro, por isso virei motorista de aplicativo. Não sobra nem um real para pagar minhas dívidas. Todo ano tem o feirão para renegociar com a Caixa Econômica, mas não vou porque não tenho condições", conta Thiago.
Nova regra
Por ser uma das linhas mais caras do mercado, o governo federal tenta, desde o ano passado, diminuir as taxas cobradas no rotativo do cartão como forma de controlar o endividamento dos brasileiros.
Com as novas regras, os bancos são obrigados a transferir a dívida para outra modalidade de financiamento parcelado após 30 dias, caso haja o pagamento mínimo da fatura. Mesmo assim, a resolução do problema ainda parece estar longe, já que, em fevereiro, um em cada quatro usuários de cartão de crédito entrou no rotativo.
Com as novas regras, os bancos são obrigados a transferir a dívida para outra modalidade de financiamento parcelado após 30 dias, caso haja o pagamento mínimo da fatura. Mesmo assim, a resolução do problema ainda parece estar longe, já que, em fevereiro, um em cada quatro usuários de cartão de crédito entrou no rotativo.
Cuidado com o superendividamento
O levantamento da CNDL mostra que é comum o recebimento de propostas espontâneas de ampliação do limite de crédito por parte de bancos, instituições financeiras e lojas que operam com sistema próprio de crediário. E isso, segundo especialistas, aumenta o nível de endividamento.
Entre os que receberam esse tipo de oferta, mais da metade (53%) achou a proposta interessante, por achar positivo ter crédito à disposição. Outros 21% contestaram a oferta porque não viam necessidade no uso. Outros 18% utilizaram o crédito disponível, seja por estarem precisando do dinheiro naquele momento (13%) ou até mesmo sem que houvesse necessidade (5%).
"O que inicialmente se apresenta como um alívio financeiro, é na verdade uma forma de indução à escolhas erradas e sem avaliação de risco", alerta Ione Amorim, economista do Instituto de Direito do Consumidor (Idec).
Ela adverte que o cartão é concedido com análises rasas de capacidade de pagamento pelas administradoras e garantido por elevadas taxas de juros de crédito rotativo com média de 300% ao ano e seguido pela possibilidade de parcelamento do saldo, adicionando mais juros médios de 174% ao ano. "Isso resulta na incapacidade de sair da dívida", afirma.
Confira as dicas
- Pague sempre a fatura total
Com juros tão altos, entrar no rotativo do cartão continua caro e perigoso. Dessa forma, pagar a fatura total é sempre a primeira dica para quem não quer se perder em dívidas. Os juros, de quase 300% ao ano, irão incidir sobre o montante que não foi pago. Por isso, o consumidor deve ficar muito atento para não gastar mais do que sua capacidade de pagamento.
- Não atrase o pagamento
- Não atrase o pagamento
Atrasar a parcela do cartão de crédito também não é uma boa solução. Caso o consumidor atrase por mais de 30 dias, ou não pagar nem o mínimo da fatura, cairá no chamado ‘rotativo não-regular’, onde os juros chegam a 299,80% ao ano.
- Cuidado com compras em pequenos valores
- Cuidado com compras em pequenos valores
De acordo com especialistas, é muito comum não conseguir pagar a fatura total por não saber o quanto gastou no mês. É bom tomar cuidado com compras baratas e em grande quantidade, que afetam a percepção de gastos e fazem com que o consumidor perca a capacidade de pagamento.
- Planeje
Planejar o quanto cada um pode gastar é essencial. Apesar de oferecer benefícios, o cartão de crédito jamais pode ser utilizado como uma extensão do salário. Lembre-se: a fatura sempre chega. Por isso saber qual é o limite de gastos mensal é o ideal para que as dívidas fiquem sob controle.
- Faça um empréstimo pessoal
Um empréstimo pessoal, em geral, tem juros e taxas menores do que o rotativo do cartão ou o parcelamento de fatura. São inúmeras possibilidades, como crédito consignado, antecipação do 13º, antecipação do Imposto de Renda etc. Diversas operadoras financeiras oferecem essas possibilidades com juros bem menores.
Assim, o consumidor poderá resolver o problema com a operadora do cartão antes de a dívida crescer demais. O cuidado, porém, deve estar no planejamento: ao comprometer qualquer renda futura, o consumidor deve estar ciente que não receberá o valor total no futuro. Exemplo: caso ele antecipe o 13º, deve levar em conta que não terá o salário adicional no final do ano.
- Negocie
- Negocie
Com as novas regras, a operadora do cartão é obrigada a direcionar quem tem dívida no cartão para uma linha de crédito mais barata. Isso deverá ser feito logo no primeiro mês da dívida. O consumidor, contudo, não é obrigado a aceitar a oferta logo de cara. Dessa forma, é necessário negociar a melhor linha de crédito (com juros e custos menores) para que o pagamento não comprometa parte considerável da renda.
- Procure um lugar mais barato
Caso haja outra instituição financeira com taxas mais baixas, é possível fazer a portabilidade da dívida. Ou seja, consumidor pode transferir o montante devido para outro lugar. Para isso, contudo, é necessário fazer uma boa pesquisa e pedir o CET de cada um dos bancos para que o valor final da dívida realmente seja menor.
- Peça por parcelas fixas
- Peça por parcelas fixas
Quem está enrolado com dividas no cartão de crédito precisa de previsibilidade e planejamento para sair dessa posição incômoda. Por isso, o melhor para a organização das contas é pedir por parcelas fixas mensais para o pagamento do novo empréstimo. Dessa forma, o consumidor poderá saber exatamente quanto precisa separar por mês para quitar o montante, sem correr o risco de a parcela subir conforme o tempo passar.
- Tenha, no máximo, dois cartões
- Tenha, no máximo, dois cartões
Os bancos e operadoras vivem oferecendo novos cartões de créditos aos clientes com diversas condições especiais. Possuir inúmeros cartões, contudo, pode ser perigoso pois também dificulta o controle do quanto se gasta. Por isso, concentre os gastos em, no máximo, dois cartões de crédito e fique atento ao dia em que vencem as faturas.
Repense seus hábitos de consumo
Se o consumidor vem atrasando o pagamento ou já parcelou a fatura e continua endividado, está na hora de repensar os hábitos de consumo. Planejar, economizar e não gastar mais do que ganha são os primeiros passos para adquirir uma consciência financeira. Cursos, palestras e estudos sobre educação financeira também são bem-vindos.
Se o consumidor vem atrasando o pagamento ou já parcelou a fatura e continua endividado, está na hora de repensar os hábitos de consumo. Planejar, economizar e não gastar mais do que ganha são os primeiros passos para adquirir uma consciência financeira. Cursos, palestras e estudos sobre educação financeira também são bem-vindos.
Colaborou a estagiária Larissa Esposito
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