- Marcello Casal / Agência Brasil
Marcello Casal / Agência Brasil
Por Istoé

O pagamento do 13º salário a trabalhadores, aposentados e pensionistas deve injetar R$ 214 bilhões na economia brasileira até meados de dezembro, segundo cálculos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O montante atende 49,17 milhões de assalariados do mercado formal (com uma média de R$ 2.989,20 por pessoa) e outros 31,59 milhões de aposentados e pensionistas (média de R$ 1.613,28 por beneficiário). Junto com a antecipação da etapa final do pagamento de até R$ 500 do Fundo de Garantia por Tempo Serviço (FGTS) aos não-correntistas da Caixa Econômica, esse dinheiro extra deve animar os consumidores a quitar suas dívidas, ou parte delas, antes de encarar as compras de Natal.

Tradicionalmente, a temporada de regularização das contas em atraso começa com o pagamento da primeira parcela do 13º, que ocorre em 20 de novembro. Segundo o último levantamento do SPC Brasil, 37% dos brasileiros possuem compromissos de até R$ 500. Outros 16%, têm dívidas entre R$ 500,01 e R$ 1 mil. “A maioria, 53%, deve até R$ 1 mil. Mas, quando abrange todo o volume, o tíquete médio é bem maior, de R$ 3.254,78 por pessoa”, diz Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil.

Projeção semelhante faz Flávio Calife, economista da Boa Vista SCPC. Para ele, a maior parte dos consumidores deverá aproveitar esse período para sair do vermelho. “Em média, 55% do recurso extra vai para o pagamento de dívidas, 15% para poupança e investimentos e 30% para o consumo”, afirma. Ele observa que esse comportamento tem se repetido a cada final de ano. “A pessoa consegue deixar o nome limpo na praça. Porém, mais da metade daqueles que renegociam suas dívidas volta a ficar inadimplente em menos de um ano. Ainda temos um desafio de educação financeira muito grande pela frente”, diz.

Para piorar, o brasieiro está devendo mais. O boletim mais recente do Banco Central (BC) mostra que o endividamento alcançava 44,6% da Massa Salarial Ampliada Disponível (MSAD) e comprometia 20,6% da renda das famílias em agosto de 2019, ante 42,3% do salário e 19,9% do rendimento em igual mês de 2018. Dados apurados pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) mostram que o volume de consumidores com contas em atraso cresceu 1,58% em outubro na comparação com o mesmo mês do ano passado. Do total das dívidas, 53% têm origem em instituições financeiras — um avanço de seis pontos percentuais em relação a 2016. Já o comércio responde por uma fatia de 17%, ante 20% em 2016. O setor de comunicação é responsável por 12% das pendências, enquanto as contas de água e luz respondem por 10%. Apesar do aumento da inadimplência, há algum otimismo quanto ao desempenho da economia no quarto trimestre, o que pode animar os trabalhadores a honrar seus compromissos.

Quanto ao próximo ano, especialistas concordam que o ambiente de juros baixos, inflação controlada, ajuste fiscal em curso e Cadastro Positivo deve ajudar na expansão do crédito e, consecutivamente, da economia. “Ainda será um crescimento lento, de até 2,5% do PIB, insuficiente para compensar a crise de 2015 a 2016”, diz Marcela Kawauti. “Com a questão fiscal em andamento, investimentos em concessões e infraestrutura voltando, Cadastro Positivo funcionando e o crédito em expansão, há mais fundamentos para uma expectativa de crescimento entre 2% e 2,5% no ano que vem”, afirma Calife.

FEIRÕES

A Boa Vista está participando de feirões de renegociações em 60 cidades, sendo 50 no estado de São Paulo. “Mas a pessoa não precisa esperar o feirão para renegociar sua dívida. Ela pode fazer uma proposta antes diretamente ao credor. Os credores estão abertos à negociação, pois têm interesse em receber, por isso, concedem a redução dos juros e a extensão dos prazos”, diz Calife.

Já o SPC Brasil realiza um feirão on-line de renegociação de dívidas em 11 capitais (São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza, Recife, Goiânia, Cuiabá, São Luis, Teresina, Rio Branco e Manaus) e em mais quatro cidades do interior do País. Ao todo, são mais de 120 empresas cadastradas nos feirões, desde bancos, consórcios, operadoras de telefonia, construtoras, supermercados e empresas do comércio e do ramo de serviços, que oferecerão condições para quem estiver interessado em regularizar as pendências. “As facilidades contemplam desde um desconto no valor da dívida, que em alguns casos podem chegar a 90%”, diz o comunicado da CNDL.

A Recovery, empresa de gestão e administração de créditos em atraso, participa do Feirão Serasa Limpa Nome, que acontece virtualmente até 30 de novembro. Os consumidores com dívidas em aberto podem negociar seus débitos com descontos de até 98%. A hora é boa para limpar o nome.

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