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Por MARTHA IMENES
Publicado 29/02/2020 06:00
O governo será obrigado a manter o serviço social no INSS. Ou seja, os assistentes sociais permanecem dentro das Agências de Previdência Social (APS). A extinção do serviço constava na Medida Provisória 905, assinada pelo presidente Jair Bolsonaro, mas foi derrubada pela comissão mista do Congresso que avaliou a MP. O colegiado divulgou um relatório acatando 51 emendas supressivas. Ou seja, 51 parlamentares exigiram que se mantivesse o serviço social como serviço previdenciário, acatando parecer do relator da MP, Christino Aureo (PP-RJ). As sessões de discussão e votação da MP 905 estão marcadas para os dias 3 e 4 de março, após o recesso de Carnaval. Aprovado o relatório na Comissão Especial, a MP segue para votação no plenário da Câmara e depois do Senado e tem prazo para aprovação ou rejeição até 9 de abril de 2020.

A decisão foi comemorada por representantes dos servidores e gestores do INSS, que foram pegos de surpresa com a ideia do governo de acabar com o serviço social nos postos. Em nota a Comissão Nacional de Assistentes Sociais da Federação Nacional de Servidores da Previdência Social, diz que somente com mobilização de trabalhadores e da sociedade civil foi possível sensibilizar parlamentares para que acatassem as emendas supressivas. E adverte: "Nossa luta será pela revogação da MP 905."

Conforme O DIA mostrou na edição de 17 de novembro do ano passado, os mais prejudicados seriam os que encontram no assistente social o caminho para saber sobre seus direitos previdenciários, inclusive em relação a concessão de benefícios. Entre eles está o de Prestação Continuada, pago a idosos e deficientes de baixa renda, que equivale a um salário mínimo, hoje R$ 1.045.

"O serviço social realizado dentro do INSS é de grande importância. O Brasil ainda tem um alto grau de analfabetismo. A exclusão digital então é uma realidade ainda mais perversa. Sem pessoas preparadas para atender tanta gente que não sabe minimamente dos seus direitos, os direitos destas pessoas fica inviabilizado", advertiu, na época, o defensor público da União, Thales Arcoverde Treiger. Para se ter uma ideia, hoje em todo Estado do Rio existem 118 assistentes sociais. No país esse número chega a 1.596.

O papel do serviço social no INSS é "esclarecer os usuários os seus direitos previdenciários e sociais e como exercê-los de forma individual e coletiva", afirmou um assistente social do instituto, que pediu para não ser identificado. Dessa forma, acrescenta, é estabelecida uma relação visando a solução dos seus problemas na Previdência.

"Na atual conjuntura vivida dentro do INSS de repasse do atendimento aos canais remotos (telefone e internet), o serviço social é um dos últimos espaços de atendimento presencial para a população, em especial para idosos, pessoas com deficiência e pessoas com dificuldade de acesso digital", acrescenta.

Três mulheres ouvidas pelo DIA em 17 de novembro de 2019 - na época do anúncio do fim de assistentes sociais nos postos -, podem respirar aliviadas que o serviço será mantido. Ezilene Cunha da Fonseca, a Ziza, de 32 anos de idade, mãe do jovem Andray Antony, 12; Priscila Justen, 38, mãe do pequeno Theo Justen, de 6 anos; e Jorcilene Langoni, de 65 anos; contaram seus dramas e deram rosto e voz àqueles que seriam os mais prejudicados com a decisão do governo. "Não posso ficar sem auxílio e orientação, sou doente e preciso de ajuda", diz Jorcilene. Ziza emenda: "Só o serviço social consegue abrir caminhos para os benefícios que o INSS indefere".
O gestor que falou com O DIA na época explica que os assistentes sociais continuaram a trabalhar nos postos, mesmo sob ameaça de serem transferidos "sabe-se lá para onde" conforme o governo pretendia. "A mobilização das pessoas mostrou aos parlamentares a importância do serviço prestado por esses servidores nos postos", disse. 
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Relembre os casos
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Confira alguns tópicos que constam na MP 905
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Senador alerta para aumento da informalidade
Paulo Paim é relator do projetoRoque de Sá/Agência Senado
A Medida Provisória (MP) 905/2019, que criou o Contrato de Trabalho Verde e Amarelo, foi criticada pelo senador Paulo Paim (PT-RS). Um dos pontos que o senador destacou foi a redução contribuição patronal à Previdência para possibilitar a contratação de jovens de 18 a 29 anos. Além disso, segundo Paim, o texto editado pelo governo modificou várias regras trabalhistas.

"A MP 905 formaliza, na verdade, o trabalho informal, em nada contribui para o crescimento e o desenvolvimento. Portanto, é uma política equivocada. A continuar assim, a força de trabalho no Brasil será a de um exército de trabalhadores informais", afirmou o senador, que apontou para o crescimento do percentual de trabalhadores na informalidade.

O senador salientou que a MP promove alterações em 130 artigos da CLT, revogando mais de 40 dispositivos. Para ele,é preciso retirar da medida provisória os artigos que tratam de matérias trabalhistas e previdenciárias, e também os que extinguem algumas categorias profissionais. De acordo com Paim, o governo estima criar quatro milhões de empregos com a MP. No entanto, o senador duvida que essa meta seja alcançada, uma vez que a economia do país está desaquecida por causa do desemprego e dos baixos salários.

"Quando você abre mão de contribuições para a Previdência, você prejudica a Previdência. O empregador, claro, vai lucrar mais, mas não vai empregar mais gente. O que faz com que ele empregue gente é demanda, é mercado", avalia o senador.

Paim também criticou outros pontos da MP, como o que reduz de 8% para 2% a alíquota do FGTS; o que acaba com o salário-educação, contribuição paga pelo empregador e destinada ao financiamento de ações da educação básica; e o que isenta as empresas do pagamento da Contribuição Social destinada ao sistema 'S'.