Por Luiz Fernando Santos Reis
Rio - O Brasil nunca esteve fechado para atuação de empresas estrangeiras no setor de obras públicas. No passado remoto, as grandes obras eram por elas executadas. Por que aqui não ficaram? Algumas poucas permaneceram por mais tempo, mas nenhuma se perenizou. O que temos visto são as empresas estrangeiras virem em busca de uma oportunidade específica, algumas vezes concluem o objetivo e em seguida deixam o país, não geram empregos permanentes e levam os lucros.

A verdade é que o Brasil criou uma engenharia própria, com empresas altamente qualificadas, com competência para atuar enfrentando os mais complexos desafios no Brasil ou no exterior. Tornamo-nos exportadores de serviços, com empresas brasileiras executando grandes projetos de engenharia em praticamente todos os continentes.

Se nossas empresas foram capazes de se estabelecer em diversos países, porque as estrangeiras não conseguiram aqui se fixar? Será que a complexidade de nossa legislação trabalhista as afugenta, ou é a quantidade de tributos que elas têm que enfrentar, ou será, ainda, a insegurança jurídica que preside a relação público x privada (em que poder público não cumpre com a sua parte)?

Trabalharam em nosso país as maiores empresas do mundo. Do ranking feito, em 2019, pela revista “ENR – Engeneering News Record”, a mais conceituada do setor, entre as 20 maiores construtoras do mundo, cinco já trabalharam aqui. Por que não ficaram?

Não estamos preconizando que haja qualquer protecionismo ou reserva de mercado. O que queremos é igualdade de condições. Não temos no Brasil os mesmos tipos de mecanismos para apoiar as construtoras que os países desenvolvidos possuem. Não temos linhas de crédito específicas para o setor.

Hoje, para que uma empresa da área da construção pesada obtenha apoio financeiro para executar uma obra ela enfrenta uma “via-crúcis”. Não temos financiamento de longo prazo. Temos excelente tecnologia, mas não temos acesso aos modernos equipamentos desenvolvidos no exterior, por conta dos preços proibitivos que diminuem a competitividade das empresas brasileiras.

É também importante lembrar que várias empresas estrangeiras que aqui trabalhavam ou trabalham, ou que querem vir, enfrentaram em seus países problemas de falta de ética e transparência pelos quais as nossas empresas passaram. Além disso, vários são os exemplos de corporações estrangeiras, quer seja no setor de obras de infraestrutura como no de concessões, que vieram, ganharam seus contratos e os abandonaram sem concluí-los. Geraram, dessa forma, imensos prejuízos para população.

Que venham as estrangeiras, sim, mas as nossas empresas precisam ter as mesmas condições de disputa, mesmo tratamento e respeito, pois temos engenheiros e empresas da melhor qualidade, envolvidas com os mais rígidos preceitos de ética e capazes de performar dentro dos melhores padrões de qualidade.


*presidente-executivo da Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro (AEERJ)