Humorista com o Presidente Bolsonaro - Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
Humorista com o Presidente BolsonaroDida Sampaio/Estadão Conteúdo
Por MARTHA IMENES
A recuperação da economia brasileira, antes dada como certa após a Reforma da Previdência, promulgada em novembro do ano passado, parece ter ido por água abaixo. Ontem o IBGE divulgou que o Produto Interno Bruto (PIB, que é a soma de todas as riquezas do país) cresceu menos da metade do esperado. A projeção anterior feita por analistas do mercado era de 2,55%, mas o resultado divulgado ontem mostra que o Brasil cresceu apenas 1,1% em 2019, o primeiro ano do governo Bolsonaro.

No início de 2019, considerando o andamento das reformas, em particular o avanço a da Previdência, o governo previu crescimento de 2,4%. Alguns integrantes chegaram a projetar uma alta de 2,9%. Para 2020, no entanto, a estimativa é de alta de 2,17%, segundo pesquisa do Banco Central divulgada na segunda-feira. O resultado ainda estará abaixo da média de 3% registrada de 1996 a 2014.

Considerando o resultado de 2019 e a projeção para 2020, esse deve ser o resultado mais fraco para o desempenho da economia brasileira nos dois primeiros anos de um mandato presidencial desde o início do Plano Real, com exceção de 2015 e 2016, quando a economia teve retração por dois anos seguidos.

Em nota, o Ministério da Economia citou que o ano de 2019 foi marcado por choques adversos na economia, como a guerra comercial entre EUA e China, que, pontua o ministério, reduziu o crescimento global no ano passado, "levando a uma menor demanda de bens de exportação brasileiros e um menor apetite por investimentos no país".
Dólar
E o resultado desagradou o mercado, que fez o dólar fechar em alta de 1,52%, a R$ 4,5801, novo recorde histórico e a 11ª sessão consecutiva de valorização. O dólar futuro para abril encostou em R$ 4,60. A moeda já acumula alta de 14% neste ano, a maior dos mercados emergentes.
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Terceira queda
Este foi o terceiro ano seguido de fraco crescimento da economia brasileira. Em 2017 e em 2018, a primeira divulgação do PIB mostrou expansão de 1,1%. Posteriormente, os dados foram revisados para 1,3%.
A desaceleração do PIB de 2019 em relação a 2018 é explicada pela queda nos gastos governo, piora nas exportações e importações e crescimento menor do consumo e dos investimentos, segundo Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

Ela afirmou também que o PIB ainda está 3,1% abaixo do pico histórico, verificado no 1º trimestre de 2014, mas já se recuperou 5,4% em relação ao pior momento da recessão.

No fim de 2019, porém, a perspectiva já havia caído. A projeção dos principais analistas era de um PIB de 1,17%, segundo o Boletim Focus do Banco Central. Essa projeção havia caído levemente para 1,12% no boletim mais recente.

O IBGE também informou que, no quatro trimestre do ano passado, houve avanço de 0,5% em relação ao trimestre anterior e de 1,7% na comparação com o mesmo período de 2018. O PIB per capita ficou em R$ 34.533 uma alta de 0,3% no ano.

O PIB é uma medida da produção de bens e serviços em um país em um determinado período e o seu aumento é utilizado como sinônimo de crescimento da economia. Em valores correntes, o PIB alcançou R$ 7,257 trilhões em 2019.

Bolsonaro escala humorista para não responder sobre 'pibinho'
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Após resultado fraco do Produto Interno Bruto (PIB) em 2019, com crescimento de apenas 1,1% no ano, o presidente da República, Jair Bolsonaro, escalou um humorista para responder perguntas da imprensa sobre o ritmo da atividade econômica. O primeiro PIB de Bolsonaro é pior do que o último do ex-presidente Michel Temer. "PIB? O que é PIB? Pergunta para eles (jornalistas) o que é PIB", disse Bolsonaro ao humorista Márvio Lúcio, conhecido como Carioca, da TV Record.
Em seguida, um jornalista reforçou que a pergunta era dirigida para o presidente, e não para o humorista. "Paulo Guedes, Paulo Guedes", reagiu Carioca. "Posto Ipiranga", sugeriu Bolsonaro ao humorista, rindo.

Vestido como Bolsonaro, inclusive com uma réplica da faixa presidencial, Carioca usou a estrutura da Presidência para oferecer bananas aos jornalistas em frente ao Palácio da Alvorada - nenhum jornalista aceitou. O humorista também pediu para ser questionado pelos profissionais como se fosse o presidente, o que não ocorreu.

Depois, o próprio Bolsonaro apareceu e quis participar da encenação que foi combinada um pouco antes. Carioca participou de um café da manhã no Alvorada que reuniu o presidente, ministros e parlamentares do PSD.
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Na conversa com o humorista, Bolsonaro afirma ser "agredido" pela imprensa e pede que ele "fale em seu lugar" em frente à residência oficial. "É impressionante que eles (imprensa) ficam me agredindo. Todo dia eles estão lá fora. Estou há duas semanas sem falar com eles. Fala no meu lugar. Vou te dar a palavra", disse Bolsonaro. O vídeo do café da manhã de Bolsonaro com o humorista foi divulgada pelo site Folha do Brasil, que publica notícias favoráveis ao governo.
Na conversa, em tom de piada, Bolsonaro fala sobre política externa e faz piada com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. "Quem é o único gordo da Venezuela?", questiona após ser questionado se conhece o venezuelano.

Orçamento Impositivo
Quando indagado por jornalistas sobre riscos na negociação com o Parlamento em relação ao Orçamento impositivo ou sobre o resultado aquém do esperado do PIB, Bolsonaro terceirizou as respostas ao humorista. Tudo foi transmitido ao vivo na conta oficial do presidente da República nas redes sociais.
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O humorista chegou em um carro oficial da Presidência e contou com a ajuda do secretário especial de Comunicação, Fabio Wajngarten, para sair do veículo. Ele ficou posicionado no mesmo local que Bolsonaro usa normalmente para responder perguntas da imprensa. A área é restrita.

Antes da chegada de Carioca, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, responsável pela Secom, desceu de outro carro e foi a pé acompanhar todo o ato.
Cartilha 
Na terça-feira, o governo federal divulgou a reedição de uma cartilha sobre a proteção de jornalistas e comunicadores no Brasil. Elaborado pelo Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, chefiado por Damares Alves, o texto traz uma nova edição do documento, lançado no governo de Michel Temer, e prevê que "as autoridades públicas têm a obrigação de condenar veementemente agressões contra jornalistas".

O manual diz ainda que "os agentes do Estado não devem adotar discursos públicos que exponham jornalistas".
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(Com Agência Estado)