São mais de 5,5 milhões de brasileiros com renda de até meio salário mínimo, elegíveis para receber o benefício, mas que não têm conta em banco ou acesso regular à internet, mostra pesquisa do Instituto Locomotiva, feita a pedido da Agência Estado. Parcela quase invisível da população, são essas pessoas que correm o maior risco de não receber o auxílio.
"A crise do coronavírus tirou renda e jogou para a pobreza muita gente que tinha pouco, mas não era alvo de programas sociais. O vírus joga luz a problemas que já existiam, como a baixa renda dos informais, e acentua uma desigualdade histórica", diz Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva.
30 milhões de poupanças digitais
A Caixa Econômica Federal afirmou que serão criadas 30 milhões de poupanças digitais, movimentadas via aplicativo para quem não tem conta em banco. E surge outro problema: quem não têm acesso à internet, nem celular, como vai mexer em aplicativo? "Tenho 60 anos e estou desempregada. Meu celular, que já era velho, quebrou. Não estou conseguindo fazer o cadastro em lugar nenhum", lamenta a doméstica Iara da Silva Flores, de Irajá. Já Cleber Cândido de Oliveira, de 56 anos, também de Irajá, reclama da demora na liberação do dinheiro: "Nasci em janeiro, fiz o cadastro no aplicativo. Disse que estava tudo certo! Mas até agora não recebi o dinheiro. Minha banca está fechada, não posso abrir, como vou viver?", questiona Cléber que vende balas e doces na porta de uma escola.
Por conta de tantos "imprevistos" o governo começa a estudar alternativas de como levar o auxílio emergencial de R$ 600 para pessoas sem acesso à internet a partir de maio, segundo o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni. A estimativa da pasta é de que a maior parte dos informais já será contemplada por meio do aplicativo e do site criados pela Caixa ainda no mês de abril.
Onyx considera que mesmo pessoas que não têm acesso à tecnologia poderão contar com uma rede de apoio para fazer o seu cadastro virtual. "Se, ainda assim, surgirem situações expressivas, vamos tentar buscar essas pessoas. Mas, pelo aplicativo e site já temos resultados expressivos, o brasileiro está muito digitalizado. Caso a pessoa não consiga (pelo site ou aplicativo), ela pode ir em uma agência da Caixa, em uma associação comunitária, enfim, tem toda uma rede de solidariedade para ajudá-la", afirmou.
O ministro disse ainda acreditar que até o fim do mês a maioria das pessoas terá recebido duas parcelas do auxílio emergencial - com exceção dos beneficiários do Bolsa Família, que seguirão recebendo os recursos dentro dos períodos preestabelecidos, uma vez por mês.
"Após 30 de abril, vamos ver o que tem de falta ainda para as pessoas acessarem, porque temos todo o mês de maio, junho e início de julho (para realizar todos os pagamentos)", disse.
Onyx estima que, com o aplicativo criado pela Caixa, o governo deve identificar em torno de 20 milhões a 25 milhões de pessoas consideradas "invisíveis" e que ganharão contas bancárias digitais para receber os recursos.