Antonio Cruz/Agência Brasil
Por MARTHA IMENES
Publicado 09/08/2020 10:00 | Atualizado 09/08/2020 12:13
A volta da antiga Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), que pode até ganhar um nome chique vindo lá "das gringas", vai contra o que o então candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro, prometeu na campanha de 2018.
Já eleito, o presidente garantia: "De forma alguma isso daí vai voltar, talkey?". O "isso daí" seria o imposto nos mesmos moldes da CPMF, que era de 0,38%. Mas, desde o ano passado, o ministro da Economia Paulo Guedes vem insistindo na volta de um tributo para cobrir as despesas do governo.
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No domingo passado, inclusive, o próprio Bolsonaro deu aval ao ministro para "testar" esse imposto, que vai incidir sobre operações financeiras feitas no ambiente físico e pela internet, entre elas pagamentos e compras. Essa "velhidade" - afinal esse imposto não tem nada de novidade -, foi duramente criticada por economistas e parlamentares.
Elena Landau, economista Divulgação redes sociais

"Todo mundo sabe que CPMF, não importa o nome que se dê a este imposto, é péssimo. É regressivo", adverte a economista Elena Landau, ex-assessora da presidência do BNDES e ex-diretora da área responsável pelo Programa Nacional de Desestatização, durante o governo Fernando Henrique Cardoso.
E acrescenta: "(A CPMF) É um imposto de quem tem preguiça de fazer uma reforma. Imposto de quem não quer ceder ao fato de que no Congresso já existe uma avançada discussão sobre reforma".
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Só para explicar: O governo Bolsonaro está enviando a Reforma Tributária ao Congresso de forma fatiada. A primeira parte da proposta sugere unificar dois tributos sobre o consumo, PIS e Cofins e criar o CBS, que deve ficar 12%. Uma outra parte da reforma deve ser apresentada no dia 15 de agosto. Nela estariam mudanças no Imposto de Renda e desoneração para o setor de serviços.
Questionada pelo jornal O DIA se esse teste - a que se referiu Bolsonaro no domingo - seria um "balão de ensaio" a economista foi firme: "Não é balão de ensaio. É um desejo real de Guedes e ele vai fazer tudo para passar e colocar a ajuda do Centrão à prova".

Economista Raul Velloso, ex-secretário do antigo Ministério do PlanejamentoReprodução

Já para o economista Raul Velloso, consultor econômico e ex-secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento, a aprovação do imposto deve ser barrada no Congresso. "É muito difícil aprovar a CPMF sob quaisquer condições. Veja que o Rodrigo Maia (presidente da Câmara) já saiu batendo".
Segundo ele, o caminho (para equacionar as contas) não é esse. "Enquanto a economia estiver no chão, o recomendável é deixar os tributos em paz e tentar outros caminhos", avalia.

E quais seriam? "Eu venho propondo o equacionamento do passivo atuarial da previdência dos servidores via destinação de ativos aos fundos que forem criados. Assim seria possível abrir espaço nos orçamentos para aumentar investimentos para reativar a economia", conta Velloso.

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As conversas sobre volta da contribuição, o imposto "tipo CPMF" pegaram Maria Isabel Almeida dos Santos, de 64 anos, de surpresa. Ela estava internada com covid-19 e não tinha contato com ninguém. E quando teve alta hospitalar, evitou ver o noticiário. Ela conta que o marido morreu vítima da doença e ver o sofrimento de outras famílias pela TV a deixa abalada.

Maria Isabel reclama da quantidade de impostos que a população brasileira é obrigada a pagar. "Mais um imposto. A gente já paga tanto imposto na vida, e em cima de qualquer mercadoria", diz Maria Isabel, que afirma ser contra o tributo e lamenta a alta carga tributária.

E, ao que tudo indica, haverá aumento de carga tributária. De acordo com a primeira parte da reforma haverá um novo modelo de tributações sobre o consumo. vale lembrar que a CBS (substituta de PIS/Cofins) será de 12%. Mas a cobrança de PIS e Cofins, que serão extintos, é menor. No regime cumulativo os tributos estão em 0,65% (PIS) e 3% (Cofins). Já no regime não cumulativo a alíquota é maior: sendo 1,65% para o PIS e 7,6% para o Cofins.

Para se ter uma ideia, segundo o Impostômetro da Associação Comercial de São Paulo - que mede quanto o brasileiro gasta em impostos -, em um ano a população precisou trabalhar 151 dias só para pagar tributos.