Publicado 04/10/2021 14:05
Brasília - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou, nesta segunda-feira, 4, que há preocupação com o aumento dos preços administrados, citando o forte aumento do valor das bandeiras tarifárias de energia entre 2020 e 2021. Atualmente, vigora a bandeira de escassez hídrica, que tem taxa adicional de R$ 14,20 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.
Segundo o presidente do BC, há preocupação com o preço da bandeira de energia, pois é um aumento que se dissemina pela cadeia. Ele mencionou, contudo, que há um movimento de chuvas melhor recentemente.
Em participação em evento na Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Campos Neto ainda citou que o mercado livre de energia tem muito a crescer e também é possível aumentar a eficiência no mercado de energia.
Câmbio
O presidente do Banco Central disse que a atuação da autoridade no câmbio tem que ser feita de forma a manter a liquidez e a conexão com os preços para os investidores não migrarem para outros instrumentos de hedge. "Intervenção ideal no câmbio é a que mantém conexão entre preços e não deixa ter ruptura de liquidez", afirmou.
Afirmou ainda que há um questionamento sobre o motivo de o dólar não absorver os choques de aumento commodities no Brasil. "Em parte é o fiscal", completou.
Títulos privados
O presidente do Banco Central salientou que a autarquia não usou a permissão para comprar títulos privados no mercado secundário durante a vigência do Orçamento de Guerra porque encontrou um mecanismo mais eficiente. "Em vez de dar dinheiro para o banco aceitando só títulos públicos como colateral, passamos a aceitar também títulos privados. Dou liquidez para os bancos comprarem títulos privados, entendendo que fazem esse trabalho melhor que o BC. Fizemos LTEL e LFG. Isso mostrou que ajustou muito o mercado de crédito, que estava muito problemático naquele momento, a um custo muito baixo."
Campos Neto disse que o BC vai tornar esse processo permanente . "Hoje, em momento de crise de liquidez, o banco não vai ter só o título público para emprestar contra um empréstimo de liquidez emergencial, vai ter também o privado. O banco, quando for comprar uma carteira ou emissão de título privado, pode usar o título privado com o BC para prover liquidez", comentou. "Depois desse aprendizado da crise, fizemos todo um movimento de extrair liquidez de um título privado. Isso faz com o que mercado de crédito privado se desenvolva muito mais", completou.
Reforma do IR
O presidente do Banco Central destacou ainda que o BC tem monitorado o tema dos dividendos em função da discussão da reforma do Imposto de Renda. Em relação ao fim dos Juros sobre Capital Próprio (JCP), o efeito é maior sobre os bancos, mas o resultado depende do "conjunto da obra", ou seja, do que vai acontecer com os outros impostos.
Segundo Campos Neto, em relação aos bancos, é mais importante o projeto de IRFS 9, para eliminar a distorção no acúmulo de crédito tributário em função da contabilização das perdas. "Hoje, se o imposto cair muito, resultado dos bancos vai ser péssimo, por crédito tributário reavaliado para baixo", disse. "Não há nenhum país do mundo em que os bancos têm a base de capital tão concentrada em crédito tributário", completou.
Tributação dos combustíveis
Campos Neto ainda comentou que entende que o governo está estudando alguma forma de lidar com a tributação dos preços de combustíveis. Ele citou que, no México, tem um imposto sobre os combustíveis que sobe e desce, "o que cria uma absorção em relação aos preços".
O presidente do BC ainda esclareceu que o comentário sobre a política de preços da Petrobras recentemente foi mal interpretado pelo mercado. Em evento, Campos Neto havia dito que o repasse dos preços de combustíveis no Brasil era mais rápido, o que foi interpretado por alguns no dia como uma crítica à política de preços da Petrobras.
Nesta segunda-feira, o presidente do BC disse que foi algo positivo, que mostrava a maior força da economia de mercado no país. "Alguém disse que o presidente do BC era contra a política da Petrobras. Obviamente, o BC não comenta a política da Petrobras."
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