Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Publicado 04/10/2021 17:47
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que foi mal interpretado quando falou quando disse que a Petrobras repassa mais rápido do que outros países a variação cambial e preço internacional para o valor do petróleo cobrado no mercado interno. Em live do jornal Valor Econômico nesta segunda-feira, 4, ele afirmou que a afirmação foi no sentido de que outros países só estão sentindo agora os efeitos do preço do petróleo relativos a 2020, enquanto no Brasil, o processo é mais rápido. "Não falei que era contra", afirmou.
Campos Neto disse ainda que nunca diria o que a Petrobras tem que fazer. Mas acrescentou que é contra uma política de subsídio. "Gosto de preço de mercado", completou o presidente do BC.
Juros e inflação
Campos Neto reforçou que a taxa Selic alcançará o nível que for necessário para convergência das expectativas de inflação. "Queremos entregar a inflação na meta no horizonte relevante. Não acreditamos em metas ajustadas", repetiu. "Com esse ritmo de juros, achamos que levamos inflação à meta. O pior mês deve ser setembro."
Mais cedo, Campos Neto disse especificamente que o BC tem enfatizado que mira a meta de 2022. Nesta segunda, no Boletim Focus, a mediana para o IPCA, índice de inflação oficial para o ano que vem, subiu de 4,12% para 4,14%, acima do centro da meta de 3,50%. No cenário básico do BC, com a Selic em 8,50% no fim do ciclo, a projeção para 2022 é de 3,70%.
O presidente do BC ainda repetiu que a inércia está estável. Além disso, disse que o BC acredita que o pior momento de inflação será setembro e depois tende a se acomodar. Campos Neto citou que os preços de alimentos começam a melhorar e ainda citou a influência da desaceleração econômica da Ásia sobre os preços de commodities. Ele afirmou que os preços de minério têm caído, mas, por outro lado, os preços de energia estão subindo no mundo.
Autonomia
Sobre a autonomia do Banco Central, ele disse que ainda há muitas "pequenas mudanças" para amadurecer o processo, que avaliou como importante. "A autonomia fortalece o quadro do BC e faz com que você tenha um horizonte mais limpo de atuação", afirmou.
Precatórios
O presidente do Banco Central afirmou que, em meio ao espaço fiscal pequeno, o aumento do pagamento dos precatórios não é administrável. "O governo propôs algumas soluções, essa solução abre espaço no teto, que tem que ser trabalhado o que o governo deseja fazer. O importante, nesse caso, é narrativa com credibilidade."
Campos Neto voltou a dizer que as discussões fiscais e as pretensões do governo têm trazido preocupação ao mercado sobre o risco de perder o arcabouço fiscal.
O presidente do BC reconheceu que os temas da ampliação do Bolsa Família, possível postergação do auxílio emergencial, precatórios e reforma do Imposto de Renda se colidiram, "porque um viabiliza o outro". "Se o arranjo for feito com credibilidade, e conseguirmos virar página, dá uma clareada. Ainda temos tempo para aprovar pequenas reformas, como a reforma administrativa", disse.
Campos Neto ainda repetiu que não necessariamente jogar mais dinheiro na economia levará a um crescimento muito maior. "Se for sem respeitar arcabouço, vai ser contraproducente. Depende da narrativa e da credibilidade que for feito."
O presidente do BC ainda indicou que os números fiscais estão melhores e as perspectivas também, com alguma melhora estrutural da receita, além do efeito da inflação. Campos Neto citou que há possibilidade de um déficit primário em 2022 menor que 0,50% do PIB, que é a projeção oficial do governo.
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