Publicado 26/10/2021 10:54
Entrou em vigor nesta terça-feira, 26, mais um aumento estabelecido pela Petrobras sobre o preço da gasolina e do diesel nas refinarias. Com a mudança, o litro da gasolina repassado pela empresa passou de R$ 2,98 para R$ 3,19, o que representa uma alta de R$ 0,21, ou de cerca de 7%. Já o litro do diesel, passou a ser vendido por R$ 3,34, cerca de 9% mais caro que o preço aplicado anteriormente de R$ 3,06. Somente esse ano a gasolina já subiu mais de 70%, enquanto o diesel teve alta de 65,3%.
Esse aumento não pesa no bolso só daqueles que trabalham com carro, como os motoristas de aplicativo, ou usam algum desses combustíveis para se locomover. Na prática, a alta dos combustíveis impacta diretamente na vida de todos os brasileiros, já que o item influencia na variação da inflação, além de impactar também no frete dos alimentos, por exemplo. O Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira, 25, já elevou a previsão de alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), inflação oficial do país, de 8,69% para 8,96%.
"O impacto é inevitável, os combustíveis já subiram cerca de 70% em 2021. Não há quem consiga suportar isso no orçamento sendo trabalhador, que luta para manter o emprego e, quando tem reajuste salarial, recebe a inflação acumulada em 12 meses, que está em 10%. Como a cadeia logística brasileira é baseada no transporte rodoviário, o aumento dos combustível impacta diretamente o frete e, consequentemente, o preço de todos os produtos da economia. Ou seja, gera mais inflação para esse consumidor", explicou o economista Gilberto Braga.
Outro setor que pode sofrer com o aumento dos insumos é o dos transportes públicos, como os ônibus, já que o óleo diesel é o combustível mais utilizado nesse caso. "O transporte público também sofre com os aumentos dos combustíveis, uma vez que o aumento do óleo diesel acabará sendo repassado no preço da passagem. Mais uma vez, quem vai arcar com o ônus é o trabalhador que usa esse modal", acrescentou o economista.
A Rio Ônibus, inclusive, emitiu uma nota sobre o assunto. No comunicado, a empresa ressaltou que o aumento não afeta apenas donos de veículos particulares e motoristas de aplicativos, mas que gera impacto direto no transporte público, que se mantém com tarifas congeladas. "O setor vive nos últimos meses uma realidade de preços altíssimos também para compra de peças e acessórios, o que prejudica ainda mais a qualidade do serviço prestado à população", concluiu o porta-voz do Rio Ônibus, Paulo Valente.
No cotidiano dos consumidores, a elevação dos preços já é uma preocupação real. Enquanto abastecia seu carro pela manhã, na Praça da Bandeira, a professora Ana Maria Sá, de 54 anos, já pagou R$ 7,29 no litro da gasolina e contou ao O DIA que vai optar por outro combustível, já que ela utiliza o carro particular para se locomover até o trabalho e isso tem tomado boa parte de sua renda.
"O aumento do combustível afeta diretamente a minha vida porque eu preciso do carro todos os dias para me deslocar até o trabalho e isso tá consumindo uma parte significativa do meu salário, uma vez que não estamos tendo reposição salarial. Ocorre que vou precisar pensar em outras alternativas para conseguir sustentar essa situação e uma das coisas é que vou trocar o combustível que eu uso. Estou muito preocupada porque está tendo aumento de tudo", relatou.
Para o cientista de dados Glauco Azevedo, o aumento dos combustíveis é motivo suficiente para os brasileiros perderem o sono. "O aumento da gasolina tá deixando a gente sem sono, faz lembrar a época do meus pais com a superinflação nos anos 80. O mercado fica mais caro também, e aí como faz pra sobreviver? Tem que cortar fora a carne do cardápio, ser mais muito mais econômico. Pra mim só não tá pior porque tenho home office, mas o que fazer quando alguém vive disso? O carro do aplicativo piorou muito, tem menos gente rodando e a espera aumentou. Tá tudo interligado. Agora, o salário que é bom aumentar, difícil", opinou.
O que dizem as autoridades
Após o anúncio do reajuste feito pela Petrobras, nesta segunda-feira, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a comentar a alta. Na ocasião, Bolsonaro afirmou que o aumento "é uma realidade" e, assim, "temos que enfrentar". O mandatário voltou a defender, ainda, a mudança na cobrança do ICMS sobre o preço dos combustíveis e afirmou que não "é o malvado": "Quanto mais aumenta o combustível, melhor para os governadores. E quem paga a conta é o governo federal. Não quero aumentar o preço de nada, mas não posso interferir no mercado", declarou.
Já o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a defender a privatização da Petrobras e afirmou que a "estatal não valerá nada em 30 anos". Para Guedes, o objetivo é tirar o petróleo o mais rápido possível para transformar a riqueza em educação, investimentos e tecnologia. "Tem que sair mais rápido. Não adianta ficar uma placa dizendo que é estatal e o petróleo não sai do chão. E quando sai, sai com corrupção. Se houve a maior roubalheira da história no 'Petrolão' e agora o preço do petróleo só sobe, o que o povo brasileiro ganha com isso?", questionou.
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