
Na porta de entrada do cinema, havia uma fila com 30 pessoas, que carregavam os seus combos de pipoca e refrigerante. Mas ninguém sabia o que passaria na telona. Poderia ser ação, drama ou suspense, com final indefinido. Num roteiro sem direção e spoilers, a sessão exibiria Brasil x Sérvia, a terceira partida da primeira fase da Copa do Mundo. A iniciativa faz parte do 'Copa no Cinema', uma transmissão feita em um estúdio em parceria entre a TV Globo com a Cinecolor e Cinelive, distribuidoras de filme por satélite, que leva o Mundial para 280 salas do país 21 delas no Rio. O DIA acompanhou uma das sessões, transmitida no Kinoplex do Shopping Tijuca.
- No Saara, 'vuvuzela' é a campeã de vendas
- Comércio deve movimentar R$ 100 milhões no Rio durante a Copa
- Copa do Mundo: dicas de comportamento aos profissionais nos jogos da seleção brasileira
- Copa do Mundo: brasileiros preferem bares com promoção para assistir aos jogos
- Copa do Mundo: MEIs brasileiros devem faturar R$ 1,5 bilhão até a decisão na Rússia
Já na entrada do shopping, que estava aberto apenas para a transmissão, era possível sentir um clima de tensão. Havia apenas uma porta lateral, protegida por seguranças. 'Cadê a identificação de vocês?', perguntou um dos seguranças, com a expressão fechada de quem perderia um jogo decisivo da seleção brasileira no Mundial. A sala 1 do Kinoplex estava lotada. Havia, ainda, cerca de 20 pessoas sentadas no chão, próximo ao telão. Outras assistiam em pé mesmo, no acesso ao cinema.

Logo no começo da partida, uma cena causou suspense na plateia quando Marcelo, um dos personagens principais da seleção brasileira, deixou o gramado após sentir uma lesão. Mas as emoções se alternavam. A cada lance de ataque, as pessoas levantavam das cadeiras e gritavam. Não havia lá quem fizesse o tradicional 'shhh', em pedido de silêncio no cinema. O público também abusava das selfies e dos vídeos em meio ao público.
Aos 35 minutos do primeiro tempo, a trama passada na telona mostrou uma cena típica dos filmes de ação. Philippe Coutinho pegou a bola no meio e fez um lançamento. Paulinho entrou em velocidade e superou o goleiro com um toque por cobertura: 1 a 0.
VUVUZELA NA SESSÃO
Houve chuva de pipoca. Celulares foram usados como lanterna. Um sujeito na primeira fila levantou da cadeira e assoprou uma vuvuzela. "No cinema, a gente tá acostumado a sentar e ver o filme. Quando sai o gol, não tem jeito. Eu faço barulho mesmo!", sorri o vendedor Luciano Santos, de 46 anos.
Para Matheus Luiz, de 8 anos, um filme de ação como Os Incríveis 2 já não é a preferência. Pelo menos não durante a Copa. "Assistir um jogo de futebol no cinema é muito melhor que assistir filmes. Pode fazer barulho e ninguém vai brigar", disse. O futebol na telona despertou emoção em pessoas de todas as idades. Foi o caso, por exemplo, da vendedora Iana Araújo, de 25 anos, que estava acompanhada por duas amigas. "Essa é a primeira vez que assisto um jogo neste ambiente. É emocionante ver a vibração da galera. Estou me sentindo no estádio".
SESSÃO EXTRA
No intervalo, foi aberta mais uma sala de cinema para acomodar as pessoas que acompanharam o primeiro tempo em pé ou sentadas no chão da sala. E, ao fim do jogo, já havia torcedores garantindo ingresso para a segunda fase da Copa. "Na hora do gol, todo mundo pulou junto. No próximo, estaremos aqui", afirmou Valéria Lisboa.
Para Patricia Cotta, gerente de Marketing do Kinoplex, esse tipo de reação tem sido comum. "Você só consegue viver toda a emoção em uma sala de cinema. E quando o assunto é futebol, a adesão do brasileiro é total", diz. Agora, a expectativa é de novas sessões até a decisão, em sessões onde todos torcem pelo hexa no final.
DESDE 2010
As transmissões na telona começaram na Copa do Mundo de 2010, em sessões fechadas para convidados exibidas pela Rede Cinemark. No Mundial de 2014, outras redes, como o Kinoplex, também passaram a transmitir os jogos em exibições abertas para o público. Neste ano, foram 280 salas espalhadas pelo país. Em São Paulo, há 37 salas. No Rio, são 21.
SESSÕES EXCLUSIVAS
Algumas redes também comercializam salas fechadas para empresas. Neste caso, é preciso agendamento prévio. Os valores dos ingressos variam de R$20 (meia) a R$80 (salas VIPs).
CINEMA LOTADO
Em média, havia cerca de 80 pessoas por sala nas sessões exibidas pelo Kinoplex no Rio. Isso equivale a 2,4 mil pessoas nas três partidas da seleção brasileira na primeira fase nas dez salas da rede.
INTERAÇÃO
Os responsáveis pela transmissão interagiam com o público. Ao longo dos jogos, as mensagens com a hashtag #CopaNoCinema eram citadas pelo narrador Gustavo Villani, pela repórter Mari Palma e pelo ex-jogador Grafite, que comenta os jogos.