Rio - Os resultados da Finlândia no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) são impressionantes. Mas, quando o assunto é educação, o país nórdico europeu nunca deixa de nos impressionar. Há alguns meses, eu embarquei para esse frio e distante país para entender o que a Finlândia tem de especial. Passei dez dias visitando escolas em diferentes cidades e o que vi mexeu para sempre com minhas percepções.
A começar, a relação com os professores é completamente diferente não só do Brasil, mas de diversos outros países. Ser professor é uma das profissões de maior prestígio na Finlândia – e isso não tem a ver necessariamente com salário, dado que eles são muito parecidos por lá, mas com a relevância da função. Para ser professor de Ensino Fundamental, é preciso um preparo desproporcional ao que temos aqui, tendo o equivalente a um mestrado. Ou seja, para ensinar crianças, é preciso saber e estudar muito. Nada além do óbvio, certo? Mas um óbvio quase inalcançável na maioria das realidades. Além disso, a base curricular finlandesa dá aos profissionais muita liberdade para trabalhar, criar em cima de conteúdos desgastados e adaptar suas aulas ao público e à forma que cada um entende ser a melhor para os alunos aprenderem. Vi mestres trabalhando juntos em projetos interdisciplinares interessantíssimos e bastante aplicados à realidade dos alunos.
Esses, por sua vez, são o centro de tudo. A começar pela extrema preocupação com o bem-estar deles, com várias atividades ao ar livre (exceto no frio extremo, no meio do inverno), momentos de mindfullness e intervalos a cada 45 minutos de aula. Chegando na escola, é preciso tirar os sapatos – visitantes também – o que nos deixa muito mais à vontade em um ambiente bastante convidativo. Não há salas diferenciadas pelo rendimento dos alunos e, aparentemente, nenhum estímulo à competição: todos são capazes e incentivados a alcançarem seus objetivos. Os alunos por lá aprendem fazendo, com diversas aulas práticas e objetivos de aprendizagem bastante definidos. E quem pensa que isso tudo se dá em ambientes altamente tecnológicos se engana. Na Finlândia, o moderno se mistura ao tradicional. Muitas foram as salas que em vi nas quais uma lousa digital divide lugar com brinquedos de montar e cartolinas nas paredes.
Ir à Finlândia para aprender sobre educação beira o atestar o óbvio: é claro que, com professores valorizados e alunos incentivados, os resultados serão excepcionais. No entanto, o que chama mesmo a atenção é que eles não parecem fazer o que fazem pelo resultado que terão em provas como o PISA, mas por realmente acreditarem que a vida de cada um vai ser melhor assim. É o fim em si mesmo, e os resultados são tão somente uma consequência fabulosa e coerente desse fim.
Carolina Pavanelli trabalha com educação há dez anos e dá aulas de Redação com ênfase na produção de textos nos moldes dos vestibulares e ENEM. Além disso, é diretora pedagógica de uma Plataforma de Ensino, produzindo materiais didáticos e capacitação de professores no Brasil. Ela escreve às quartas-feiras em O DIA. Seu Instagram é @_carolinapavanelli
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