O comércio eletrônico deve crescer 6% no próximo ano, atingindo a cifra de R$ 31,1 bilhõesReprodução
Por Carolina Pavanelli
Publicado 29/03/2019 13:24 | Atualizado 15/04/2019 20:13

Muito se fala por aí que a educação mudou, que ela não é mais como era antigamente. Essa ideia já foi tão falada que, mais do que uma verdade, já virou um clichê, desses que a gente repete tanto que nem para pra pensar se ele faz realmente sentido. Nesse caso, é claro que a educação mudou, como o mundo como um todo mudou. E não só hoje, como vem mudando sempre. Mas a dinâmica educacional em si mudou muito pouco, ou muito menos, se comparada a outras áreas nas últimas décadas.

Quando entramos em uma sala de aula hoje, ela se parece muito com salas de aula que eu frequentei como aluna, ou mesmo as que a minha mãe frequentou no tempo dela. As cadeiras são enfileiradas, voltadas para a frente da sala. Lá, há um quadro negro e, geralmente, em frente a ele, um professor. O quadro até pode ter mudado, hoje em dia existem lousas digitais que funcionam muito melhor do que o computador da nossa casa, mas o professor continua na frente dele, majoritariamente detentor do conhecimento a ser passado aos seres sem luz (que nada mais é do que a etimologia de “aluno”) na frente dele. Até aí, pouquíssima diferença. Como outrora, os alunos continuam percorrendo um período temporal de aulas e, ao final dele, fazem uma prova, que procura medir o quanto ele aprendeu naquela fase e o premia com uma nota. A média dessas notas ao longo do período de um ano determina se ele está aprovado para o ano seguinte ou não – em caso de reprovação, ele precisará repetir aquele curso. Alguma diferença aqui?

É claro que não se pode dizer, ao mesmo tempo, que nada mudou. A escola, enquanto estrutura e dinâmica, estar praticamente estagnada em relação ao passado não significa, necessariamente, que a educação como um todo não urgiu – ou urge – por mudanças. Mas a verdade é que o que mudou mesmo foi a demanda dos alunos. Dado que o mundo que os nossos jovens vivem hoje não é de maneira alguma aquele que nós vivemos quando éramos jovens, é apenas natural que a demanda que eles têm hoje seja outra diferente da que a nossa era. E uma das mais fortes é, sem dúvidas, a incorporação da tecnologia à sala de aula.

Enquanto nós, paulatinamente, procuramos nos apropriar dos avanços tecnológicos cada vez mais rápidos dos últimos tempos, os alunos que habitam nossas salas de aula hoje são nativos digitais, já nasceram em uma realidade na qual isso não é uma questão de costume, mas item inerente ao que eles são, tão parte de seus corpos quanto mãos, pernas ou nariz. Outro dia, em sala de aula, espiei de canto de olho um aluno usando o celular. Fiz o que fui condicionada nos últimos anos a fazer e pedi pra ele guardar o aparelho. Ele me olhou um pouco sem entender e o virou pra me mostrar que, no caso, ele estava anotando a minha aula. Aquele era o caderno dele. Aquilo fez com que eu entendesse, finalmente, que tecnologia não é uma escolha, mas uma necessidade. Para o aluno de hoje, não existe aprender nada sem a tecnologia ali, na palma da mão dele. Até a BNCC (Base Nacional Comum Curricular, documento homologado em 2017 que prevê a homogeneização de cerca de 60% dos currículos escolares) prevê o uso da tecnologia como parte inerente ao aprendizado dos alunos – muito embora não preveja a dificuldade da implantação disso em um país tão grande e diverso como o nosso.

Se as escolas e os professores continuarem lutando contra a tecnologia, vão invariavelmente perder a guerra. A saída mais inteligente é, enfim, passar a enxerga-la como aliada e entender formas pelas quais ela pode ajudar o processo pedagógico – e ela pode muito, sempre que a escola tem estrutura pra isso. É claro que o aluno não deve usar a tecnologia apenas por usar. Não se trata de simplesmente dar um tablet na mão de uma criança e torcer pra ela ser responsável com o seu uso. É responsabilidade também da escola a educação do uso da tecnologia, bem como o letramento digital. É um pouco da educação do futuro da qual sempre falamos e que, finalmente, chegou.

Carolina Pavanelli trabalha com educação há dez anos e dá aulas de Redação com ênfase na produção de textos nos moldes dos vestibulares e ENEM. Além disso, é diretora pedagógica de uma Plataforma de Ensino, produzindo materiais didáticos e capacitação de professores no Brasil. Ela escreve às quartas-feiras em O DIA. Seu Instagram é @_carolinapavanelli

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