Por Carolina Pavanelli
Pela primeira vez na história, a Rede Globo de televisão está transmitindo a Copa do Mundo de futebol feminino. É claro que a recepção ainda não é a mesma daquela com o campeonato masculino, mas é um caminho. Nas redes sociais, vemos diversas postagens de força à nossa seleção. Empresas e escolas têm permitido que seus funcionários e alunos interrompam seus afazeres na hora do jogo para poderem acompanhar as meninas do Brasil. Até mesmo os patrocinadores estão pensando e enxergando diferente: também pela primeira vez, o uniforme das jogadoras foi pensado e criado para elas – antes, elas usavam o que sobrava do design masculino.
Esse movimento, apesar de atrasado, está finalmente acontecendo junto a diversas outras manifestações e comprovações de respeito e empoderamento feminino, e é excelente. Agora, precisamos não nos deixarlevar pela empolgação do momento e enxergar os inúmeros desafios que persistem nas nossas categorias de base no país – especialmente para o esporte feminino.
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Não é nem preciso entrar no mérito de o salário das mulheres ser muito – mas MUITO – menor do que o dos homens não só no futebol, mas nos demais esportes.
Até Serena Williams, a maior tenista do mundo, ganha consideravelmente menos do que seus pares homens, o que comprova que esse não é um problema exclusivo do Brasil. Mas tampouco é um problema de educação, mas de mercado: enquanto o esporte masculino gerar mais lucro para seus patrocinadores, ele será mais valorizado. Ponto. Mas o que é possível fazer, em termos de educação, no longo prazo, para ajudar a diminuir disparidades?
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É claro que há inúmeros investimentos importantes que podem ser feitos, tanto pelo MEC quanto pelo ministério e secretarias de esporte. Porém, além de essa análise nem caber nas poucas linhas desta coluna, temo que insistir nessa ideia seja chover no molhado. É claro que o Governo deveria incentivar o esporte, as nossas categorias de base, mas isso todo mundo sabe. Não é nenhuma novidade. Mas também, ao que tudo indica, não é uma prioridade. Afinal, com exceção do período das Olimpíadas no Rio, esporte nunca foi uma prioridade para nossos governantes.
Por falar em Olimpíada, a cada 4 anos nos surpreendemos com a quantidade de medalhas que os EUA ganham, muito à frente de outros países. Mas quando vamos averiguar, constatamos que muitos dos seus melhores atletas vêm das universidades, onde ganharam bolsa de estudos, por sua vez, por terem apresentado excelente desempenho esportivo nos times das suas escolas. É de lá que muitos dos grandes atletas saem. Ou seja, a parceria é perfeita: educação e esporte, acadêmico e físico trabalhando juntos não só pelo bem-estar, mas pelo futuro dos jovens.

Se nossas escolas começarem a investir em esporte, montando times e quem sabe até campeonatos internos e regionais, elas poderiam, em parceria com universidades privadas, garantir as oportunidades e os incentivos para os jovens que precisam – meninos e meninas. Isso, é claro, aliado com o trabalho em sala de aula, de valorização de todos os esportes oferecidos, independentemente do gênero. Afinal, nada é mais demodê do que dizer que uma coisa é “de menino” ou “de menina”, muito menos esporte. Assim, um dia, poderemos começar a passar a euforia de uma Copa ou de uma Olimpíada e, enfim, enxergar o esporte como um imenso portão de oportunidades.