Presidenciáveis se encontraram nos estúdios da TV Aparecida - Thiago Leon / TV Aparecida
Presidenciáveis se encontraram nos estúdios da TV AparecidaThiago Leon / TV Aparecida
Por ESTADÃO CONTEÚDO

São Paulo - Sete dos 13 presidenciáveis se reuniram, na noite desta quinta-feira para o terceiro debate televisivo entre os candidatos. Durante cerca de três horas, Alvado Dias (Podemos), Ciro Gomes (PDT), Fernando Haddad (PT), Geraldo Alckmin (PSDB) Guilherme Boulos (Psol), Henrique Meirelles (MDB), Marina Silva (Rede) se enfrentaram na TV Aparecida. A jornalista Joyce Ribeiro fez a medicação do evento.

O debate foi o primeiro do candidato petista como cabeça de chapa do PT. Segundo colocado nas pesquisas eleitorais, ele foi alvo de seus adversários. A polêmica da volta da CPMF, sugerida pelo economista da campanha de Jair Bolsonaro (PSL) e apelo pelo voto contra extremos, ao qual o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso mencionou nesta quinta, também foram destaques do debate.

No primeiro bloco, os presidenciáveis prometeram combater a corrupção no país, em resposta a uma pergunta feita pelo arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer. Ele pediu que os candidatos apresentassem propostas para o combate a desvios da função pública no Brasil.

Na sua primeira fala, Haddad cumprimentou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba, e defendeu fortalecer as instituições "doa a quem doer". Para isso, ele disse ser necessário "individualizar aqueles que cometeram ilícitos e punir exemplarmente", reforçando que foram os governos do PT que fortaleceram os mecanismos contra corrupção. O petista afirmou ainda que o Brasil precisa ter Polícia Federal, Ministério Público e Justiça "fortes e apartidários".

Fernando Haddad (PT) - Gustavo Cabral / TV Aparecida

O candidato do PDT, Ciro Gomes, disse que ele próprio é um exemplo de honestidade ao completar 39 anos de vida pública "sem responder por nenhum mal feito nem sequer para ser absolvido". Ele defendeu propor ideias para que o brasileiro não eleja "caudilhos" na eleição e permitir que o eleitor defina políticas públicas através de plebiscitos. "A pretexto de superar fragmentação partidária, assim foi com PSDB e PT, que a cooptação de deputados se faça por clientelismo e fisiologia. É preciso substituir isso".

Alckmin defendeu uma reforma política que diminua o número de partidos. "Quem enriquece na política é ladrão", disse o tucano, soletrando a palavra "ladrão". "Lava Jato vai ser um marco na política brasileira, ela muda a história, e precisa ser fortalecida", pontuou. O candidato defendeu também tipificar o crime de enriquecimento ilícito no Código Penal.

Meirelles disse que nunca foi alvo de nenhuma denúncia ou processo. "Em todo meu período de governo, seja no Banco Central ou Ministério da Fazenda, toda minha equipe foi sequer denunciada ou investigada", declarou. Ele defendeu criar estruturas de combate à corrupção, citando como exemplo o fato de ter mandado criar um dispositivo na Caixa Econômica Federal contra a nomeação de executivos corruptos.

Henrique Meirelles (MDB) - Thiago Leon / TV Aparecida

Marina enfatizou que a corrupção é "inaceitável" e citou Jesus Cristo ao afirmar que ele ficou "indignado" ao entrar em um templo e se deparar com a deturpação de símbolos religiosos. "Nesse momento, o templo da política, que o Papa Francisco diz que é a forma mais elevada do exercício da caridade, é na política que podemos exercitar o serviço, e ela está sendo usada para enriquecimento ilícito".

Alvaro Dias classificou o combate à corrupção como a prioridade no país. "O Brasil não pode ser comandando por organizações criminosas", disse o presidenciável. Ele reforçou que é preciso fortalecer a Polícia Federal, o Ministério Público e o Judiciário eliminando o foro privilegiado. O candidato repetiu sua proposta de institucionalizar a Operação Lava Jato.

Já Boulos, também citando o Papa Francisco, aproveitou o momento para se apresentar como defensor dos "excluídos". Ele disse que o Brasil vive uma crise de destino. "Os valores éticos deixaram de ser o centro que guia a vida e a política". Boulos defendeu uma reforma política para enfrentar o "sequestro do poder público pelos interesses privados".

Haddad vira alvo

Geraldo Alckmin (PSDB) - Thiago Leon / TV Aparecida

Tendo embates diretos com Alckmin e Meirelles, Fernando Haddad virou o principal alvo dos dois adversários no segundo bloco do debate. A organização do evento optou por sortear quem perguntava e quem respondia, ou seja, os candidatos não escolhiam seus interlocutores nos questionamentos.

Haddad vinculou Alckmin a Temer ao criticar a reforma trabalhista e o teto de gastos. O tucano, por sua vez, se posicionou favorável às mudanças trabalhistas e disse que quem escolheu Temer como vice foi o PT. "Não precisaria de PEC do teto se não fosse o vale-tudo do PT (...) "Quem escolheu o Temer foi o PT, ele era vice da Dilma. Aliás, reincidente porque escolheram o Temer duas vezes", declarou Alckmin. O petista rebateu dizendo que o PSDB "se uniu ao Temer para trair a Dilma". "Foi o PSDB que colocou o Temer lá".

O petista usou uma entrevista dada pelo ex-presidente do PSDB Tasso Jereissati dizendo que o ex-dirigente tucano reconheceu que o partido "sabotou" o governo Dilma. Alckmin declarou que Haddad estava "desvirtuando" as declarações e que a entrevista defendia uma autocrítica do partido. O tucano ainda atacou o PT pelo fato de a legenda ter lançado sua candidatura "na porta de penitenciária".

Haddad x Meirelles

Ciro Gomes (PDT) - Thiago Leon / TV Aparecida

Perguntando a Haddad, Henrique Meirelles citou o ex-presidente Lula ao lembrar que foi escolhido por ele para presidir o Banco Central e disse que o governo Dilma havia feito a confiança dos brasileiros cair.

Haddad rebateu: "Talvez o senhor tenha recuperado a confiança dos banqueiros da Faria Lima. Porque do povo esse governo não recuperou a confiança."

Meirelles afirmou que o petista "não entendia" que confiança é necessária para investimentos. "Essa crise, candidato, talvez seja o caso de você se informar melhor, foi criada pelo governo Dilma."

Haddad respondeu que "ingratidão" era um dos maiores "pecados" da política, citando feitos dos governos petistas enquanto Meirelles presidiu o Banco Central.

Dobradinha

Marina Silva (Rede) - Thiago Leon / TV Aparecida

Ciro Gomes e Marina Silva, como em debates anteriores, fizeram uma dobradinha para defender um novo modelo de atendimento na rede pública de Saúde e financiamento para distribuição de medicamentos de alto custo. O pedetista chamou Marina de "estimável amiga" e elogiou o candidato a vice da presidenciável, Eduardo Jorge (PV).

Guilherme Boulos e Alvaro Dias usaram o bloco para prometer acabar com o chamado "toma lá, dá cá" em Brasília e pôr fim ao sistema "corrupto" do país. Dias citou que não teria "coragem" de fazer qualquer promessa sem falar em uma reforma do sistema de governança do país. Boulos aproveitou para alfinetar o adversário, dizendo que não bastava fazer a promessa no debate. "Você, por exemplo, Alvaro, ficou 20 anos no PSDB", lembrou.

Ausente no debate por estar internado na capital paulista, Bolsonaro foi criticado por Boulos, que lembrou campanha feita por mulheres contra o candidato do PSL e repetiu o slogan da iniciativa: "Ele não".

Emprego

Guilherme Boulos (Psol) - Gustavo Cabral / TV Aparecida

Sendo questionados por jornalistas de emissoras com inspiração católica, os candidatos aproveitaram o terceiro bloco para falar sobre temas abordados constantemente por suas campanhas.

Assim como no bloco anterior, o PT virou alvo do candidato do MDB, Henrique Meirelles. Para ele, o quadro de desemprego no país foi resultado de uma série de "equívocos" do governo Dilma e do PT. Ele repetiu sua promessa de criar 10 milhões de novos empregos em quatro anos e retomar obras paralisadas.

Respondendo a uma pergunta sobre migração, Fernando Haddad prometeu ampliar para todo o território nacional leis que regulamentem o acolhimento de imigrantes. "Os países que optarem por violência colheram violência", disse, defendendo que o Brasil precisava escolher a "paz".

Ciro Gomes abriu mão de declarações ácidas e, após ter elogiado Marina no bloco anterior, também teceu elogios para Guilherme Boulos. Ao falar sobre urbanização, o pedetista disse que o adversário é "especialista" no assunto e está correto ao avaliar que há mais imóveis vazios nas cidades do que pessoas que precisam de uma moradia.

Reforma política

Alvaro Dias (Podemos) - Thiago Leon / TV Aparecida

Geraldo Alckmin defendeu uma reforma política com voto distrital misto e facultativo. Tendo oportunidade de repetir uma frase em latim que significa "suprima a causa que o efeito cessa", o tucano prometeu promover as reformas política, tributária, previdenciária e de Estado logo no começo de um eventual governo. "Será que é possível aprovar a reforma política? Eu entendo que sim."

Sendo questionado sobre segurança pública, Alvaro Dias defendeu investimento no monitoramento de fronteiras e atacou o governo Michel Temer por dizer que "não tem dinheiro para nada" na segurança pública. "O bandido no Brasil tem que voltar a ter medo da lei", pontuou, prometendo boa remuneração a policiais. "Dinheiro do orçamento que não for aplicado em segurança pública, deve ser responsabilidade do presidente."

No mesmo bloco, Marina prometeu punir o feminicídio e fiscalização do Ministério do Trabalho contra salários desiguais entre mulheres e homens. A presidenciável também assumiu o compromisso de abrir 2 milhões de novas vagas em creches para que mães possam trabalhar.

Boulos, por sua vez, disse que é preciso cassar o registro de empresas que usam trabalho infantil e revogar, através de consulta popular, a reforma trabalhista feita pelo governo Temer.

Ataque a Bolsonaro

Debate foi mediado pela jornalista Joyce Ribeiro - Thiago Leon / TV Aparecida

Em um bloco marcado por temas tributários, Henrique Meirelles e Marina Silva fizeram uma "dobradinha" no debate para atacar o presidenciável Jair Bolsonaro.

Meirelles e Marina criticaram a proposta do assessor econômico de Bolsonaro, Paulo Guedes, de criar um imposto semelhante à extinta CPMF. "Sou contra a reedição da CPMF porque foi usada de forma pervertida", disse Marina, que retomou as críticas contra Bolsonaro classificando a proposta e a visão do candidato do PSL como "nefasta".

O emedebista, por sua vez, disse que o imposto é um "exemplo do que não pode ser feito" na economia. "Isso é perigoso, é grave, e a população precisa ser alertada por isso", declarou Meirelles, dizendo que não se pode criar novos impostos que prejudiquem os mais pobres.

Impostos

Debate com presidenciáveis - Thiago Leon / TV Aparecida

O que parecia o início de outra dobradinha sobre reforma tributária, entre Ciro Gomes e Fernando Haddad, se tornou espaço para uma "pinicadinha" de Ciro no petista, conforme o candidato do PDT se referiu. Haddad defendeu estabelecer um Imposto de Valor Agregado (IVA) para permitir que consumidores paguem menos impostos e cobrar alíquotas de lucros, dividendos e heranças, mas não escapou de críticas do adversário

"Por que o povo deve acreditar nessa proposta na sua possível gestão se o seu partido, os senhores estiveram no poder durante 14 anos?", questionou Ciro. Haddad disse que o pedetista estava "esquecendo" do controle da despesa do governo ao falar de ajuste tributário.

Quando perguntou para Henrique Meirelles, Geraldo Alckmin prometeu tributar dividendos e reduzir impostos e disse ainda que o governo do presidente Michel Temer, do qual Meirelles foi ministro, "fracassou absolutamente" no investimento em educação e que quem assumir a Presidência no próximo ano terá dificuldades. "O que o candidato evitou é a questão das reformas", pontuou o emedebista.

Regulação da mídia

Debate com presidenciáveis - Thiago Leon / TV Aparecida

Depois de ser elogiado por Ciro no bloco anterior, Boulos afirmou que, além de algumas convergências, tinha diferenças com o pedetista porque defende a chamada "democratização" dos meios de comunicação enquanto Ciro afirma que o controle pode ser feito pelo "controle remoto".

O presidenciável do PDT justificou sua defesa ao falar que a questão é "pragmática" e que não há capital político para aprovar uma regulamentação da mídia no Congresso Nacional. Boulos rebateu dizendo que não se pode ficar "refém" dos "velhos pactos" com o Congresso Nacional. "Se você tiver a oportunidade de servir essa nação, conte comigo nessa parada", respondeu Ciro

Haddad x Alvaro Dias

Debate com presidenciáveis - Thiago Leon / TV Aparecida

Uma pergunta feita por Fernando Haddad sobre família abriu espaço para que o petista fosse duramente atacado por Alvaro Dias. "Você vem para essa campanha como porta-voz da tragédia, representando o caos. O PT se transformou na filosofia do fracasso", disse Dias, afirmando que o a legenda petista "se especializou em distribuir a pobreza" e que a família brasileira era vítima de desigualdade social gerada por governos do PT.

Haddad rebateu dizendo que Dias desconhecia a realidade do país. "Você fica no Senado, no seu gabinete, e desconhece a realidade", declarou o petista.

O candidato do PT disse também que a família foi fortalecida por programas da legenda, como o Bolsa Família, o ProUni e o Minha Casa, Minha Vida.

Logo em seguida, ao perguntar para Geraldo Alckmin, Alvaro Dias continuou com ataques contra o PT afirmando que o partido promoveu um "conluio" com o sistema financeiro. Alckmin defendeu, em seguida, aumentar a competitividade de bancos no país e acabar, via decreto, com a exigência de autorização para entrada de bancos estrangeiros no país.

Temas polêmicos

Debate durou cerca de três horas - Gustavo Cabral / TV Aparecida

Antes das considerações finais, Alckmin e Meirelles foram questionados por bispos sobre temas polêmicos. O tucano foi provocado para se posicionar sobre o teto de gastos do governo Michel Temer e citou que saúde e educação não são afetadas pela regra da medida. O tucano disse que São Paulo, estado que governeu por quase 14 anos, nunca teve déficit primário. "Não precisou de nenhuma PEC. É inegável que a situação em que o PT deixou as contas públicas é gravíssima", declarou.

Ao ser perguntado sobre seu posicionamento sobre aborto, Meirelles se disse favorável à vida e também ao direito de a mulher fazer uma opção pelo aborto em "situações que se justifique". "A legislação atual já estabelece uma série de condições que permitem com que se possa definir com clareza porque é uma definição da sociedade."

Voto contra extremos

Sete dos 13 presidenciáveis estiveram no evento - Gustavo Cabral / TV Aparecida

O debate da TV Aparecida se encaminhou para o final já na madrugada desta sexta-feira. Com Bolsonaro e Haddad liderando pesquisas de intenção de voto para o primeiro turno da eleição, em suas últimas palavras, os adversários dos dois candidatos fizeram um apelo para que o eleitor não escolha "extremos" na eleição.

Em suas considerações, Geraldo Alckmin chamou o eleitor para fazer uma "conciliação" nacional contra as candidaturas de Bolsonaro e Haddad. "De um lado, o PT querendo voltar depois de ter levado o país à maior recessão econômica das últimas décadas; de outro lado os que têm medo da volta do PT estão indo para uma aventura de autoritarismo e intolerância", disse o tucano.

Apostando na mesma tese, Ciro Gomes disse que a radicalização está "infernizando" o país. "Esse extremismo, essa radicalização que nós vimos acontecer em alguns momentos mais ásperos desse debate, estão infernizando o Brasil desde 2014", disse o pedetista, afirmando que deseja ser aquele que reunirá os brasileiros de todas as crenças.

Marina Silva afirmou que o país está "entre a cruz e a espada" ao ter de escolher entre uma candidatura com saudade da ditadura militar e aqueles "incapazes de fazer uma autocrítica", fazendo uma referência indireta ao PSL e ao PT. "Agora é hora de ficarem quatro anos no banco de reserva", emendou, citando PT, MDB e PSDB.

Alvaro Dias criticou a extrema direita e a extrema esquerda. O candidato afirmou que o confronto entre os dois campos levou o Brasil à intolerância e à ausência de solução para problemas graves. "Não é alimentando os extremos que superaremos as dificuldades", falou.

Henrique Meirelles também disse que a eleição está passando por um momento de polarização entre extremos. "Um extremo, governando o Brasil, vai trazer de volta a recessão, aumentar o desemprego e criar mais crise", afirmou, acrescentando que é preciso eleger um candidato do centro democrático.

O candidato do Psol, Guilherme Boulos, pediu que o eleitor vote no primeiro turno da disputa em quem acredita. "Algumas pessoas estão pensando em votar com ódio ou com medo. Primeiro turno é momento de se votar no projeto que acredita", declarou, dizendo que seu projeto é "contra o sistema" e em defesa do direito das mulheres e do trabalhador.

Ao encerrar sua primeira participação em um debate de TV nesta eleição, Fernando Haddad usou o tempo das considerações finais para citar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e lembrar que ficou por seis anos nos governos do petista. "Deus deu o talento para todos, cabe ao Estado garantir oportunidade para que esse talento se revele", declarou Haddad, dizendo ainda que o povo voltará a "comer" se ele for eleito.

Assista ao debate na íntegra!

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