WhatsAppReprodução
Por O Dia
Publicado 05/10/2018 03:00 | Atualizado 05/10/2018 14:59

Rio - Com a aproximação das eleições e o acirramento do debate político, é cada vez mais comum o compartilhamento de notícias falsas nas redes sociais. Segundo dados do Relatório de Segurança Digital no Brasil, divulgados pela empresa de aplicativos PSafe, apenas no primeiro trimestre deste ano foram detectadas cerca de 2,9 milhões de fake news no país, a grande maioria delas compartilhadas pelo WhatsApp. Já no segundo trimestre, o número cresceu 51,7% e alcançou a marca de 4,4 milhões. A região Sudeste foi a mais afetada com a disseminação de informações manipuladas, com cerca de 48% do total nacional.

"O grande problema é que a gente está criando uma democracia baseada em 'trolls'. O 'troll' é aquele indivíduo que busca desestabilizar o outro através da humilhação. Além disso, o outro, quando é visto como adversário político, é alvo de aniquilação a qualquer custo, o que é muito perigoso", reflete Fábio Malini, professor da Universidade Federal do Espírito Santo e coordenador do Laboratório de Estudos sobre Internet e Cultura.

Uma característica peculiar do WhatsApp, que permite a disseminação de notícias falsas, é a dificuldade de rastreamento da origem da mensagem. Não à toa, o aplicativo de mensagens é o preferido por aqueles que desejam disseminar fake news. "O WhatsApp também passa a ideia de inimigo da democracia porque a informação compartilhada é como uma fraude que ninguém sabe de onde veio. Outra questão é que aquela pessoa que compartilhou pela primeira vez não necessariamente é autora do conteúdo. Ela está apenas recebendo e replicando. O aplicativo de mensagens também contribui para a disseminação de informações inverídicas por ser a principal plataforma online de muitas pessoas", afirma Malini.

Mudança no formato

A proximidade das eleições também mudou a forma como as notícias falsas são compartilhadas. Segundo especialistas, durante o período eleitoral é comum que as mensagens não sejam disseminadas através de links, mas, sim, por memes, vídeos ou imagens manipuladas que são replicadas de maneira muito mais rápida. Para não cair em notícias inverídicas, no entanto, é importante que o usuário tenha atenção redobrada a alguns detalhes.

Para Emilio Simoni, diretor do DFNDR Lab, núcleo especializado em segurança cibernética, as fake news costumam ter formatos bem parecidos. "Na maioria das vezes, essas notícias mentirosas costumam ser referentes a algum assunto polêmico e são apresentados de maneira extremamente sensacionalista para gerar indignação e causar medo nas pessoas. É comum também haver erros de português e a citação de 'especialistas' ou 'autoridades' em algum tema cujo nome não é mencionado ao longo do texto. Instituições de pesquisa inexistentes ou que não atuam na área em questão também podem aparecer", explica Simoni.

O papel do usuário de ferramentas como o próprio WhatsApp e também as redes sociais é muito importante para evitar que notícias falsas sejam compartilhadas em grande escala. Para Fábio Malini, quem recebe notícias suspeitas precisa avaliar e checar a veracidade da informação e não deve nunca se calar.

"Sempre digo que o debate pode ajudar muito nesse sentido. Se a pessoa questiona uma informação recebida pelo WhatsApp, por exemplo, é muito provável que quem enviou pense bastante da próxima vez antes de fazer isso novamente. Outra coisa importante é que os internautas não caiam na pilha emocional dos últimos dias de campanha. Mesmo que você discorde totalmente de um candidato, compartilhar notícias falsas sobre ele só vai trazer prejuízos para o debate político de maneira geral", constata Malini.

Ausência de legislação

O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, criticou ontem a falta de legislação para o crime de divulgação das fake news. A autoridade reforçou, no entanto, que as punições pela disseminação de notícias falsas só podem acontecer em caso de denúncia de quem foi agredido.

"Outra coisa é que não cabe à polícia decidir se um conteúdo é válido ou não é, quem pode fazer isso e quem tem autoridade é a Justiça Eleitoral. Fora isso, é crime contra a honra e é preciso que aquele que se sente atingido e agredido faça a devida representação. Fazendo a representação, nós acionaremos os mecanismos policiais de investigação para identificar e, sendo o caso, encaminhar à Justiça com o pedido da devida punição do responsável", explicou Jungmann.

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