Rio - Prestes a se tornar o "superministro" da Economia, Paulo Guedes, coordenador do programa econômico do presidente eleito, Jair Bolsonaro, disse nesta terça-feira que a incorporação do Ministério da Indústria (MDIC) ao da Fazenda será usada para desmontar o sistema de lobby e protecionismo que atrapalha o desenvolvimento da indústria nacional.
"Vamos salvar a indústria brasileira, apesar dos industriais brasileiros", afirmou o economista, após reunião da cúpula do futuro governo Bolsonaro, no Rio.
Com o aval do presidente eleito, Guedes anunciou nesta terça a criação do superministério da Economia, que reunirá as atuais pastas da Fazenda, do Planejamento e o MDIC. Ao fazer o anúncio, Guedes comparou o MDIC a uma "trincheira da Primeira Guerra Mundial" na defesa do protecionismo.
"O Brasil está em um processo de desindustrialização acelerada há mais de 30 anos. Eles (MIDC) estão lá com arame farpado, lama, buraco, defendendo protecionismo, subsídio, coisas que prejudicam a indústria, em vez de lutar por redução de impostos, simplificação e uma integração competitiva à indústria internacional."
O economista frisou que a proposta de criar o "superministério" e de fundir em uma só pasta os Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente já estavam no programa original, apresentado na campanha. Ele minimizou as declarações feitas pelo próprio Bolsonaro uma semana antes do segundo turno, depois de encontro com empresários da indústria:
"Se esse é o interesse deles, para o bem do Brasil, vamos atendê-los. Vamos manter o MDIC sem problema nenhum", disse o então candidato, no dia 24, em transmissão feita pelo Facebook.
As três pastas da área econômica, hoje separadas, já foram unificadas, durante o governo Fernando Collor de Melo, de 1990 até 1992. Zélia Cardoso de Melo ocupou o cargo de ministra. Três dias após o afastamento de Collor, no fim de 1992, a fusão foi desfeita e os ministérios voltaram a funcionar separadamente.
Reações
Nesta terça-feira, representantes da indústria reagiram à criação do superministério.
"Tendo em vista a importância do setor industrial para o Brasil, que é responsável por 21% do PIB nacional e pelo recolhimento de 32% dos impostos federais, precisamos de um ministério com um papel específico, que não seja atrelado à Fazenda, mais preocupada em arrecadar impostos e administrar as contas públicas", afirmou, em nota, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecção (Abit), Fernando Pimentel, classificou a decisão como "equivocada".
"Não vejo o Brasil dando certo sem uma indústria relevante. Colocar a indústria como secretaria é diminuir sua importância."
Representante de empresas exportadoras e importadoras, o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, disse que, se o País quer aumentar sua participação no comércio global, "não pode ter um Ministério da Indústria relegado a segundo plano e sem voz ativa".
Apesar das críticas ao atual modelo, Guedes disse que o futuro governo não fará "uma abertura abrupta da economia.
"O maior símbolo de que os impostos são excessivos é que quem faz lobby consegue desoneração e quem não faz vai para o Refis (programa de refinanciamento de impostos). Se os impostos fossem mais baixos, não precisaria de nada disso", disse Guedes. "A razão do MIDC estar próximo da Economia é justamente ter uma única orientação sobre tudo isso."