Paes, Crivella, Martha e Benedita - Ricardo Cassiano/Agência O DIA, Nelson Perez/Prefeitura do Rio e Daniel Castelo Branco e Gilvan de Souza / Agencia O Dia
Paes, Crivella, Martha e BeneditaRicardo Cassiano/Agência O DIA, Nelson Perez/Prefeitura do Rio e Daniel Castelo Branco e Gilvan de Souza / Agencia O Dia
Por ESTADÃO CONTEÚDO
Rio - Depois de viver, em 2016 e 2018, eleições marcadas por disputas apaixonadas e resultados surpreendentes, o Rio vai às urnas neste domingo após uma campanha eleitoral morna e com favorito claro. Houve apenas um debate televisivo e as pesquisas não mostraram oscilações expressivas ao longo da campanha.

Líder em todas as sondagens, o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) tem possibilidade - remota - de vencer no primeiro turno. As últimas pesquisas Ibope e Datafolha, deste sábado, mostram Paes disparado na frente, enquanto o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) se consolidou em segundo.
No Ibope, Paes tem 41% dos votos válidos, ante 16% de Crivella, 13% de Benedita da Silva (PT) e 11% de Martha Rocha (PDT). Já o Datafolha mostra o ex-prefeito com 40%, o atual com 18%, a delegada com 13% e a petista com 10%.
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Diferentemente de anos anteriores, não houve participação física expressiva de caciques nacionais em apoio às candidaturas cariocas. A principal alegação foi a pandemia de covid-19. O caso mais evidente foi o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Limitou-se a gravar vídeos para o horário gratuito e a pedir votos para a ex-ministra pelas redes sociais.
Quem compareceu foi o ex-presidenciável Fernando Haddad, cujo reduto político é São Paulo. Aos 75 anos, Lula integra o grupo de risco para a doença. E, após um período na prisão, teve a sua imagem arranhada, o que pode ter contribuído para a postura.

O apoio do presidente Jair Bolsonaro a Crivella foi o maior momento de nacionalização. Às voltas com a impopularidade e com escândalos recentes, o prefeito se agarrou à associação para buscar o segundo turno. Ainda assim, sofreu.
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Depois de um mês inteiro citando o presidente sem receber o aceno oficial, ganhou o direito de gravar um vídeo ao lado dele. Na peça, os dois fazem um discurso em tom conspiratório, sobre a "ideologia vermelha". Crivella chegou a ser punido pela Justiça por usar Bolsonaro por mais tempo do que o permitido.

A entrada do presidente na campanha do prefeito é arriscada, dada a ampla rejeição ao chefe do Executivo municipal - de mais de 60%, segundo as últimas pesquisas. Torna-se ainda mais delicada por se dar no Rio, reduto político do presidente.

E Crivella não foi um bolsonarista de primeiro momento. Até poucos anos atrás, era aliado do PT. Foi ministro de Dilma Rousseff e fez campanha ao lado dela, do então senador Lindbergh Farias e do ex-governador Sérgio Cabral (MDB), hoje preso e condenado a mais de 300 anos. Na atual conjuntura, contudo, aproveitou-se do histórico conservador e da proximidade entre Bolsonaro e a Igreja Universal, da qual é bispo licenciado, para pegar carona no eleitorado direitista.

Confronto

Os principais embates entre candidatos no primeiro turno se deram entre Paes e Martha Rocha. No único encontro em que os postulantes se enfrentaram diretamente, na Band, deram pistas do que aconteceria ao longo da eleição. Trocaram críticas baseadas no que cada um já apresentou como gestor - ele na prefeitura, ela na Polícia Civil.

A briga que mais repercutiu envolve uma notícia publicada em 1996 pelo Jornal do Brasil: "Hélio Luz afasta delegada". O texto, feito com base em depoimento da ex-mulher do contraventor Castor de Andrade, insinuava que a então delegada poderia ter relação com o jogo do bicho.
Luz era o chefe da Polícia Civil e depois virou deputado estadual pelo PT. Ao saber da veiculação dessa notícia de 24 anos atrás pela campanha de Paes, saiu em defesa de Martha. "A notícia em questão é real, verdadeira. Mas está incompleta. Eu determinei o afastamento, ela foi afastada e verificamos que o esquema não tinha nada a ver com ela", disse.

As brigas entre Paes e Martha foram parar na esfera judicial. Ambas as campanhas entraram com pedidos de remoção de conteúdos. O ex-prefeito conseguiu uma vitória ao impedir que a pedetista veiculasse números equivocados sobre as finanças do município após seus mandatos. A deputada, por sua vez, obteve decisão favorável para remover notícias falsas que circulavam sobre ela, impulsionadas por contas ligadas a Paes.

Outro aspecto relevante do cenário eleitoral foi que ele se deu em meio à "ressaca" do governo de Wilson Witzel (PSC) vivida pelos fluminenses. O governador afastado, que derrotou Paes em 2018 na eleição estadual, responde a processo de impeachment. Por isso, passou a ser citado por alguns dos candidatos, principalmente Martha e o ex-prefeito.

Paes escolheu como um de seus motes de campanha a ideia de que o Rio não pode eleger "um novo Crivella ou um novo Witzel". Buscou ressaltar sua experiência à frente do cargo.
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Martha abordou questões morais ligadas ao governador, afastado do posto por suspeitas de corrupção - ele alega inocência e uso político do Judiciário. Martha, inclusive, presidiu, na Assembleia Legislativa, a comissão especial que apurou a má gestão na saúde durante a pandemia. O trabalho ajudou a dar base ao afastamento de Witzel.

PT

Enquanto Crivella tenta se garantir na disputa direta contra Paes e Martha tenta ultrapassá-lo, Benedita da Silva busca espaço. Petista em uma cidade em que o partido do ex-presidente Lula priorizou por anos alianças locais em troca de apoio nacional, a experiente candidata buscou nacionalizar a campanha.
Na última semana, subiu o tom contra Bolsonaro, a fim de se consolidar como a representante da esquerda e evitar dispersão de votos.