Após a eleição de 2018, que foi marcada pelo derrame de notícias falsas nas redes sociais, as fake news continuam sendo disseminadas. Mas os eleitores estão mais atentos a elas e estão se precavendo mais antes de enviar mais links com textos sem base alguma. É o que explica Bianca Amaro, coordenadora geral do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict).
"Não estamos livres das fake news, mas a população já está um pouco mais desconfiada. Hoje temos ferramentas de verificação que não tínhamos nas eleições passadas", diz, afirmando que, justamente pelo fato de ainda circularem muitas notícias falsas, é preciso ter cuidado. "As próprias redes sociais fazem controle dessas notícias. Mas recomendamos que antes de acreditar nas notícias falsas e de passá-las para a frente, que as pessoas chequem a fonte, se é confiável. É preciso fazer uso responsável da comunicação. Muitas vezes o impulso de transmitir a notícia é maior do que nossa necessidade de informação e checagem", diz ela.
"Temos visto muito isso em relação à pandemia, já que há uma série de notícias falsas e fórmulas mágicas para se combater a covid-19 e eram fake. A fake news tem um grau de maldade, mas às vezes passamos informações para a frente porque temos esperança numa fórmula mágica".
Grupos segmentados
Tatiana Dourado, pesquisadora da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas, diz que é preciso ficar atento ao que chega de notícias por intermédio de grupos segmentados de WhatsApp. Entre eles, grupos da igreja, do trabalho, de pais da escola.
"Muita gente recebe a mensagem num desses grupos e vai repassando. Não se deve compartilhar conteúdo sem ler, é preciso ter responsabilidade", afirma, deixando claro que verificar fatos, hoje, é dever cívico.
"Quando alguém posta um conteúdo falso, ele chega primeiro a pessoas que têm maior envolvimento com aquele assunto específico", afirma. "Ele impacta e distorce a opinião pública quando ultrapassa as bolhas ideológicas e entra em grupos periféricos, e é visto por pessoas que podem ter aderência a esse tipo de pensamento, mesmo não tendo envolvimento político".
Alta frequência
Pesquisadora sênior da área de Democracia e Tecnologia do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS) do Rio de Janeiro, Thayane Guimarães concorda que, em termos de tecnologia, o cenário está bem melhor em 2020.
"O WhatsApp implementou um novo limite para mensagens que são categorizadas como sendo de alta frequência. A partir do momento em que ela é compartilhada mais de cinco vezes, já recebe uma tag avisando da alta frequência. E passa a poder ser compartilhada apenas para um usuário ou um grupo por vez. Isso já traz um cenário favorável, porque reduz o potencial de disseminação de mensagens, entre elas notícias falsas", conta ela, outra profissional a observar que as pessoas já estão mais conscientes e informadas.
"Elas já sabem da quantidade de notícias falsas que circulam no período eleitoral. Esse tema está muito presenta na mídia desde 2018, há muitos projetos educacionais, workshops, matérias. Além disso, durante a pandemia houve aumento na busca de sites de notícias confiáveis sobre o coronavírus", afirma.
O ITS, por sinal, foi parceiro na construção de um chatbot em português, voltado para a disseminação de notícias verificadas sobre a covid-19. Ele já existia em outros idiomas e faz parte de um projeto da International Fact-Checking Network. "Qualquer pessoa que tenha o WhatsApp instalado pode conversar com o chatbot, buscar por palavras-chaves e receber resultados. O projeto começou pelo WhatsApp porque é a plataforma onde se verificou maior compartilhamento de notícias falsas", conta.
Comentários