Rio - A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), por meio da Comissão Nacional da Diversidade Sexual, vai entrar com duas representações contra o candidato a deputado federal Matheus Sathler (PSDB-DF). Ele propôs, na propaganda eleitoral gratuita, a adoção do 'kit macho' nas escolas do país, "cartilhas que ensinarão meninos a gostarem somente de mulher".
Uma das representações contra o candidato será na Justiça Eleitoral pedindo a impugnação da candidatura de Sathler. A outra, na mesma OAB, pode levar o candidato a perder o registro de advogado. Para a presidente da Comissão Nacional da Diversidade Sexual, Maria Berenice Dias, a posição do candidato, que também é advogado, é "incompatível" com a de quem pretende ocupar um cargo legislativo. Ainda segundo Berenice Dias, Sathler "arranha a imagem da OAB".
"A posição de um candidato a um cargo eleitoral que a constituição de um país prega a igualdade e proibe qualquer tipo de discriminação é incompatível com uma pessoa que pretende um cargo legislativo. A liberdade de expressão é assegurada, mas não pode afrontar um segmento da população", disse a advogada. A conduta dele fere o código de ética da OAB, acaba arranhando a imagem da instituição", completou.
A Comissão da OAB vai pedir ainda a retirada das propagandas de Sathler de todos os meios de comunicação em que foram divulgadas e que seja assegurado o direito de resposta da entidade no horário eleitoral. Berenice Dias disse que a entidade estuda ainda enquadrar o candidato na Lei de Racismo.
"Já houve decisões judicias que enquadraram atitudes antissemitas e homofóbicas na Lei de Racismo. É algo mais complexo , que nós vamos estudar e verificar a possibilidade de acontecer", explicou.
Em nota, o PSDB do Distrito Federal afirma que "instruiu o candidato a recolher todo o material da propaganda veiculada e não admitirá veiculação de propaganda contrária aos ideais do partido".
Candidato compara homossexualidade a uma doença
Sathler tem recebido uma saraivada de críticas nas redes sociais. Internautas têm apontado o discurso preconceituoso, homofóbico e machista dele. Em outro vídeo publicado por ele no Youtube, no último dia 7 de julho, ele aparece defendendo a criação do “kit macho” e do “kit fêmea”, para defender crianças da 'influência homossexual'.
“Eu me comprometo em criar o kit macho e também o kit fêmea, um nome carinhoso para poder rivalizar com o kit gay que está sendo distribuído nas escolas brasileiras, ensinando o homossexualismo ao seu filho a partir dos 4 anos de idade, agora com a antecipação da idade escolar de 4, 5 anos de idade. Seu filho já vai ser educado [entendendo] que dois homens ou duas mulheres não são família”, prossegue Sathler, que não se acanha em comparar a homossexualidade a uma doença. “Prevenir o homossexualismo é melhor do que remediar”, arremata o candidato tucano em seu vídeo.
O programa Escola Sem Homofobia, apelidado de kit gay, ao contrádio do dito pelo candidato não chegou a ser implementado nas escolas. A presidente Dilma Rousseff vetou o projeto, mesmo admitindo não ter tido acesso ao conteúdo, dizendo que "não faria popaganda de opção sexual".
Em seu discurso, Santhler vai contra as instituições como ONU (Organização das Nações Unidas) e OMS (Organização Mundial da Saúde), que condenam a definição da homossexualidade como doença, inclusive rechaçando o termo ‘homossexualismo’.
Visto por mais de dez mil pessoas, o vídeo recebeu críticas na própria página onde está hospedado no Youtube. “Ninguém escolheria ser homo* em uma sociedade tão escrota, com pessoas como você, Matheus Sathler, que pregam ódio e intolerância, contra minorias e mulheres”, comentou um internauta no site de vídeos.
Mas os homossexuais não são o único alvo do candidato. Ele também ataca outros setores da população. Num vídeo intitulado como “Feminismo: Advogado desmascara Dilma Rousseff”, ele critica o discurso feito pela presidente no Dia Internacional da Mulher, em 8 de março de 2014.
“Quando tive acesso a esse discurso da Dilma Rousseff, eu fiquei impressionado como ninguém se levantou para atacar esse discurso patético, feminista, absurdo e ridículo, e eu me senti profundamente motivado a rebater e a destruir esses argumentos. Eu quero começar com vocês, primeiramente, contra essa palhaçada da Dilma Rousseff querer ser chamada de presidenta. Na verdade é errado, na verdade ela não está querendo ser chamada de presidenta, mas de presidanta, uma justaposição de presidente com um animal irracional”, declarou o candidato no vídeo. Na mesma gravação, ele diz ter orgulho de ser chamado de machista.
Em seus perfis no Twitter e Facebook, o tucano aparece em fotos ao lado do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), notório inimigo da comunidade gay.
*Com informações do IG