Por felipe.martins

Rio -  A 34 dias das eleições, é cada vez mais intensa a mobilização entre diferentes segmentos da Igreja Católica para apoiar candidatos à Presidência da República. De um lado, a ala progressista da Igreja, associada a pastorais sociais, que tem simpatia pela candidatura à reeleição da presidenta Dilma Rousseff, do PT. De outro lado, a corrente da Renovação Carismática, que ensaia apoiar a candidatura de Marina Silva, do PSB.

“Eu penso que a proximidade da Renovação Carismática com a Marina Silva se deve ao fundamentalismo que os caracteriza”, opinou o teólogo Leonardo Boff, um dos expoentes da Teologia da Libertação. “A leitura fundamentalista da Bíblia está presente como tendência tanto em Marina quanto na Renovação Carismática. Não são grupos dominantes dentro da Igreja, mas fazem bastante estardalhaço porque possuem um canal de televisão”, concluiu.

Mesmo evangélica e ligada à Igreja Assembleia de Deus, Marina Silva comunga com setores conservadores e capilarizados do catolicismo, como a Renovação Carismática. Muito desse apoio vem do fato de Marina resistir ao casamento gay, à descriminalização das drogas e a políticas que facilitem o aborto.

Outra ala da Igreja Católica, formada por uma linha de religiosos com teses mais moderadas, pedirá votos para Aécio Neves (PSDB). “Há aqueles que estão insatisfeitos com a gestão atual e ainda guardam certa mágoa do PT, por conta do que aconteceu na Jornada Mundial da Juventude (JMJ)”, diz um renomado padre carioca, lembrando que a Igreja teve que se desfazer de bens para quitar uma dívida de R$ 136 milhões deixada pela JMJ.

O prejuízo foi ocasionado pela necessidade de transferir parte do evento que aconteceria em Guaratiba, no Campus Fidei, para Copacabana. Havia expectativa de um suporte financeiro do governo federal que acabou não acontecendo.

De acordo com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), oficialmente os bispos não vão declarar voto em nenhum dos candidatos, mas, de acordo com fontes, “internamente a postura é outra”.
Dia 16 de setembro, a CNBB promove debate entre os oito presidenciáveis, em Aparecida, São Paulo.

Os discursos dos candidatos à Presidência e seus projetos de governo são elaborados cuidadosamente para não desagradar aos 123 milhões de fiéis — que representam 64,6% da população brasileira, de acordo com dados do IBGE, de 2013.


Recuo da candidata do PSB provoca reação em classe artística

O recuo na defesa do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo e da criminalização da homofobia do programa da candidata Marina Silva (PSB) produziu efeitos antagônicos ontem. Enquanto o pastor Silas Malafaia afirmou que gostou da decisão após ver a revolta de ativistas LGBTs, o escritor Milton Hatoum, que havia declarado apoio à Marina, desistiu de sua posição. Hatoum pediu a retirada de seu nome da galeria do site UOL, que traz a lista dos candidatos apoiados por artistas. Segundo o escritor, sua desistência foi motivada pela incompatibilidade da decisão de Marina com um país laico como o Brasil, que não tem religião oficial.

Ao DIA, Hatoum argumentou que ainda não decidiu em quem irá votar, já que os outros dois candidatos com maiores intenções de votos (Dilma Rousseff e Aécio Neves) também não se manifestarem abertamente sobre essas questões. “Vou ler com atenção as propostas de dois partidos pequenos: PV e Psol”, disse. Já Malafaia, que havia afirmado que o novo texto do programa de Marina ainda estava ambíguo, mudou de posição. “O ativismo gay está irado com Marina. Começo a ficar satisfeito kkkk (sic), valeu a pressão de todos,não estamos aqui pra engolir agenda gay”, disse.

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