Por thiago.antunes

Rio - Uma revista que está circulando pelo Rio para conquistar votos para candidatos evangélicos diz que um projeto de governo internacional de inspiração nazista e comunista está influenciando o governo brasileiro a acabar com a família e a igreja.

“O anticristo está nas leis que querem destruir a família, como a criminalização da homofobia e legalização do aborto”, indica o pastor evangélico Edino Fonseca (PEN) deputado estadual e candidato à reeleição. A publicação detalha essas ideias e faz campanha para o também pastor Ezequiel Teixeira (Solidariedade), postulante à Câmara Federal, e Marina Silva (PSB), candidata à Presidência, defendida por ambos.

Para pedir os votos do eleitorado evangélico, o texto da publicação fala em planejamento do “anticristo para dominar a mente do povo”. Os membros do atual governo são apontados como “guiados pela mão do Satanás” e interessados em promover uma suposta “desconstrução da família original e a apreensão e queima das Bíblias”.

Em revista%2C Marina Silva aparece em fotomontagem do material de campanha dos pastores Edino Fonseca e Ezequiel TeixeiraReprodução

Nas palavras do deputado Edino Fonseca a manifestação do mal brasileiro se consolida em propostas como a de criminalização da homofobia, a que legaliza o aborto, e as que regulamentam a prostituição, a eutanásia e o consumo da maconha. “ Isso não é normal, é um espírito ruim”, enfatizou.

O deputado federal Jean Wyllys (Psol), que reproduziu o material de 24 páginas nas redes sociais no domingo, cobrou um posicionamento de Marina Silva e classificou o texto de “bizarro” e repleto de “mentiras acerca de LGBTs, estimulando o ódio contra estes”.

Fonseca diz que a publicação não tem nenhum cunho preconceituoso. “Defendo os gays mais do que eles mesmos. Jean deveria fazer uma revista com o que acredita, e não ficar apelando”, criticou. Ele diz que espera que Marina “defenda suas posições” e garante que a candidata autorizou o uso de sua imagem. “O assessor de Ezequiel entrou em contato. E ela está só na página de trás, não há crime nisso”.

Doença gay

Fonseca não hesita em dizer que o homossexualismo é uma doença. Ele defende que um médico participe da decisão se um casal de homens pode ou não adotar uma criança. “Não desejamos o abandono dos menores, mas não queremos que pessoas doentes adotem. O médico tem que dizer se pode ou não”. No caso do aborto, ele indica que o pai precisa ter voz na decisão. “Na hora da pensão, não vai lá pedir dinheiro?”

Apesar das diversas referências feitas à Bíblia e a sua atividade como pastor para justificar seus pontos de vista e o ideário que defenderá se eleito, o deputado do PEN argumenta que não mistura religião com política. Segundo ele, a revista, cuja tiragem fora de 20 mil exemplares, só é distribuída do lado de fora da Assembleia de Deus de São Gonçalo. “No culto, as pessoas só querem orar e cantar”.

Em 2010, ex-senadora fez campanha em evento do pastor Ezequiel Teixeira

A relação entre a candidata Marina Silva e o pastor Ezequiel Teixeira não é recente. Em 2010, quando ainda estava no PV, a ambientalista fez campanha ao lado de Fernando Gabeira, então candidato ao Palácio Guanabara, e o deputado federal Alfredo Sirkis no 15º Congresso das Mulheres Comprometidas do Projeto Vida Nova — organizado por Teixeira, em Olaria, na Zona Norte do Rio.

Segundo o site da instituição, Marina falou naquela ocasião “sobre a ascensão das mulheres”. “A candidata lembrou que as mulheres devem se antecipar e devem estar preparadas para guardar seus maridos, filhos, lares, trabalhos, ministérios”, informa a nota no site www.projetovidanovacom.br.

Além disso, a mulher do pastor, Márcia Teixeira, entregou a Marina em 2010 o título de Cidadã Honorária Carioca na Câmara de Vereadores. Na semana passada, Márcia chegou a postar no instagram fotos com a candidata do PSB na premiação. “Sempre acreditando nessa grande mulher de caráter e integridade ”, escreveu ela. Teixeira não quis conversar com a reportagem.

Procurado, o porta-voz da campanha de Marina Silva no Rio, Carlos Painel, reiterou que a candidata não sabia e nem tinha dado autorização para Teixeira e Fonseca usarem sua imagem na revista. “Não conheço. Não sei quem é e não temos relação com os dois partidos”, disse Painel.

Sobre a relação de Marina com o pastor Ezequiel Teixeira, o porta-voz diz que não há nenhuma relação entre os fatos anteriores e a publicação da revista. “Se houve alguma aproximação há dois ou três anos, não ocorreu agora qualquer conversa para autorizar a produção do material com Marina”, finalizou.

Reportagem de Juliana Dal Piva e Leandro Resende

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