Por felipe.martins

Rio -  Na noite deste domingo, as urnas vão decretar um fim ou o começo. Se Dilma Rousseff (PT) arrancar, pode se reeleger no primeiro turno. O mais provável é que a presidenta não consiga os votos necessários, iniciando nova campanha — contra Marina Silva (PSB) ou Aécio Neves (PSDB). Ontem, o tucano ultrapassou Marina, mas os dois estão tecnicamente empatados. De acordo com o Ibope, Dilma tem 46% dos votos válidos (excluindo-se brancos, nulos e indecisos), Aécio tem 27% e Marina, 24%. Já o Datafolha aponta Dilma com 44% dos votos válidos, seguida de Aécio, com 26%. Marina aparece com 24%.

Desde 1989 o Brasil não assiste a uma corrida presidencial tão indefinida. Dos 11 candidatos, três têm possibilidades de vencer. Informalmente, será o início de um terceiro turno, pois o segundo começou com a morte de Eduardo Campos (PSB), em um acidente de avião no dia 13 de agosto.

Os três com chances têm trajetórias distintas. Dilma Rousseff, de 66 anos, nasceu em Belo Horizonte, mas fez carreira no Rio Grande do Sul. Na juventude, militou contra a ditadura no Comando de Libertação Nacional (Colina) e na VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares). Divorciada, tem uma filha, Paula, e um neto, Gabriel.

Marina Silva, de 56, nasceu no seringal Bagaço, no Acre, onde passou dificuldades na infância. Uma das fundadoras do PT, se elegeu vereadora, deputada estadual e senadora pelo partido. Paralelamente, se tornou uma ambientalista internacionalmente conhecida, o que lhe rendeu o convite do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assumir o Ministério do Meio Ambiente, em 2003. Saiu de lá brigada com o PT. No ano passado, filiou-se ao PSB quando não conseguiu fundar seu próprio partido, a Rede. Marina é casada e têm quatro filhos: Shalom, Mayara, Moara e Danilo.

Aécio Neves, de 56 anos, tem berço na política. Neto de Tancredo Neves, foi secretário do avô na campanha de 1985. Hoje, é um político profissional, pois passou toda a vida adulta em cargos eletivos. Foi deputado federal, governador por dois mandatos e é senador. Tem uma filha do primeiro casamento, Gabriela, e é casado com Letícia Weber, com quem teve em junho os gêmeos Bernardo e Júlia.

Dilma Rousseff

(PT)

Quando foi candidata em 2010, Dilma Rousseff era a ‘Mãe do PAC’, expressão forjada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula. Na época, apesar de ser chefe da Casa Civil, ela não era conhecida do eleitorado e nem figurava entre os quadros históricos do PT, o que lhe rendeu o apelido de ‘poste’. A ex-guerrilheira ajudou na criação do PDT de Leonel Brizola e se filiou ao PT somente em 2001, um ano antes de o partido chegar ao poder. Especulou-se até que Lula faria uma espécie de terceiro mandato com Dilma governando nos bastidores. Não aconteceu.

A presidenta tomou as rédeas de seu governo e da candidatura à reeleição, fora da sombra de Lula. Além do Bolsa-Família, principal bandeira social do PT, defendeu suas próprias realizações, como o Mais Médicos e o Pronatec. A área econômica foi marcada por turbulências, entre elas o baixo crescimento. A projeção para este ano é de 0,7%, segundo o Banco Central. Em meio à pressão, sinalizou que fará mudanças na política econômica e anunciou a saída de Guido Mantega, relegando-o ao status de futuro ex-ministro da Fazenda, num segundo mandato.

A presidenta tomou as rédeas de seu governo e da candidatura à reeleição, fora da sombra de LulaReuters

O tema da corrupção da Petrobras também foi explorado pelos rivais, mas a candidatura de Dilma não foi atingida. “O eleitorado de Dilma é fiel. O escândalo atingiu quem já não iria votar no PT”, avalia o deputado federal Miguel Correia (PT-MG). Desde o fim de agosto, a campanha oscilou apenas quatro pontos. No primeiro turno, ela não perdeu pontos pelo fator Marina, como Aécio. O problema estava no segundo turno. Marina abriu dez pontos de vantagem, mas a presidenta reverteu o quadro e hoje ganharia de Marina e de Aécio. Mas o clima é de cautela.

Marina Silva

(PSB)

Quando Marina Silva (PSB) apareceu na TV no dia 13 de agosto, falando sobre a morte de Eduardo Campos, tinha a tragédia estampada no rosto. As olheiras profundas a deixavam com uma expressão ainda mais frágil do que aparenta normalmente. A recomposição foi rápida. Impulsionada por uma arrancada de 21% dos votos, sua candidatura foi oficializada uma semana após o acidente. Neste ínterim, o PSB se organizou rapidamente para superar as divergências ao redor do nome de Marina, mais pela falta de opções do que por afinidade com a ex-senadora.

Em queda nas pesquisas, Marina Silva estava fatigada no último debateJoão Laet / Agência O Dia

Era a segunda vez que ela, nascida Maria Osmarina, disputaria a Presidência. A acreana, que teve a infância marcada pela pobreza e problemas de saúde, entrava na campanha com 20 milhões de votos e em meio à comoção generalizada com a morte de Campos. No dia 29 de agosto, empatou com Dilma (PT) em primeiro lugar nas intenções de voto e impôs uma reviravolta nas estratégias dos rivais, que partiram para o ataque. Em vez de propositiva, a campanha de Marina se tornou defensiva.

Diante do fogo cruzado do PSDB e, principalmente, do PT, a candidata usou seu tempo escasso da TV para desmentir ataques, que davam conta que ela iria acabar com o Bolsa-Família e diminuir os investimentos no pré-sal. Em uma entrevista, chegou a chorar com as críticas que recebeu de Lula, seu padrinho político. Muitas das munições foram dadas de bandeja por ela mesma, quando lançou um programa de governo com incorreções. Na reta final, sua candidatura esmoreceu. A voz rouca no último debate indicava que estava fatigada. Se for para o segundo turno, terá que renascer na campanha — mais uma vez.

Aécio Neves

(PSDB)

A morte de Eduardo Campos (PSB) trouxe dois abalos para o senador Aécio Neves. O primeiro foi em sua candidatura. A certeza de que estaria no segundo turno se dissipou quando o nome de Marina Silva (PSB) começou a emergir da tragédia. Na pesquisa Datafolha de 3 de setembro, chegou a 14% de intenções de voto, 20 pontos abaixo de Marina Silva. O segundo foi na vida pessoal. “A imprensa não entende que a gente é de carne e osso. Imagina o Aécio com dois nenéns novos e a mulher dele vendo o Eduardo morto.

Candidatura de Aécio tomou novo fôlego na reta final do primeiro turnoFabio Gonçalves / Agência O Dia

É uma coisa insana”, afirmou Marcus Pestana, presidente do PSDB de Minas.
Após o ápice da comoção em torno de Campos, o tucano começou a subir. O tempo se tornou o principal adversário para que ele não enterrasse precocemente seu début como presidenciável. Antes de chegar ao posto, Aécio teve que batalhar dentro de seu próprio partido. Em 2010, tentou promover prévias no PSDB para a escolha do candidato a presidente, mas foi barrado pela ala paulista. Acabou no Senado, onde era uma das esperanças da oposição, mas teve uma atuação apagada.

A derrota de José Serra para Dilma em 2010 fez de Aécio pré-candidato natural. Governador de Minas de 2003 a 2010, teve dois mandatos bem avaliados, com base majoritária na Assembleia. Na campanha, recrutou o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga para assessor nas questões econômicas, consideradas ponto fraco do governo. Se passar para a próxima fase, vai honrar a participação do PSDB no segundo turno em 20 anos. Se não chegar, sairá duplamente derrotado, já que seu candidato deve perder em Minas, reduto tucano nos últimos 12 anos.

Eduardo Jorge

(PV)

Entrou na política em 1968, no Partido Comunista Brasileiro Revolucionário. Foi fundador do PT, deputado federal e secretário municipal em São Paulo, em gestões petistas e tucanas. “O PV não é pró-capitalista nem pró-socialista. É partido ecologista”, diz. Fecha a campanha como o mais querido nas redes sociais.

Luciana Genro

(Psol)

A professora é filha do governador gaúcho, Tarso Genro (PT). Elegeu-se deputada estadual e federal pelo PT, mas foi expulsa em 2003. Com outros dissidentes, fundou o Psol. Defende bandeiras progressistas, como a criminalização da homofobia e a descriminalização das drogas e do aborto.

Levy Fidelix

(PRTB)

Defensor do aerotrem, é candidato à Presidência pela segunda vez — a primeira foi em 2010. Este ano, participou pela primeira vez de debates na TV. Defende a privatização de prisões e a redução da maioridade penal, mas sua campanha ficará marcada pela intolerância com homossexuais.

Pastor Everaldo

(PSC)

Candidato pela primeira vez, é conservador na área social e liberal na economia. Prometeu que, se eleito, iria privatizar a Petrobras. É pastor da Assembleia de Deus e teve a carreira impulsionada pelo ex-governador Anthony Garotinho (PR), de quem foi subsecretário do Gabinete Civil.

Mauro Iasi

(PCB)

Concorre à Presidência pela primeira vez. Formado em História pela PUC-SP e doutor em Sociologia pela USP, foi fundador do PT e militou na campanha de Lula em 1989. Em 2004, foi para o PCB. Em seu programa de governo, defende a revolução socialista por meio de lutas populares.

José Maria Eymael

(PSDC)

Candidato pela quinta vez ao Planalto, o empresário gaúcho é o mais rico entre os concorrentes, com patrimônio de <MC1>R$ 17 milhões. Ficou conhecido pelo jingle “Ei, Ei, Eymael / Um democrata cristão”, que usa há mais de 30 anos. Neste ano, decidiu reduzir o uso da música.

Rui Costa Pimenta

(PCO)

Candidato pela quarta vez à Presidência, é socialista de orientação trotskista. Foi presidente da CUT em São Paulo e edita o jornal ‘Causa Operária’. Entre suas propostas, estão o aumento do salário mínimo para R$ 3,5 mil e a jornada máxima de trabalho de 35 horas semanais.

ZÉ MARIA

(PSTU)

Em sua quarta candidatura, defende <MC1>a estatização dos bancos, do sistema financeiro e a reestatização das empresas privatizadas. O metalúrgico participou das greves da região do ABC nos anos 1980, mesma região em que Lula militava. Foi fundador da CUT e do PT. Em 1994, fundou o PSTU com dissidentes petistas.

Você pode gostar