Por bianca.lobianco

Rio - Ainda que não se defina logo mais quem ocupará pelos próximos quatro anos o Palácio Guanabara, é certo, desde já, que o interior fluminense sai destas eleições como um vencedor. Vêm de lá três importantes postulantes — Luiz Fernando Pezão (PMDB), de Piraí; Anthony Garotinho (PR), de Campos dos Goytacazes; e Tarcísio Motta (Psol), de Petrópolis. Juntos, eles devem ter mais votos que os cariocas Marcelo Crivella (PRB), Dayse Oliveira (PSTU) e Ney Nunes (PCB), segundo as pesquisas de intenções de voto. Completa a lista um legítimo representante do Nordeste: o paraibano Lindberg Farias (PT).

Para especialistas ouvidos pelo DIA, o Rio de Janeiro é um lugar tradicionalmente aberto ao interior e aos migrantes de outros estados e faz jus ao título de metrópole, recebendo-os bem — inclusive os estrangeiros.

“Foi assim com Leonel Brizola, que veio do Rio Grande do Sul, onde chegou a ser governador, e com Moreira Franco, um piauiense”, lembra o cientista político Paulo Baía, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele observa que Brizola, Moreira Franco e, mais recentemente, o senador Lindberg Farias têm forte identificação com o estado.

Seu colega das ciências políticas, o professor da PUC-RJ Cesar Romero Jacob pondera que os votos no Rio são divididos entre grupos bem definidos. O menor deles, chamado, por ele, de “Orla” — Barra, Leblon, Ipanema, Copacabana e Tijuca — vota de forma oposta aos outros, que inclui o resto da Zona Norte, a Baixada Fluminense e São Gonçalo e o interior. Com exceção desse último, diz Jacob, nenhum deles pesa, na hora do voto, a origem do postulante. Baía concorda.

“A ‘Orla’ tem um voto mais ideológico, enquanto Baixada e São Gonçalo preferem o pragmatismo — ‘tenho este problema e escolho quem parece ser mais eficiente para resolvê-lo’ — e, finalmente, o interior, que é mais afetivo. Tanto assim que hoje se divide entre seus dois filhos: Pezão e Garotinho”, analisa o professor da UFRJ.

Coincidência ou não, os dois foram aliados e quase fiéis de outro “forasteiro”, o gaúcho Leonel Brizola, quando, na década de 1990, enfileiravam-se no PDT. Foi no ex-governador do Rio Grande do Sul, inclusive, que se inspirou politicamente Garotinho. Entretanto, divergências sobre os rumos do partido separaram os pupilos do tutor. Ambicionando concorrer à Presidência do país, o então governador Garotinho deixou o PDT, em 2000, levando consigo o escudeiro Pezão.

Homem humilde de Piraí no Palácio Guanabara

A humildade é a característica que gostam de destacar amigos e funcionários do governador e candidato Luiz Fernando Pezão (PMDB). “É um homem do povo, humilde e sem afetação”, elogia Vicente Loureiro, amigo há mais de 20 anos e sub-secretário estadual de Urbanismo.

Na década de 1980, Pezão foi eleito vereador em Piraí, sua terra natal. Depois, por duas vezes, foi prefeito e, em seguida, secretário dos governos Anthony e Rosinha Garotinho. Foi ainda vice e secretário de Obras de Sérgio Cabral — a pedido do hoje adversário Garotinho, a quem pode enfrentar no segundo turno — e, finalmente, governador, agora tentando a reeleição.

“Isso mostra o quanto tem de experiência na administração pública”, defende Vicente Loureiro, acrescentando a frase que, segundo ele, mais ouve do amigo: “Como vamos tirar do papel?”

Culto a Brizola e oratória impulsionaram carreira

Na definição da filha Clarissa, Anthony Garotinho (PR) é um pai “de coração grande” e que “sabe perdoar”. São nove rebentos. Para adversários, é o seu ego que chama a atenção. Já amigos e inimigos concordam numa coisa: sua capacidade de oratória.

Órfão ainda adolescente, Garotinho foi criado pelo avô paterno, chamado de ‘Vovô Naíne’, com quem, segundo Clarissa, aprendeu princípios éticos e de quem herdou também a admiração por Leonel Brizola, líder trabalhista. Romperam, ele e Brizola, em 2000. Perdoaram-se tempos depois.

“Ele sempre foi uma pessoa idealista e, na escola, participou dos movimentos estudantis. Sua decisão de entrar para política institucional foi para defender trabalhadores dos canaviais das injustiças praticadas pelos usineiros, em Campos”, revela Clarissa.


Oficial do Exército, pastor, cantor e muito romântico

É grande a lista de ocupações de Marcello Crivella (PRB): primeiro-tenente do Exército, engenheiro civil, pastor, cantor, fazendeiro, fundador de 500 templos Universal em 22 países africanos, bispo e senador da República. Somam-se às suas atribuições ser marido, pai de três filhos, avô de dois netos e sobrinho de Edir Macedo.

Para o amigo e fiel escudeiro de campanha há 10 anos, Isaías Zavarise, tantas coisas assim partem de seu “desejo de servir”. “Ele pensa nos outros. Sua trajetória de vida foi sempre assim”, defende Zavarise, segundo quem Crivella raramente se irrita com algo. “Só com injustiça”, diz.

Casado há 34 anos com Sylvia Jane Crivella, não perde o romantismo. Anda de mãos dadas e chama de “meu amor”, conforme testemunhou a reportagem num dos debates. “Realmente ele continua romântico e surpreendente”, confessa a mulher.

Ex-líder da UNE se destacou na campanha contra Collor

O senador Lindberg Farias (PT) é conhecido pela boa aparência e por ter sido líder da União Nacional dos Estudantes (UNE) nos protestos contra o presidente Fernando Collor de Mello. Eles hoje dividem o mesmo ambiente no Senado Federal — um, eleito pelo Rio de Janeiro; outro, pelo Estado de Alagoas.

“Ele não vê a política como trabalho, mas como instrumento de transformação”, defende Maria Antônia, com quem é casado há 20 anos e tem três filhos — Luís, de 18 anos; Beatriz, de 4; e Marina, de 2. As duas “usam e abusam do pai”, comenta a mulher, acrescentando que a visão de mundo do casal mudou após o nascimento da filha menor, com Síndrome de Down. Lindberg desde então atua no Congresso Nacional em defesa das pessoas com deficiência. “É uma mudança de paradigma, e a experiência com a Beatriz é sensacional para nós dois.”

Tarcísio Motta (PSOL) - Professor da rede estadual, o candidato é um dos fundadores do Psol e não era o favorito dentro do partido para concorrer no pleito. Substituiu Marcelo Freixo, que abriu mão da disputa ao governo do estado. Antes, Tarcísio atuou no Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação.

Dayse Oliveira (PSTU) - Mestre em História pela UFF, a professora Dayse não é neófita na política. É sua quarta eleição — concorreu à vice-presidente em 2002, à prefeitura de São Gonçalo, em 2004 e 2012, e ao Senado, em 2006. Sua principal atuação política é no Sepe (Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação).

Ney Nunes (PCB) - Sua militância e luta política começaram contra a ditadura militar, pedindo a anistia dos presos políticos. Mais tarde, atuou pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), mas se desvinculou da entidade quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu acolher sindicalistas em seu governo.





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