Por felipe.martins

Rio -  Entre tapas e beijos. Assim pode ser definido o debate realizado na manhã desta quarta-feira entre Luiz Fernando Pezão (PMDB) e Marcelo Crivella (PRB). Foi o primeiro encontro entre ambos no segundo turno das eleições para o governo do estado do Rio, realizado na sede da OAB e promovido pela revista Veja.

O evento começou animado, com Crivella questionando Pezão sobre o porquê de fluminenses com câncer estarem procurando tratamento em Juiz de Fora, Minas Gerais. Na resposta, sobrou para o governo da presidenta Dilma, que ambos apoiam.

"O tratamento de câncer é feito pelo INCA, que é federal. E nós passamos a campanha falando sobre as OSs (Organizações Sociais) justamente porque o INCA vive um problema de contratação para algumas especialidades. Nós construímos o Hospital Dona Lindu, em Paraíba do Sul, que já realizou mais de 10 mil cirurgias de quadril e atende também o pessoal da Zona da Mata, em Minas. O que interessa é o cidadão ser atendido", respondeu Pezão.

Candidatos trocaram acusações em primeiro debate do segundo turnoFernando Souza / Agência O Dia

Na réplica, Crivella manteve o tom pesado na crítica. "O que faltou foi planejamento e interesse. Quem tem câncer saber o quanto é difícil sair daqui para ser atendido em Juiz de Fora", atacou Crivella. A tréplica de Pezão foi, de novo, batendo no governo federal. E no seu adversário, que é senador. "Os hospitais federais fecharam todas suas emergências. Mas nós vamos ajudar a reabri-las. Infelizmente o senhor e o seu novo aliado Lindberg não ajudaram a melhorar a questão dos hospitais federais", bateu Pezão.

Em seguida, o governador perguntou a Crivella sobre suas propostas para manter o baixo nível de desemprego no estado (em torno de 3%), mas teve de ouvir novas alfinetadas, ainda relacionadas à saúde. "Engraçado é que ele fala de mim e do Lindberg, mas não fala do vice dele, Francisco Dornelles, que é senador também. E o hospital Dona Lindu quem fez foi Garotinho", disse Crivella.

Se faltava alguma coisa para o debate pegar ainda mais fogo, após a citação ao ex-governador Garotinho, não faltou mais nada."Toma cuidado com o Garotinho, que vai acabar fazendo o senhor mentir também. Quem fez o Dona Lindu fomos nós", disse Pezão.

Marcelo Crivella cumprimenta Pezão no primeiro debate do segundo turno%2C em que trocaram acusaçõesFernando Souza / Agência O Dia

Crivella rebateu de imediato: "O pessoal na rua fala que o pé do Pezão cresceu porque ele é o Penóquio. Quem fala mentira não sou eu", disse o senador. O segundo bloco foi aberto por uma pergunta do cineasta José Padilha, diretor do Tropa de Elite, que associou a crise na segurança pública ao mau serviço prestado pela PM, considerada corrupta e violenta. Padilha perguntou se havia possibilidade de criar uma UPP 2 dentro da polícia através da PEC 51, projeto de lei que prevê, entre outras coisas, a desmilitarização da PM.

"Isto só será possível daqui a 30 anos, quando o poder público levar a paz aos territórios ocupados pelo tráfico", desconversou Pezão. Em seu comentário, Crivella elogiou o projeto inicial das UPPs, mas criticou a sua expansão desenfreada com objetivos eleitorais. E sugeriu a criação de uma "zona franca" nas comunidades para gerar emprego e renda nestes locais.

"Para o estado comprar ali seus móveis, as roupas de cama para os hospitais", exemplificou o senador. Pezão não aceitou a sugestão e contra-atacou com raiva, dando início à segunda fase da provocação, passando a recordar, a cada pergunta e resposta, que Crivella é bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, e que procurou evitar tocar neste tema durante a campanha.

"Crivellinho, que agora é a mistura de Crivella e Garotinho, ou Bispo Crivella, as empresas saíram do Rio do Garotinho. O senhor também trabalhou na Emop (Empresa de Obras Públicas do Estado) no governo Moreira, que foi responsável pelo desmonte dos CIEPs que o senhor tanto fala. Falar é fácil", disparou.

A pergunta seguinte coube ao pastor Silas Malafaia, que travou uma Guerra Santa com Crivella, acusando a Igreja Universal de querer monopolizar as redes de rádio e televisão. "A Igreja Universal coloca as outras para fora como vira-latas. Se não respeita nem os irmãos de fé, imagina as outras religiões", disse Malafaia. Crivella respondeu insinuando que Malafaia estava ali a serviço de Pezão e os dois bateram boca.

"As pessoas conhecem as suas ligações com este governo", disse Crivella. "Mentiroso", respondeu Malafaia, com dedo em riste. "Mentiroso é você!", rebateu Crivella, para em seguida concluir: "Suas mágoas, recalques e frustrações, leve a Deus, não a mim. Eu prego a Cristo, não a Igreja Universal. Eu vou até a sua Igreja!

Pezão aproveitou o direito de comentar a resposta e colocou mais lenha na fogueira. "Bispo Crivella passou o primeiro turno dizendo que só ele era honesto, que só ele tinha mãos limpas e agora se une a Garotinho. A quem ele serve?", provocou. E não ficou sem resposta: "Você fala mal do bispo Edir Macedo, mas elogiou ele. Você fala da Dilma, mas é Aécio. Quem diz que sou ficha limpa não sou eu, é a Justiça. Eu não tenho um processo sequer", rebateu.

O terceiro convidado a perguntar foi o humorista Marcelo Madureira, que antes de perguntar por que Pezão escondeu Cabral ao longo da campanha, fez elogios rasgados ao ex-governador, a quem chamou de Serginho e, segundo Madureira, foi o melhor governante da história. "Cabral já é conhecido e participou do primeiro programa da minha campanha. Eu precisava ser conhecido. Aparecer mais. Não sou como o Crivella que se candidata a tudo a cada dois anos. Eu tenho que aparecer", justificou.

A réplica de Crivella foi na canela de Pezão, Cabral e Madureira: "Foi o melhor governo dos últimos anos sim, mas graças ao governo federal. A Transcarioca, Transoeste, trans tudo, arco metropolitano, pólo petroquímico, tudo foi com dinheiro federal, de uma aliança que eu construí, porque o Sérgio Cabral sempre foi oposição ao Lula", disse.

A corrupção ficou para a parte final do debate, com Crivella mostrando o relatório do Tribunal de Contas do Estado de 171 páginas com "barbaridades em relação aos contratos do governo com a construtura Delta". Pezão disse que terá o maior prazer em responder qualquer tipo de questionamento e Crivella mudou o tom, passando dos tapas aos beijos, que foram retribuídos pelo governador.

Malafaia e Crivella travaram uma verdadeira guerra santa em debate na OABFernando Souza / Agência O Dia

"O senhor não tem que responder para mim, mas na CPI. Mas não falo sobre a sua honra porque acho que você é um homem de bem. Falo dos jantares em Paris com o ex-secretário de Saúde (Sérgio Côrtes) em festa e o povo esperando na fila dos hospitais", disse Crivella.

Após uma sequência de perguntas e respostas sobre direitos LGBT e educação sem muitas polêmicas ou novidades, e sim trocas de acusações que já vinham sendo feitas em outros debates, a religião voltou à pauta quando Crivella foi contestado por pedir, em 2001, passaporte diplomático para o missionário R.R. Soares.

"Ele é um missionário que viaja o mundo inteiro e não deixe de ser um difusor da nossa cultura. O passaporte não é dado apenas para parlamentares, mas para líderes que têm representatividade. Se bispos católicos podem ter, por que ele não pode? É ilegítimo? Quando é bispo católico, não é misturar política com religião? Isso não é preconceito?" defendeu-se.

Em mais uma rodada de perguntas sobre corrupção, Crivella voltou a morder e assoprar Pezão. "Acho o Pezão sincero, mas ele não manda na campanha e nem no governo. Ele chegou ao poder com o pior grupo que há no estado. É um escândalo atrás do outro", disse Crivella.

Pezão rebateu com ironia, fazendo a plateia cair na gargalhada. "Que manda no governo sou eu, Bispo Crivella. O senhor é que é um representante do seu tio, Bispo Edir Macedo, da Igreja Universal. Mas eu fiquei feliz foi de ver a entrevista da sua mãe dizendo que quase votou em mim. Eu acho que até o senhor vai acabar votando porque sabe que sou o melhor candidato", brincou Pezão.

Crivella entrou na onda e respondeu arrancando ainda mais gargalhadas do público convidado. "Quero falar sobre minha mãe. O marqueteiro dele fez o que tinha que ser feito. Fez ele ser o anti-Cabral, o homem do interior, bonzinho. Acabou quase convencendo até a minha mãe (risos). Mas eu pedi a ela para não votar, apenas orar por ele (risos)", respondeu, brincando.

No fim, o senador pediu o fim da continuidade do PMDB no poder fluminense e acabou, como Pezão no início, distribuindo pedradas até em aliados. No caso, o recém-chegado Anthony Garotinho, que em 2006 fez greve de fome por se julgar perseguido pelos "poderosos".

"Precisamos acabar com esta metástase, que a corrupção no nosso estado. O PMDB foi mesmo o coveiro dos CIEPs, e nem sei como o PDT está apoiando o Pezão. Quero dizer que o povo não vai ter vergonha de mim como governador, não vai precisar ir para as ruas dizer "Fora Cabral", nem vai me ver com guardanapo na cabeça em Paris ou fazendo greve de fome", brincou. Como se pode ver, assunto foi o que não faltou no debate. Quem não viu, perdeu. 

Você pode gostar