Por rafael.arantes

Paraná - Caio Júnior destoa da figura de técnico estilo "boleiro". Ele foi jogador - se destacou com a camisa do Grêmio - e agora se caracteriza por um perfil intelectual e estudioso como treinador. Além disso, surgiu como esperança de renovação na classe. Caio Júnior não se limita apenas ao campo. A bandeira do profissional é por melhorias também em estrutura no futebol brasileiro, tanto que atua como vice-presidente da Federação dos Treinadores de Futebol. O olhar dele sobre o mundo da bola é amplo, passa por problemas no calendário, de condição de trabalho no futebol carioca (dirigiu Flamengo e Botafogo) e de apoio ao Bom Senso F.C, como aborda nesta entrevista.

Caio Júnior acredita em melhorias no cenário do futebol brasileiroLuiz Fernando Menezes / Agência O Dia

O DIA: O que você tem achado das reivindicações do Bom Senso F.C.?

Caio Júnior: Estou muito contente com esta situação deles. Até gostaria de voltar a ser jogador e reivindicar da mesma maneira que eles estão fazendo, mas agora faço minha parte como treinador. Também estamos em busca dessas melhorias por meio da Federação dos Treinadores. Queremos transformar nossa classe em um poder mais forte. Somos totalmente favoráveis ao Bom Senso e confio que toda essa batalha servirá muito para o futebol nacional.
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Acredita numa melhora imediata no calendário nacional?
Não. Acho que o calendário só irá se ajeitar ou pelo menos se direcionar para um nível razoável em 2015. O ano de 2014 será muito difícil até mesmo em razão da Copa. Será muito complicado conseguir ajustar todas as competições e diminuir a frequência dos jogos. Esta será uma temporada de muita luta por melhorias, mas acredito muito que em 2015 teremos uma posição favorável, com férias em dezembro e o mês de janeiro dedicado à pré-temporada.
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Acha que a atitude dos jogadores em protestar antes das partidas está correta?

Estou achando essa atitude deles muito legal. Eles estão fazendo o torcedor pensar mais, fazendo jovens e crianças imaginarem por que os jogadores estão fazendo isso, provocando uma reflexão da torcida sobre um calendário realmente absurdo. Há anos que jogamos às 22h, isso é inadmissível. Fazer o torcedor sair do estádio 1h da manhã é um absurdo.

E sobre o lado técnico do futebol nacional. O que achou desta temporada do Brasileirão?

Acho que este não foi um campeonato de alto nível técnico e isto é algo que precisa ser repensado em um nível geral. O fato de quatro equipes serem rebaixadas é algo muito cruel com os clubes, acho muito errado e injusto. Em nenhum lugar do mundo quatro equipes são rebaixadas anualmente, deveriam cair apenas duas, até mesmo para haver uma maior possibilidade dos times se postarem de maneira mais ofensiva, preocupando-se menos com os riscos. Acho que este não foi um ano tão positivo como o último.
Caio Júnior cobra melhores estruturas dos clubesAndré Luiz Mello / Agência O Dia

O que você destaca como a coisa mais positiva deste ano?

O futebol mineiro. As equipes de Minas realmente fizeram um ano espetacular, e não somente em relação ao Campeonato Brasileiro. Cruzeiro e Atlético-MG possuem um grande planejamento, uma estrutura de primeira. O Cuca está há muitos anos no Galo e consegue ter boas condições de manutenção da equipe e de trabalho. De outro lado temos o Cruzeiro que formou uma equipe baseada em qualidade ofensiva, com jogadores de muito profissionalismo. Deu muito certo. Os dois times foram campeões e agora vamos esperar para ver se o Atlético consegue repetir o feito do Corinthians e se sagrar campeão mundial.

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E a situação do futebol carioca? Pelo menos uma equipe do Rio será rebaixada (Vasco ou Fluminense). O que você acha disso?
Comparando com os outros estados, acho que o que falta aos clubes do Rio são melhores estruturas, mas isso não representa o motivo maior pelo qual as equipes não tiveram um grande rendimento. Posso voltar a falar de Minas e exemplificar a questão das boas condições de trabalho como um dos motivos para o bom rendimento. Mas especificamente no caso do Fluminense são coisas naturais do futebol. Esta é praticamente a mesma equipe que foi campeã no ano passado, mas acho que a saída do Abel acabou abalando muito o time. Já o Vasco podemos considerar os problemas financeiros como maior problema para a equipe. O clube encontrou uma grande dificuldade para se planejar e formar seu time, isto é bem claro.
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Acredita que os treinadores podem exercer uma posição que colabore com o clube na tentativa de melhorar estrutural?
Acho que o treinador pode, sim, ajudar nesta parte de estrutura. Atualmente a parceria entre técnicos e diretoria é fundamental. O que não concordo é sobre participação em contratações, pode até haver uma indicação em questões técnicas, mas relação com empresários e intervenção nas negociações eu reprovo totalmente. De resto é possível que os treinadores colaborem muito.
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Em 2014 teremos a Chapecoense na Série A. Mesmo com a surpreendente trajetória na Segunda Divisão, o clube não possui muita estrutura (não tem CT, por exemplo). Como você prevê a situação da equipe de Santa Catarina?
No caso da Chapecoense o grande dilema agora é como se manter na Primeira Divisão, como ficar na Série A sem uma grande estrutura. Chegar lá em cima às vezes é até mais fácil do que se manter. Eles têm o principal, que é o grande apoio da cidade e da torcida, este é um caminho que pode ajudar. Mas é muito importante eles pensarem e se planejarem para conseguir se manter neste primeiro ano na elite do futebol brasileiro. Isto fará a diferença no futuro do clube.

Você chegou a ser cogitado como substituto de Vanderlei Luxemburgo no Fluminense. Como foi esta situação?

Na verdade eu recebi uma ligação do Rodrigo Caetano, uma sondagem. Ele queria saber qual era minha situação, onde eu estava... Mas depois disso não houve outro contato. Não sei qual foi a decisão final, os motivos, mas fiquei muito satisfeito pela possibilidade e por ter sido lembrado pela diretoria do clube.

Caio Júnior fez estágio no Real Madrid%2C com o técnico Carlo AncelottiDivulgação

A saída do Vitória traumatizou seus planos finais desta temporada? Como foi o estágio na Europa?

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Eu contava em começar e terminar o ano. Queria também ser campeão e consegui, vencendo o Campeonato Baiano, mas como não terminei a temporada, achei que seria ideal ver algum outro parâmetro de trabalho, por isso não pensei duas vezes quando tive o convite para ir ao Benfica e ao Real Madrid. Foi tudo muito bom. Saber que estou no caminho certo é algo que me deixa muito feliz. Consegui comparar estilos de trabalhos similares, linhas semelhantes.
E o que tem em mente para 2014?
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Agora meu objetivo é receber algum convite para recomeçar um trabalho. Quero planejar e estruturar novamente. Essa é uma das coisas mais importantes de um projeto quando aceito um trabalho. É por isso que fico muito feliz de ver o Vitória ainda na briga por uma vaga na Libertadores. É muito bom saber que este elenco que eu formei tem alcançado grandes passos até o fim da temporada.
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