Por ulisses.valentim
Rio - Apontada como um dos legados dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, a despoluição da Baía de Guanabara tem virado cada vez mais alvo de desconfiança dos velejadores. Programas de revitalização do local existem desde 1994, porém sem resultados efetivos. O novo alerta partiu de Torben Grael, treinador-chefe da seleção brasileira olímpica de vela.
"Há mais de 20 anos falam em programa de despoluição, mas as mudanças foram bem aquém do prometido. As pessoas precisam apontar os problemas, se a gente se calasse seria muito pior. Muito trabalho precisa ser feito ainda. O intuito nosso é evitar um vexame nos Jogos Olímpicos de 2016", disse Grael durante o Prêmio Brasil Olímpico, em São Paulo, onde foi agraciado com o Troféu Adhemar Ferreira da Silva.
Baía de Guanabara merece cuidados, segundo Torben GraelEstefan Radovicz / Agência O Dia

O compromisso entre o governo do Rio de Janeiro e o Comitê Olímpico Internacional (COI) é entregar a Baía de Guanabara, palco da vela nos Jogos, pelo menos 80% despoluída em 2016. Em novembro, Carlos Minc, secretário estadual de Ambiente, afirmou que os programas "estão saindo do papel". Mas há cerca de duas semanas alguns velejadores estrangeiros vieram conhecer o local. Na visão do britânico Ian Baker, "é um esgoto, absolutamente nojento." O dinamarquês Allan Norregaard, medalha de bronze na classe 49er na Olimpíada de Londres-2012, também se indignou com as condições.

"Eu tenho velejado por todo o mundo há mais de 20 anos e é o local mais poluído que já estive. É realmente uma pena porque são uma área e cidades muito bonitas, mas a água é poluída, suja e cheia de lixo. Definitivamente, eu não nadaria lá. Nós tivemos uma série de incidentes onde as pessoas foram à água e voltaram com pontos vermelhos no corpo. Não sei o que há na água, mas definitivamente não é saudável", disse à agência Associated Press.

Publicidade
Torben, que veleja no local desde o início da carreira e mantém um projeto social de vela na Baía de Guanabara, sabe que despoluir as águas não é missão das mais fáceis. "Dificilmente vai ficar 100%, porque isso também envolve outras coisas, como a educação das pessoas, evitar que despejem detritos no mar, grandes investimentos. O Brasil tem feito uma boa organização dos grandes eventos, mas sobre a Baía de Guanabara, para ter uma solução, é necessário atuar com mais seriedade", avaliou o maior medalhista olímpico do país, ao lado do também velejador Robert Scheidt, com cinco pódios.
Eleito o melhor atleta de 2013 em votação popular no Prêmio Brasil Olímpico, Jorge Zarif também destacou a necessidade de revitalizar a região. "O governo tem muitos projetos de melhoria, mais de 150 córregos desembocam na Baía, não é um trabalho que será do dia para a noite. A gente fala muito em legado, e um legado legal que o Rio de Janeiro poderia ter é a despoluição da Baía de Guanabara. Nunca tive problemas lá, de vez em quando você colide com alguma coisa, estamos mais acostumados do que os gringos, mas tem de ser tomada alguma providência", afirmou o velejador de 20 anos, campeão mundial júnior e adulto da classe Finn este ano.
Publicidade
Reportagem deAretha Martins e Thiago Rocha