Desacreditado pelo próprio pai, menino realizou o sonho de jogar pelo Flamengo, pela Seleção e brilhou no Galo e no Flu
Por fabio.klotz
Minas Gerais - Foi em um distante Fla-Flu nos anos 1950 que um destemido garotinho, de apenas 12 anos, virou para o pai e fez uma promessa solene: “Um dia serei goleiro do Flamengo e da seleção brasileira”. O pai duvidou, desencorajou e até desdenhou da convicção do filho. Mas duas décadas depois, o garotinho cumpriria sua palavra com louvor. Em mais de 20 anos de carreira, Renato não só vestiria a camisa rubro-negra, como também a de Fluminense, Atlético-MG, Bahia e até a Amarelinha. Hoje, aos 69 anos, ele curte a aposentadoria no bairro Maracanã, em Uberlândia (MG), e lembra sua trajetória com carinho.
“Nunca deixei de acreditar em mim, de correr atrás do meu sonho. Tive uma carreira de sucesso. Fui muito feliz em todos os clubes que joguei. Recebo homenagens até hoje, acho que deixei um rastro bom”, afirma o ex-jogador, que foi influenciado por dois grandes goleiros na carreira: “Fiquei alucinado quando vi um jogo do argentino Antonio Roma (Boca Juniors). Esse cara pegava bola de tudo quanto era jeito, o estilo dele me impressionou. Aprendi muito com o Barbosa, que tive o prazer de conhecer e ver jogar. Gostava muito da técnica dele”.
Mas para vingar no futebol, Renato precisou de talento e muita paciência. Apesar de ter nascido em uma família de classe média alta do Leme, o jovem goleiro treinou escondido do pai até os 20 anos, quando assinou o primeiro contrato com o Flamengo. Na Gávea, teve muitas dificuldades para se firmar e acabou se transferindo para o Uberlândia e depois para o Atlético-MG, pelo qual foi campeão brasileiro, em 1971.
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A boa fase no time mineiro chamou a atenção do Flamengo que o contratou de volta, em 1972. Pelo Rubro-Negro, Renato conquistou dois Cariocas e foi convocado para defender a Seleção na Copa de 1974. Mas, no fim de 75, deixou seu time do coração após um mal-entendido com o técnico Carlos Froner. Convidado pelo então presidente tricolor Francisco Horta a jogar nas Laranjeiras, Renato não hesitou: “Aceitei na hora e fui envolvido em um troca-troca. Eu, Doval e Rodrigues Neto fomos trocados por Roberto (goleiro), Zé Roberto (ponta-esquerda) e o Toninho (lateral-direito). Foi uma confusão danada, nunca havia acontecido isso entre clubes rivais, mas deu certo.”
Com a camisa tricolor, Renato comemorou a conquista de mais um Carioca.
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“Participei da campanha do bicampeonato de 1976. Fiquei no Flu até o fim de 1979, quando fui para o Bahia e pelo qual também fui campeão”, lembra.
Na Seleção, uma convocação de última hora
Foi no ano de 1973 que Renato conseguiu cumprir a segunda promessa que havia feito ao pai, quando era ainda garoto. Ele foi convocado para a Seleção e fez parte do grupo que disputou a Copa de 1974, na Alemanha: “Minha mãe ouviu no rádio a convocação. Meu pai ficou satisfeito demais. Foi a realização de um sonho.”
Mas, na Seleção, Renato teve poucas chances. Jogou só duas vezes - contra a Argélia e a Áustria, em uma excursão em 1973. Em 1974, foi convocado para a Copa porque Félix, do Flu, havia se machucado: “Fiquei frustrado porque não pude participar, mas foi um grande prêmio ser lembrado”.
Perguntado sobre os goleiros da seleção, Renato é pessimista.
“O Julio Cesar nem estava jogando e quando voltou foi muito mal. Se ele não jogar não tem como ir à Copa. Eu não confio no Jefferson e o Cavalieri teve alguns problemas. Gosto do Victor, mas ele jogou pouco na Seleção. Não sei se o Felipão lhe daria uma chance”, alerta.
Pessimista, não prevê um caminho fácil para o Brasil no Mundial. “Podemos começar a perder a Copa por não termos um grande goleiro.”
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Experiência das Árabias marcou no fim
Em 1983, Renato se transferiu para o Al-Ahli (Arábia Saudita), pelo qual encerrou a carreira. Passou ainda mais uma temporada no futebol árabe como treinador de goleiros. De volta ao Brasil, trabalhou no Vasco, teve rápida passagem pela Seleção e ainda trabalhou com Parreira na seleção saudita nas Eliminatórias da Copa de 1990 até parar de vez com o futebol.
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“Eu gostava mesmo era de jogar. Parei com 45 anos. Até o ano passado trabalhava em uma autarquia em Uberlândia. Mas agora me aposentei, quero mesmo é curtir a família”, diz
Questionado se ainda torce por algum clube, Renato confessa.
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“O time que tenho mais simpatia e carinho é o Atlético-MG, que sempre me deu atenção e me homenageou.”