Por victor.abreu
Espanha - A obscura transferência de Neymar para o Barcelona em junho do ano passado que culminou no pedido de renúncia do presidente Sandro Rosell na quinta-feira arranha a imagem de clube modelo que a agremiação centenária exibia para o mundo.
Rosell recebeu Neymar no Camp NouEfe

Os quase 40 milhões de euros não declarados pelo clube na transferência e que são alvo da Justiça espanhola em denúncia feita pelo jornal "El Mundo", de Madri, colocam em xeque a frase autoproclamada pelo Barcelona que se intitulava "Mais que um clube".

"A imagem do Barcelona está arranhada. Houve sim um constrangimento para marca de um clube que construiu uma história fora de série nos últimos anos, que realizava trabalhos de responsabilidade social, que se intitula 'mais que um clube' e marcado por um futebol-arte", avalia Amir Somoggi, consultor em marketing esportivo.

Rosell deixou o Barcelona insistindo que Neymar custou 57,1 milhões de euros. A Justiça da Espanha investiga que o negócio tenha saído, entre comissões e valor pago ao Santos, por 95 milhões de euros. Neymar dos Santos, pai do atacante, teria embolsado 21,1 milhões de euros não declarados.
Publicidade
"Ou o Santos foi lesado ou o Santos foi conivente", avalia Somoggi. O Santos pediu explicações e divulgou nota em que diz que vai aguardar a conclusão das investigações na Espanha para anunciar as medidas que tomará. Neymar também declarou que a transferência não teve nenhuma irregularidade.
Rosell e as rupturas com tradições do Barcelona

Sandro Rosell assumiu a presidência do Barcelona em julho de 2010. Foi eleito com mais de 61% dos votos dos sócios (a maior porcentagem da história). O período teve títulos, entre eles a Liga dos Campeões e o Mundial de Clubes em 2011, mas significou a ruptura com tradições centenárias do clube.

Imagem do Barcelona de 'mais que um clube' fica arranhadaReprodução Internet

A principal delas foi o anúncio com a Qatar Foundation. O grupo árabe passou a estampar a marca na camisa do clube, que se orgulhava de nunca ter precisado "sujar" o manto do Barça. O Barcelona estaria apenas aceitando que os tempos são outros e que precisaria deixar a tradição de lado. Porém, o acordo específico com um grupo que pertence ao governo de um país com regime autoritário e uma monarquia anticonstitucional iria contra todos os princípios históricos do clube que se assume "mais que um clube".

Publicidade
"Quando o Barcelona aceitou usar patrocínio na camisa, fez um caminho até natural. Empresas do mundo todo estariam dispostas a acertar e pagar muito bem para se associar ao Barcelona. Mas aí o Rosell escolheu um parceiro ligado a um governo ditatorial. O Barcelona, que lutou contra a ditadura desde a guerra civil espanhola, que foi sinônimo da luta contra o franquismo, manchou sua história nesse acordo, também", avaliou Somoggi.
O alto valor pago pelo Barcelona por Neymar também vai contra a política do clube na última década, quando privilegiou jogadores formados em "La Masia", a escola de base do clube, com raras contratações, principalmente nestes valores astronômicos.
Publicidade
Rosell já havia se envolvido em outro escândalo financeiro antes do "caso Neymar". Ex-executivo da Nike e com amplo relacionamento com o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, Rosell é acusado de fraude pela Polícia Federal brasileira que o investiga por desvio da renda de amistoso entre Brasil e Portugal em 2008.
Reportagem de Bruno Winckler