Por pedro.logato
Estátua de Barbosa está sendo feitaMárcia Vieira / Agência O Dia

Rio - Impossível voltar no tempo e impedir o gol que calou 200 mil vozes na final da Copa de 50, no Maracanã. Muito menos reparar meio século de humilhação e sofrimento por um deslize fatal. Mas ainda é possível resgatar a memória de um homem que, mesmo depois de morto, é sinônimo de tragédia.

Passados 14 anos de sua morte, enfim o goleiro Moacyr Barbosa receberá uma justa homenagem. Em maio, o ex-arqueiro vascaíno será eternizado em uma estátua suspensa com a sua marca registrada (a ponte). A obra de arte de corpo inteiro, 1,97m por 1,77m, vem sendo esculpida há três meses pelo artista plástico santista Laércio Alves.

“Já fiz 30% da estátua, o mais difícil era escolher a posição. Pesquisei muito para chegar ao formato suspenso. Vi vídeos, li livros, estou orgulhoso em fazer esse trabalho”, afirmou o escultor.

O minucioso trabalho de Laércio Alves impressiona pela delicadeza com a qual dá forma ao arame, um material de difícil manuseio. Completam a base da estátua o cobre e o alumínio colorido, que terá as cores prata, da camisa, e preto, do calção. O mesmo material foi usado pelo escultor nas estátuas de Pelé, Garrincha e Neymar. O trabalho será exposto pela primeira vez na cidade de Muzambinho, sul de Minas, que também preparou uma programação especial para reverenciar a memória de Barbosa. Além da exposição de fotos, Tereza Borba, filha de coração do goleiro, vai leiloar um pedaço da trave da Copa de 50.

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“O Laércio foi tão generoso. Comprou a ideia desde o início e está tocando o projeto sem receber nada. Como tenho poucos recursos, preciso leiloar a trave para acertar com ele”, garante Tereza, que sonha colocar a estátua do goleiro, no Palácio das Artes, em Praia Grande, e conseguir mais recursos para fazer outra e exibi-la em alguma praia.

O leilão só será possível graças a outro exemplo de generosidade. Desde 2000, quando resgatou as traves do ostracismo em um sítio na zona rural de Muzambinho, a memória de Barbosa é tratada com reverência por Fernando Magalhães, ex-secretário de Cultura e Turismo da cidade mineira.

Laércio Alves vem esculpindo estátua de BarbosaMárcia Vieira / Agência O Dia

“Quando recuperei as traves e alguns pedaços achei que um deles deveria ficar com a família do Barbosa. Por isso, mandei um para a Tereza”, diz.

Recentemente, Magalhães esteve no Uruguai, onde se encontrou com o carrasco Ghiggia e lhe mostrou um pedaço da trave. Acabou voltando de Las Piedras com o pedaço autografado.

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“Quando me encontrei com Ghiggia, percebi que ele também carregava uma cruz, a de ter sua vida reduzida àquele gol. Depois da viagem resolvi doar o meu pedaço para o museu da cidade”, revela Magalhães.

O exemplo final de generosidade vem do Maracanã, a eterna casa de Barbosa. Por 24 anos, o funcionário do parque aquático Abel Correia, 78 anos, guardou com carinho uma pasta de recortes de jornal e uma coleção de discos antigos do amigo. Quando soube da viagem do ‘Ataque’ a Praia Grande, fez um pedido: “Leva para a filha dele. Vai ajudar a resgatar a memória do Barbosa. Ele não merece mais carregar esse peso”.

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