Por fabio.klotz

Rio - Foi graças a uma crônica de O DIA, assinada pelo pianista Luis Reis, no fim dos anos 1960, que Carlos Dionísio de Brito ganhou o apelido que carregou por toda a carreira. Ao ver o atacante, ainda no juvenil do Flamengo, cabecear a bola com estilo e força descomunal, o cronista não teve dúvida em batizá-lo de Bode Atômico.

Dionísio hoje administra uma academia e mostra orgulhoso lembranças do tempo em que brilhava em campoDaniel Castelo Branco

Em mais de 15 anos na grande área, Dionísio fez jus ao apelido com violentíssimas cabeçadas, que fizeram a alegria das torcidas de Flamengo, Fluminense, Grêmio, Coritiba e Americano (RJ), pelo qual encerrou a carreira, aos 29 anos. Gols que ainda estão bem vivos na memória deste senhor de 66 anos, figurinha fácil na Tijuca, Zona Norte do Rio, onde mora e administra junto com o filho a Academia B2 Training Center.

Dionísio se eternizou pela força com que cabeceavaDaniel Castelo Branco

“Tem jogador e vizinho que me chamam até hoje de bode. Eu sabia onde cabecear, tinha um deslocamento na cabeça muito bom e mantinha os olhos bem abertos”, revela o ex-jogador, cuja estatura é modesta, 1,77m.

“Sempre pulei muito alto. No quartel onde servi, em uma competição de salto em altura, cheguei a pular um metro e quarenta”, relembra.

Quem o viu em ação nos gramados sabe que não é exagero. Não é por acaso que Dionísio faz parte da galeria dos melhores cabeceadores do futebol brasileiro.

“Tivemos grandes, mas o melhor foi o Leivinha, que colocava a bola onde queria”, garante, com a mesma convicção que um dia disse aos pais, na distante Corumbá (MS), que vestiria o manto rubro-negro: “Teve um amistoso com o Flamengo na minha cidade natal e eu fiz um gol e me destaquei.”

A atuação foi tão marcante que em 1966 Dionísio chegou ao Rio de Janeiro para pagar a promessa feita aos pais e defender seu time de coração.

“Fui chamado às pressas para compor o banco de um jogo contra o time do Elevadores Atlas. Perdíamos por dois a zero até os vinte minutos do segundo tempo, quando entrei e fiz dois gols. Minha carreira começou aí”, diz, orgulhoso.

Fla-Flu marcante

A partir de então, Dionísio deslanchou. Em 1969, foi artilheiro do Flamengo no ano, com 29 gols em 69 jogos. Em 1972, comemorava ainda a conquista do Carioca, quando uma lesão no joelho quase interrompeu sua carreira: “Não me deram esperança, mas operei escondido com o médico do Fluminense e voltei a jogar após um ano parado.”

O primeiro à esquerda%2C Dionísio quando estava no Noroeste (MS)%2C com 16 anosArquivo

Mesmo recuperado, o ex-atacante foi emprestado ao time tricolor, pelo qual brilhou na conquista do Carioca de 1973, quando marcou dois gols na vitória por 4 a 2 em cima do seu Flamengo.

“Não comemorei os gols, em respeito à torcida. Só levantei os braços”, ressalta.

Dionísio%2C ao defender o Fluminense%2C fez gols no Flamengo%2C mas não comemorou Arquivo

Apesar de muitas alegrias, o jogo que diz ter marcado a sua carreira foi de tristeza, a dolorosa derrota no Fla-Flu da decisão do Carioca de 1969.

“Perdemos para o Fluminense por 3 a 2 com um jogador a menos. Empatamos com um gol meu, mas perdemos em uma bobeira. Não esqueço esse jogo até hoje.”

Um garimpeiro de talentos

Depois de se aposentar no futebol, Dionísio se formou em Educação Física e trabalhou em muitos clubes acumulando a função de preparador e técnico. Naquele período, descobriu ter olhos de águia para revelar novos talentos para o Flamengo. Sua lista inclui jogadores como Djalminha, Marcelinho Carioca, Paulo Nunes e Júnior Baiano, entre outros.

“Descobri o Djalminha com 13 anos em uma quadra, em São Cristóvão. O Marcelinho foi em um jogo do infanto-juvenil, em Madureira”, relembra o ex-jogador, que trabalhou por 30 anos nas divisões de base do Flamengo até ser dispensado no ano passado.

Um assunto que machuca o velho olheiro, que prefere mudar de assunto e falar do pupilo que deixou na Gávea, Vinícius José.

“Ele vai dar caldo”, diz.

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