Por edsel.britto
São Paulo - Se há algo que faz o presidente da CBF, José Maria Marin, perder o controle é dizer a ele que a entidade não investe nas categorias de base e no futebol feminino do Brasil. Na quarta-feira, durante evento na sede da federação paulista de futebol, em São Paulo, Marin ouviu que a entidade poderia fazer mais. Retrucou: "Temos uma seleção feminina permanente agora que usa todas as instalações de Teresópolis, as mesmas da seleção masculina".

Ele não está mentindo, mas a decisão da CBF em manter uma seleção brasileira feminina fixa, com salários pagos pela entidade, só terá resultado no curto prazo. O técnico da seleção feminina, Osvaldo Alvarez, o Vadão, diz que a entidade tem sido muito boa para a seleção brasileira, mas que sem um campeonato forte e patrocinadores, a modalidade não terá sustentabilidade.

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"Na seleção temos todo o apoio que precisamos da CBF. O grande problema está na formação, nos desenvolvimentos em escolas e nas cidades. Não temos reposição. Temos poucas atletas jogando porque não tem onde jogar", disse Vadão.

Para Fabrício Maia, ex-técnico do time feminino da Ferroviária, de Araraquara, e coordenador de todas as categorias da seleção feminina diz que a seleção permanente é apenas uma medida paliativa e foi motivada pela sequência de competições que a equipe vai ter pela frente: Mundial e Pan em 2015 e os Jogos do Rio em 2016.
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"No momento, era o melhor a fazer, muitas jogadoras teriam de buscar clubes no exterior, e reunir todas elas seria quase impossível. O foco está no Rio em 2016 e antecipamos para a Copa e para o Pan", disse Maia. A meta é brigar pelos títulos. O Brasil nunca foi campeão olímpico ou da Copa do Mundo feminina.
A entidade investiu R$ 5 milhões na realização de campeonatos femininos no Brasil e a folha de pagamento da seleção feminina gira em torno de R$ 250 mil. O piso salarial na equipe é de R$ 9 mil, com algumas exceções, mas não muito distantes desse patamar. A Fifa, por meio do fundo de legado da Copa do Mundo, vai destinar US$ 15 milhões para a CBF desenvolver o futebol feminino no Brasil.
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Clubes x seleção
A CBF hoje conta com o apoio da Caixa para realizar o campeonato brasileiro. A edição de 2014, em formato de Copa, contou com 20 clubes e durou pouco mais de um mês, entre outubro e novembro. Para Maia, muito pouco. "O futebol feminino de clubes não existe no Brasil. É preciso pensar mais alternativas de ter um calendário permanente. Por isso que é importante, nesse momento, ter a seleção permanente".
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A média salarial de jogadoras de clubes como a Ferroviária, campeã brasileira do ano passado, é inferior a R$ 2 mil. Para o coordenador da CBF, a única saída dos clubes é procurar parceiros e patrocinadores que invistam na modalidade. Só o dinheiro da CBF não é suficiente, avalia Marin.
"Tenho todo o interesse que mais clubes tradicionais ingressem no futebol feminino. Conta com meu apoio, mas não posso forçar nada", disse. Em 2014, dos 20 clubes, apenas oito tinham times masculinos nas Séries A e B: Avaí, Bahia, Botafogo, Chapecoense, Náutico, Portuguesa, Sport e Vasco.
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"Converso com os presidentes de clubes para a necessidade de se ter um time feminino. O último com quem falei foi o Santos, que tem o (Modesto) Roma como presidente agora". O Santos chegou a contar com Marta entre 2009 e 2010, mas se desfez do futebol feminino no início de 2012. "São poucos os casos de grandes clubes com times permanentes. O que falta é gente capacitada para conseguir patrocínios. Interesse há", disse Maia.
No final de 2014, um torneio amistoso em Brasília, o Brasil enfrentou os Estados Unidos e sua seleção principal. A partida teve transmissão da TV Bandeirantes e superou em audiência as partidas do Campeonato Brasileiro masculino transmitido pelo canal. "É um sinal de que há interesse. Resta agora haver mais investimento na modalidade. Enquanto isso não acontece, a seleção permanente é a única saída", disse o coordenador da CBF.
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*Reportagem de Bruno Winckler