Por pedro.logato
Rio - O arco feito de palmeira, que ele aprendeu a manusear bem cedo em sua aldeia, foi substituído por um equipamento profissional, com acessórios até então desconhecidos para o jovem indígena. Hoje, os termos específicos do esporte olímpico já fazem parte da rotina de Dream Braga da Silva, assim como a técnica da modalidade, que ele aprimorou durante nove meses de treino em Manaus. Da tribo Kambeba, no Amazonas, Dream, de 18 anos, mostrou talento e foi chamado para treinar com a Seleção de tiro com arco desde o início de janeiro, no CT de Maricá.
“Comecei pegando o arco e flecha aos nove anos. Eu pescava e caçava”, conta Dream, conhecido como Iagoara, o Caçador. O jovem é integrante do projeto Arquearia Indígena, da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), iniciado em 2012, com o objetivo de popularizar o esporte e fortalecer a autoestima da população indígena.
Dream Braga da Silva tem 18 anosUanderson Fernandes

Dentro do projeto, coube à caça-talentos Márcia Lot visitar as aldeias e encontrar as promessas. Da mesma tribo, Nelson Silva de Moraes (Inha) também passou a treinar no Rio, mas ficará até este mês. “Eles têm um repertório motor </CW><CW-10>muito grande. Isso pode facilitar a aprendizagem. Os dois levam jeito para o esporte”, diz Evandro de Azevedo França, técnico que integra a comissão do italiano Renzo Ruele na Seleção.

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Evandro conta como os dois arqueiros despertaram a atenção. “Os atletas pré-selecionados no projeto foram levados até o técnico Roberval dos Santos, que trabalha para a CBTArco, em Manaus, e fez o treinamento com eles. Agora, Inha e Dream estão treinando com a Seleção visando à melhoria da performance. Inha em caráter provisório e Dream em caráter permanente, por enquanto”, explica Evandro.
Dream admite que a adaptação ao esporte olímpico não foi tão fácil. “O arco nativo tem a palmeira, a corda e a flecha. Não tem vários acessórios de um arco olímpico, como mira, estabilizador e ‘rest’ (equipamento que serve de apoio da flecha no arco). Foi um pouco difícil porque tem bastante técnica”, compara Dream, um orgulho para a sua aldeia. “Eles ficaram alegres e fizeram pequenas festinhas para se despedirem de mim e do Nelson”, lembra o jovem arqueiro.
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ROTINA PUXADA
No Rio, Dream diz que sua rotina de treinamento tem sido bem puxada e cita as normas de conduta na Seleção. “Se chegar atrasado, paga flexões. Tem que ser um atleta bem pontual”, comenta ele, contando que o dia a dia tem sido diferente do que vivia na aldeia: “Lá, eu jogava futebol à tarde. Aqui tenho que focar no tiro com arco.”
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Tanta dedicação tem um alvo certo: representar a sua tribo numa edição dos Jogos Olímpicos. “Tenho muito pela frente. Espero seguir no esporte e um dia estar na Olimpíada. Para isso, tenho que treinar muito e obter um grande resultado. Pode ser em 2016, 2020, 2024... Espero um dia estar lá”, diz.
SELETIVA EM MARICÁ
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Neste domingo, no Centro de Treinamento de Maricá, termina a seletiva que definirá mais dois integrantes da Seleção de tiro com arco para o Torneio Pré-Pan, que será disputado em Santo Domingo, em março. Lá, o Brasil tentará assegurar mais uma vaga para o Pan de Toronto, em julho.