Por renata.amaral

Canadá - Atleta não pode manifestar sua opinião em assuntos fora do esporte, como política? A discussão veio à tona recentemente, quando a nadadora Joanna Maranhão usou as redes sociais para reclamar da aprovação no Congresso Nacional da diminuição da maioridade penal no Brasil, de 18 para 16 anos, para crimes hediondos. "Eu vou para o Pan defender o meu país, mas não vou representar pessoas que batem palma para Feliciano, Malafaia, Eduardo Cunha, Bolsonaro. Não faço questão nenhuma de ter a torcida de vocês”, disse Joanna, citando deputados federais que apoiaram a causa.

A repercussão da atitude de Joanna teria gerado um veto por parte do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) para que atletas não emitam opinião durante os Jogos Pan-Americanos de Toronto. Marcus Vinícius Freire, superintendente da entidade, usa a palavra "orientação". A preocupação, segundo ele, é que não pareça uma posição oficial da equipe, uma questão de separar visões pessoais e que representam uma coletividade. Mas não há veto, assegura.

Bia e Branca no InstagramReprodução Internet

"O cara tem de ter o direito, sim, de falar. A única coisa que eu disse é que a pessoa, quando chega aqui, não fala pela delegação, quem fala pela delegação é o chefe da missão e os sub-chefes. Ela tem o direito total de falar o que pensa e tomar a posição que quiser", disse Freire. "Cada modalidade tem um chefe de equipe, eu e outros dirigentes nem chegamos perto dos atletas. A gente dá as orientações e os chefes passam. Pelo o que entendi, Ricardo Moura (técnico) já conversou com a equipe de natação. É normal. Ela tem as posições dela, e todo mundo tem de se posicionar mesmo, mas quando chegar aqui tem de estar focada no que vai fazer, que é nadar, e ela nada bem pra caramba", completou.

Não há um consenso sobre o uso de rede sociais por parte dos atletas em período de competição. Alguns técnicos são radicalmente contrários ao uso de telefone às vésperas de uma estreia, por exemplo, outros são mais liberais. Fato é que a repercussão quase é sempre imprevisível. Ingrid Oliveira, da equipe dos saltos ornamentais, publicou na terça-feira uma foto sua de maiô, presente já na área de competição. A imagem despertou uma reação dos seguidores sobre sua forma física, algo que a assustou e a forçou a apagar muitos comentários que considerou desmedidos.

Independentemente da repercussão, Freire entende que entrar em rota de colisão com esse novo comportamento é batalha perdida. "A gente está entendendo que isso, nos dias de hoje, não tem mais cabimento. A gente está tentando explicar isso e conduzir para que a delegação siga o mesmo caminho. Eu não poderia nunca vetar ninguém de falar porque com 18 anos briguei com (Carlos Arthur) Nuzman e quando não podia ir para a Itália a gente entrava na Justiça", recordou Freire, ex-jogador de vôlei.

Por conta disso, ele revelou que para os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, o COB estuda ferramentas para usar as redes sociais como forma de incentivo, e não como centro de polêmica, para os atletas. O programa deve ser lançado até o fim deste ano.

"Estamos montando uma campanha para o Rio 2016, voltada para o Time Brasil, e vocês vão ver que terá muita coisa de mídia social, só que tentando o contrário. Vamos fazer um marcador: quanto mais apoiam, você vai crescendo num medidor de apoio da torcida. Tem de usar de forma positiva um negócio que está aí impossível de ser parado", contou. "Não tem como segurar. Algumas pessoas pensam: ah, vamos proibir Facebook, Instagram... Não existe isso."

A intenção desse incentivo por redes sociais é evitar incidentes como o ocorrido com a judoca Rafaela Silva, vítima de racismo virtual durante os Jogos Olímpicos de Londres-2012. "É só lembrar o que aconteceu com a Rafaela em Londres, que atrapalhou e depois foram horríveis as consequências. Pode acontecer, a gente faz para aquilo não ser ruim. Tem de ser bom, usar para receber muitas mensagens positivas", disse Freire.

Reportagem de Thiago Rocha

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