Por edsel.britto

Toronto - Uma hora e 45 minutos. Para a Federação Internacional de Vôlei (FIVB), esse é o tempo máximo que uma partida deveria durar em média, e a entidade estuda uma forma de botar a ideia em prática já nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Tudo para que o cronograma do evento, que também atende necessidades das emissoras de TV, não tenha atrasos.

Gerente de vôlei do Rio 2016, o ex-jogador Giovane Gávio disse, em entrevista ao jornal "O Globo", que uma das medidas estudadas para diminuir o desperdício de tempo nas partidas é limitar a tradicional comemoração das equipes entre um ponto e outro. O sacador teria um tempo máximo para repor a bola, de 15 segundos. A orientação poderia ser até mais radical, de não comemorar o ponto.

Federação Internacional estuda em encurtar os jogos de vôlei nos Jogos Olímpicos em 2016William Lucas/Inovafoto/CBV

Jogadores e técnicos das seleções brasileiras que estão em Toronto para os Jogos Pan-Americanos desconhecem essa intenção da entidade máxima do vôlei, mas não gostaram da sugestão. "Acho estranho. Quem assiste vôlei também quer ver a vibração dos times. Em quadra, o momento de comemorar o ponto pode fazer a diferença numa partida, dar um gás extra quando você sente que o time está mal. Acho uma ideia cruel com as equipes e a torcida", opinou a ponteira Fernanda Garay. "Não estava sabendo. Se a ideia for essa, é claro que a gente tem de se adaptar. Mas seria legal se eles (dirigentes) perguntassem a nossa opinião", completou a líbero Camila Brait.

Modernizar algumas regras para tornar as partidas mais ágeis foi uma atitude fundamental para popularizar o vôlei e torná-lo mais atrativo para a TV nos últimos 20 anos, pelo menos. O fim do sistema de pontuação por vantagem com os sets acabando em 25 pontos, a introdução do líbero e não computar o bloqueio como um dos três toques possíveis na bola são alguns exemplos de medidas acertadas. Houve tentativas recentes, porém, que se revelaram um fiasco, como diminuir a pontuação do set para 21 pontos, testada na Superliga 2013/14 a pedido da FIVB e alvo de muita reclamação.

Para os técnicos das seleções brasileiras no Pan de Toronto, o desafio da entidade e do Comitê Organizador dos Jogos do Rio 2016 é achar uma equação para agilizar a partida sem deixá-la com formato robotizado, fazendo o vôlei perder a emoção natural que transmite.

"Fico muito preocupado quando querem mexer nesta dinâmica. Já tentaram mexer na pontuação do set recentemente e foi um desastre. Concordo que precisam haver algumas adequações, mas tem de haver um consenso sobre isso. São ideias que surgem de comissões das quais nós (treinadores) não fazemos parte", ponderou José Roberto Guimarães. "É uma necessidade de TV, acho positivo. Já testaram o tempo máximo de 15 segundos entre a bola cair e o saque e isso foi legal. É uma questão importante, mas que deve ser bem equacionada. A medida tem de somar, mas sem complicar o que já está funcionando", completou Rubinho, que comanda o time masculino no lugar de Bernardinho neste Pan.

Por mais dinamismo%2C Federação que inibir comemoração após os pontos William Lucas/ Inovafoto/ CBV

A fase final da Liga Mundial no Rio de Janeiro, disputada de 15 a 19 de julho, já serviu de observatório para a proposta. Apenas duas das dez partidas realizadas terminaram antes de 1h45min. Se já fosse uma orientação em vigor no Pan de Toronto, metade dos jogos do Brasil estourariam o tempo. O time masculino superou Colômbia e Argentina em 1h14min e 1h35min, respectivamente, enquanto o feminino levou 1h40min para vencer o Peru.

O equilíbrio do circuito mundial é justamente o maior empecilho para que o tempo de 1h45min se enquadre à realidade, já que a maioria das partidas não é decidida em três sets. "O ponto é esse. Um jogo entre duas seleções fortes que vai para o quarto set já derruba essa meta", disse José Roberto Guimarães.

Além de adequar o cronograma do vôlei nas Olimpíadas às grades das emissoras de TV, o Comitê Organizador e a FIVB pensam também em questões logísticas ao tentar diminuir o tempo ocioso das partidas. Nos Jogos Olímpicos, o ingresso não é válido para o dia todo, então entre uma partida e outra há troca de público e a necessidade de limpar as arquibancadas. Uma partida que acaba mais rápido também colabora para que esse processo não tenha transtornos.

*Reportagem Thiago Rocha

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