Por victor.abreu

Rio - Quase três meses depois da série "O Salão do Rio", que fez um Raio-X da modalidade e relembrou épocas gloriosas, O DIA buscou saber como anda o cenário atual do futsal adulto na Cidade Maravilhosa. A Federação Futebol de Salão do Estado do Rio cumpriu com a sua promessa e está promovendo um campeonato estadual com 21 equipes profissionais e semiprofissionais. Dentre as novidades do torneio, está o retorno de um tradicional clube da Zona Norte que reativou o seu setor da modalidade: o Olaria Atlético Clube.

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Depois de dez anos sem ter um time adulto, o Olaria começa uma caminhada que promete empolgar outros clubes tradicionais de futsal do Rio de Janeiro para um retorno ao esporte. Ousado e sem medo de errar, o Alvianil da Leopoldina já pensa em novos reforços para equipe, em futuros patrocinadores e até, quem sabe, em uma fusão com outra agremiação com o intuito de fortalecer ainda mais a semente que está sendo replantado no solo do Ginásio Álvaro da Costa Melo.

Desde 2009, Rafael Pazos também está atuando no F7Davi Pereira / JornalF7.com / Divulgação

Em quadra, o comando da equipe é do goleiro Rafael Pazos, de 33 anos. Experiente, ele possui passagens vitoriosas por Botafogo, Flamengo, Vasco, Mackenzie, Teresópolis, Casa de España e América, além de convocações para seleção carioca juvenil (2000) e adulto (2005). O camisa 12 agora tem a missão de liderar o grupo de jogadores do Olaria no campeonato estadual promovido pela Federação Futebol de Salão do Estado do Rio.

"É uma satisfação enorme o Olaria retornar ao futsal adulto. Por ser um clube grande e de camisa, tradicional aqui da Leopoldina, é imprescindível que ele tenha o futsal no seu quadro social. É uma satisfação está, mais uma vez, vestindo a camisa do Olaria, eu joguei aqui em 2002, quando fomos campeões cariocas. Para o futsal é importante ter o retorno de um clube como o Olaria e para o Olaria é importante ter o futsal no seu quadro social", disse Rafael.

O capitão já conhece bem a tradição do Olaria nas quadras cariocas. Atuando, desde 2009, no Futebol 7, ele abraçou a oportunidade quando soube que haveria um retorno do futsal adulto do Alvianil. Além do desafio de recolocar o clube em um patamar elevado, o camisa 12 já é parte da história do Azulão neste esporte. Ele estava no time campeão metropolitano de 2002, vencido sobre o América (8x3 e 6x6), título que pretende repetir em breve.

Até agora, em 2015, são três partidas e um total equilíbrio: um vitória, um empate e uma derrota. Na estreia, o Olaria fez jogo duro, mas acabou derrotado pelo Iguaçu B.C por 3 a 2. Na segunda partida, o E.C. Correas foi uma pedra no sapato e o empate em 2 a 2, dentro de casa, não se mostrou como um bom negócio. A primeira vitória só veio no jogo contra o Magé T.C/Projeto Toca e Sai, por 9 a 8. Agora, o Alvianil se prepara para enfrentar o time da Polícia Militar (PMERJ) e fechar o turno de ida da Chave C.

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Com um formato regionalizado, o campeonato estadual está dividido da seguinte forma: ADDP/Cabo Frio, Arraial do Cabo, C.P. Bonitão/Rio Bonito, TRN/Cruz Vermelha e Liga Desportiva de Macaé estão na Chave A, que engloba, na sua maioria, times da Região dos Lagos. E.C. Resende, Loteria do Meia Meia/ Volta Redonda, Liga Resendense, Piraí, Barra Mansa/São Luiz e Itaperuna/Muriaé fecham a Chave B e estão representando o Sul e Noroeste Fluminense. Na capital, duas chaves foram formadas. Além da que foi apresentada acima, onde está o Olaria A.C., o Grupo D conta com o E.C Garnier, E.C Dourados, Master F.C, AVD e com a super trinca formada por Botafogo/Helênico/Casa de España.

No bate-papo, Rafael Pazos relembrou alguns momentos do clube olariense, especialmente em 2002, celebrou este reinício do retorno do futsal carioca na categoria adulto e, principalmente, reacendeu a sua paixão pelo esporte que andava meio apagada por conta do marasmo em que o Rio de Janeiro havia se afundado. Confira:

Avaliação do início do Estadual do Olaria

Rafael Pazos: "A gente pensou numa equipe com um planejamento para ser campeão. Nosso primeiro objetivo foi esse. Mas tivemos problemas na hora de montar o elenco por conta do nosso sistema ainda não ser profissional. Tivemos que reformular tudo de última hora. Com isso, acabou que este começo de campeonato está saindo como o esperado. Quatro pontos em três jogos e nosso objetivo, primeiro, é classificar para a 2ª fase. Por enquanto está dentro do planejado, considerando que só faremos uma partida dentro de casa nesse turno. Acredito que para o 2º turno a gente consiga entrosar essa equipe e assim mais pontos e, quem sabe, passar em 1º lugar."

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Equipe do Olaria enfrenta o Iguaçu B.c. na quadra do Piedade T.C. pelo Estadual 2015Reprodução Facebook

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Título metropolitano de 2002

RP: "Eu costumo brincar que esse título foi o mais emocionante da minha vida. Era um título que ninguém esperava e a gente começou com um grupo de amigos que foi montando e era um pessoal que não recebia salário, vinha mais por gostar mesmo e durante a competição "deu liga". As peças se encaixaram muito bem, nós tínhamos um bom treinador que era o Marcelo Cabo, que hoje está no comando do futebol profissional de campo do Ceará, e as coisas aconteceram de uma forma que ninguém no clube esperava. A gente foi passando de fase, os resultados aparecendo e acabamos campeões."

Semelhança entre o time atual e o de 2002

RP: "Há, sim. Primeiro, nós somos um time que também não recebe salário e que está aqui mais pelo prazer em jogar futsal do que para fazer dinheiro. Outra coisa é a vontade dos atletas que estão aqui. Eles estão empolgados por estarem disputando um campeonato a nível estadual e organizado pela Federação. Isso acaba motivando ainda mais. Eu penso: 'Se foi possível em 2002, por que não pode ser agora em 2015?.' Tomara que a gente consiga, mais uma vez, ser uma surpresa e assustar os grandes no futsal carioca."

Busca pelo bi?

RP: "É claro que, para hoje, isso traz uma responsabilidade. Defendemos as cores de um clube campeão. A gente, de uma forma ou de outra, defende o nosso título e está buscando o bicampeonato. Sabemos de como isso ficou na história do clube. Você entra na sala de troféus e está lá a nossa taça. Isso envaidece os atletas, é bom para gente, e todo atleta tem essa vontade de ganhar correndo no sangue. É uma responsabilidade boa."

Olaria reativou o seu futsal para jogar no Estadual 2015Reprodução Facebook

Favoritos no Estadual

RP: "O Botafogo é, sem dúvida nenhuma, o favorito. É uma equipe que conseguiu conciliar jogador de muita qualidade, consagrados e renomados. Ele está com uma estrutura mais avançada do que outras equipes: treinos diários, salário para os jogadores, diretoria qualificada, então tudo isso faz dele o favorito. O Cabo Frio vem um pouco atrás do Botafogo. Eles têm uma estrutura muito boa de anos participando desse campeonato, eles têm atletas que já jogaram na Liga Nacional. Vejo os dois acima e o Olaria em um 3º degrau. Dentro da chave, o Olaria é favorito para se classificar. Estando bem coesa e compacta, contra o Botafogo a gente pode surpreender."

Atuações no F7 e seu retorno particular ao futsal

RP: "Eu sou um salonista. Minha paixão é o futsal. O esporte que eu amo praticar é o futsal. Nunca me considerei fora do futsal, simplesmente, por uma questão conjuntural do fato do futsal adulto não estar em voga no Rio de Janeiro, algumas pessoas migraram para o F7 e eu fui uma delas. É uma modalidade que está crescendo, muito se assemelha ao futsal e não é à toa que grandes jogadores de F7 são oriundos do futsal. Fui parar no F7 para preencher um vazio do futsal (risos), em razão do futsal estar em baixa naquele momento. Com essa possibilidade de retorno, vendo a Federação se movimentando e promovendo um campeonato adulto com qualidade e bastante clubes, eu não pude me furtar de não voltar a jogar um esporte que eu gosto. Conciliando o futsal com o F7, juntou o útil ao agradável. O futsal carioca tende a crescer novamente e recuperar o seu espaço. É um ano de crescimento e renascimento. Talvez, para o ano que vem, mais jogadores voltem do F7 para o futsal. Pelo o que eu converso com algumas pessoas, a maioria deles gosta e tem essa vontade."

Federação Carioca

RP: "Eu vejo com bons olhos como a Federação, agora, está agindo. Infelizmente, de uns anos para cá, a Federação foi, ao meu ver, negligente com categorias importantes como a sub-20 e o adulto e isso acabou transbordando num momento como esse que a gente está vendo agora: poucos clubes, ausência de campeonatos, sem representantes na Liga Nacional. Você percebe que, nos campeonatos nacionais de categorias de base, o Rio de Janeiro está sempre chegando às finais ou em fases avançadas e no adulto nada disso. Isso é inaceitável para uma Federação que foi a primeira no mundo. Acho que o presidente Kennedy é uma pessoa série, capacitada e que gosta do esporte. A ideia de regionalizar o campeonato foi positiva. Ela facilita a participação de mais clubes e foi o principal ponto para se ter um estadual com tantas equipes. Foi essa fórmula que viabilizou a entrada do Olaria na competição. Na nossa forma semiprofissional de gestão e sem patrocinador seria complicado fazer viagens constantes para Macaé, Cabo Frio, Resende.... Então, acho que a tendência é que nas fases finais a gente veja ginásios lotados, atraindo mídia, TV ao vivo. Voltando a crescer o futsal é natural que isso ocorra."

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Rafael com o grupo campeão estadual de futsal do Botafogo/Casa de España em 2011Reprodução Facebook

Planos para o futuro

RP: "Nossa busca é por um patrocinador para formar uma parceria para ajudar nos nossos custos. Por enquanto, quem corre atrás disso é o Fábio (diretor de futsal e F7) e a Danielle (Assessora de Comunicação). Por hora, é complicado. As empresas já fecharam o orçamento do ano e é difícil conseguir um patrocínio em setembro. Para o ano que vem, torço para que a gente consiga um patrocinador forte para que possibilite a gente dar uma estrutura mais profissionalizada aos atletas com treinos diários, pagamento de salários e ajuda a alavancar o Olaria, não só dentro do nosso clube, mas também no cenário estadual.

O Olaria também está com o projeto de reativar sua categoria de base no futsal. Ela vai ajudar não só o futsal, mas também o futebol de campo revelando jogadores. Eles (diretores do Olaria) compreenderam que o futsal é um formador de atletas. Vemos isso no Fluminense e no Vasco, que fazem isso há muito tempo."

* Reportagem de Victor Abreu

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