Por victor.abreu

Chile - Um jogador de 35 anos, com passagens por grandes clubes do Brasil e experiência na Europa, pode ser considerado uma aposta? Para Ricardo Oliveira, o rótulo se encaixa, mas sem parecer depreciativo. Após se desligar, no fim de 2014, de seu vínculo com o Al Wasl, dos Emirados Árabes Unidos, o atacante acertou com o Santos por apenas quatro meses, como uma espécie de período de experiência, por não ter a certeza de que voltaria ao país em bom nível físico e técnico. A dúvida quanto ao desempenho se desfez rapidamente. Campeão e artilheiro do Paulistão, com 11 gols, ele lidera a lista dos goleadores do Campeonato Brasileiro, com 17, tendo papel fundamental na reação alvinegra no torneio. Também renovou contrato com o clube até 2017.

Ricardo Oliveira é o artilheiro do Brasileirão 2015Ricardo Saibun/Santos FC/Divulgação

A boa fase levou Oliveira de volta à seleção brasileira. Sem Neymar, suspenso das duas primeiras rodadas das Eliminatórias para a Copa de 2018, e com o corte de Roberto Firmino por lesão, o técnico Dunga recorreu aos serviços do veterano atacante para os duelos contra Chile, nesta quinta-feira em Santiago, e Venezuela, no próximo dia 13 em Fortaleza. Campeão da Copa América de 2004 e da Copa das Confederações de 2005, ele fez sua última partida defendendo o Brasil em 27 de março de 2007, na vitória por 1 a 0 sobre Gana - foram 13 gols e quatro gols vestindo a Amarelinha.

Neste retorno, os objetivos de Ricardo Oliveira são imediatistas. Ele aposta em seu bom momento para ser titular já contra o Chile. "Não vim para cá pensando que o momento é de esperar." Ao mesmo tempo, prefere não criar expectativas sobre uma possível ida ao Mundial da Rússia, em 2018, quando terá 38 anos, e enfim jogar a Copa que ainda lhye falta na carreira. Nem teme possíveis pressões que a seleção brasileira possa sofrer nas Eliminatórias, ainda um ranço dos 7 a 1 de 2014.

"Queremos ter na mente a possibilidade de fazer uma nova história", vislumbrou Ricardo Oliveira, em entrevista ao iG. Confira abaixo o bate-papo exclusivo com o atacante.

iG: Recentemente, você disse que gostaria de ajudar a resgatar o amor do torcedor pela seleção brasileira. O quanto a sombra dos 7 a 1 pode ainda perseguir a equipe nestas Eliminatórias? Você já perdeu por 7 a 1 na carreira?
Ricardo Oliveira: O 7 a 1 talvez não tenha sido superado pelo torcedor brasileiro e pela imprensa. Por ter sido em casa e do jeito que foi. Mas para nós, jogadores, não é uma sombra no nosso presente, ficou no passado e não podemos ficar remoendo. Nossa cabeça é de construir uma nova história, já que não dá para mudar essa que passou. Na nossa cabeça, esse 7 a 1 não existe. Queremos ter na mente a possibilidade de fazer uma nova história.

iG: Você tem 35 anos, pode jogar uma Copa do Mundo com 38. Você alimenta esperanças para o Mundial de 2018 ou prefere não ter? Ficaria frustrado em encerrar a carreira sem jogar uma Copa?
RO: Frustração não faz parte da minha carreira. Se não acontecer de jogar, vou entender. Sei que em 2018 vou ter 38 anos, mas tenho de pensar no presente. O presente é que estou em condições e atuando em alto nível no futebol brasileiro. Vou pensar nisso, aproveitar o momento e seguir, como sempre foi na minha carreira, me cuidando para atuar sempre no máximo da minha forma física.

Ricardo Oliveira mostra confiança no Brasil nas EliminatóriasLeo Correa / MoWA Press / Divulgação

iG: O futebol tem trazido diversas variações táticas nos últimos anos. Atacante que marca na linha de fundo da própria defesa, falso 9... O espaço para o centroavante nato está diminuindo?
RO: Creio que não. Vejo que tem espaço para todos os estilos de jogo. E esse estilo de jogo pode mudar de acordo com os adversários ou com a situação das partidas. Sei que é preciso que todos marquem e passei a entender isso já tem algum tempo. A gente tem sempre de buscar evoluir no futebol e aproveitar a experiência nisso também.

iG: Houve um temor muito grande quando Neymar foi punido e ficou impossibilitado de defender o Brasil neste início de Eliminatórias. A atual seleção brasileira ainda depende muito dele. É um peso extra ou é essencial para o grupo não sentir esse peso?
RO: Neymar é um grande jogador, uma referência, capitão do time, camisa 10... Não tem como não sentir falta de um atleta com este nível. Mas temos um elenco muito forte e muitas opções. Talvez tenha de mudar um pouco o estilo de jogo sem ele, mas mesmo assim vejo uma seleção muito forte e se preparando para enfrentar qualquer equipe do mundo de igual para igual.

iG: Sobre o Santos, o que mudou fora e dentro de campo para o time reagir no Brasileirão?
RO: Desde o início do ano, nós mostramos que tínhamos condições de estar entre os melhores do Brasil, tanto que conquistamos o Campeonato Paulista. No Paulista disputamos, por exemplo, com quatro times que hoje estão entre os dez primeiros no Brasileiro. Isso mostra a forma do nosso Estadual, das dificuldades, e do quanto o Santos tinha uma boa equipe. Caímos um pouco no início no Brasileirão, mas acho que isso também fazia parte. Depois, acertamos a casa, melhoramos e agora temos colhido os frutos no Brasileirão e na Copa do Brasil. Somos o único time, atualmente, entre os quatro melhores do país, e ainda já com um título conquistado na temporada.

iG: Você já conviveu com algumas lesões graves na carreira. Tem feito algum trabalho físico específico ou qualquer tipo de atividade para prolongar a carreira? Aliás, você projeta mais quantos anos de carreira?
RO: As lesões ficaram para trás já tem um bom tempo. Tive duas graves lesões de joelho, mas estão no passado e não me incomodam mais. Sempre fui um atleta que me cuidei muito e assim continua sendo. Procuro fazer todos os trabalhos que a comissão técnica me passa, faço complementos na academia e isso me ajuda a conseguir manter o alto nível e sem lesão. Para ter uma carreira, é preciso se cuidar ao máximo e isso que sempre procurei fazer na minha carreira.

iG: Você contrariou uma regra recente do futebol brasileiro, de que jogador vindo de praças com campeonatos menos competitivos, como Leste Europeu e Ásia, demoram para recuperar o ritmo mais intenso que os torneios brasileiros impõem. Fora a parte financeira, que pesa bastante, vale a pena um jogador de destaque no Brasil se aventurar por estes países?
RO: Acho que cada caso é um caso. Não existe uma regra e cada atleta sabe o que é melhor para ele a para sua família. No meu caso, foi algo que no momento era bom e importante ter ido. Quando senti que não tinha mais estímulo para continuar, optei em voltar. Mas fui muito feliz nos Emirados, minha família pôde conviver com uma cultura diferente, e pude contribuir para o crescimento do futebol por lá.

iG: Acha que o Campeonato Brasileiro "já acabou" por causa da vantagem que o Corinthians tem a seu favor?
RO: Acho que tem muito para ser disputado ainda. São nove rodadas e 18 pontos em disputa. Enquanto houver possibilidades, todos podem conquistar os objetivos. Até pouco tempo atrás, quando nós falávamos em G4, ninguém acreditava que seria possível. Hoje, estamos entre os quatro primeiros.

* Reportagem de Thiago Rocha

Fonte: iG

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