Rio - No ano que vem, 141 medalhas estarão em jogo no atletismo nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. No entanto, o torcedor deve se contentar em ver no Engenhão os astros estrangeiros como os jamaicanos Usain Bolt e Shelly-Ann Fraser-Pryce, a russa Elena Isibayeva, o queniano Dennis Kimetto ou o francês Renaud Lavillenie. O Brasil tem poucas chances de medalhas que, praticamente, se resumem a veterana Fabiana Murer, prata no salto com vara no Mundial deste ano. Nas últimas cinco Olimpíadas, os brasileiros conseguiram apenas três medalhas - um ouro, uma prata e um bronze - entre as 690 em disputa.
"Não estou preocupado. A única coisa que me intriga é o porquê de não estar preocupado. Se olhar o retrospecto do Brasil em Mundiais, ganhou uma medalha aqui, outra ali. Não temos tradição, falta unir a família do atletismo para andar. Temos que investir na base e esperar os frutos para 2020 e 2024 porque o que tem para 2016 é isso. Se estivesse trabalhando na seleção estaria preocupado, mas sou espectador e torço muito", diz Robson Caetano, que ganhou duas medalhas de bronze em Olimpíadas e é o recordista sul-americano dos 100 metros rasos desde 1988.
Ex-atleta, treinador e hoje presidente da Federação Carioca, Carlos Alberto Lancetta também acha difícil o Brasil subir no pódio em casa.
"Temos uma chance grande de sair sem medalha. No último Mundial, só a Fabiana (Murer) ficou em segundo no salto com vara, mas ela não foi bem nas últimas Olimpíadas (2012). Ela depende de velocidade e força. Já tem 34 anos e terá 35 no ano que vem. O auge do esporte é com 28. A partir dessa idade é queda. Tomara que dê tudo certo e ela consiga, mas em uma análise sensata ela vai ter dificuldades. Ela não deve melhorar mais as suas marcas, mas precisa para ter chances de medalha. Quem tem alguma chance de chegar a uma final e beliscar algo são os revezamentos", opinou o dirigente.
Dinheiro não é o problema para o atletismo nacional que conta com o patrocínio da Caixa Econômica Federal no valor de R$ 22,5 milhões por ano. Em 2014, a Confederação (CBAt) investiu R$ 3,8 milhões na participação de atletas em competições internacionais, quase o dobro do ano anterior. Além disso, aumentou o investimento em organização de eventos que subiu de R$ 3,7 milhões em 2013 para R$ 9,7 milhões em 2014. Até a Olimpíada os investimentos serão prioritários nos atletas que estão entre os 15 primeiros no ranking mundial
Porém, a maior crítica é quanto a assessoria técnica do ex-corredor americano Michael Johnson: "Eu não entendo. Existe o investimento em um consultor técnico (Michael Johnson) e ele não vive no Brasil. Não vai entregar todos os segredos. Com um investimento menor, poderia trazer nomes como Zequinha Barbosa, Claudinei Quirino, Joaquim Cruz. Falta o pulo do gato e esses ex-atletas conhecem o pulo do gato. São profissionais de educação física e não têm entrada na seleção brasileira", desabafou Robson Caetano.
SEM ESTÁDIO DE ATLETISMO NA CIDADE OLÍMPICA
Os atletas cariocas têm tido problemas para treinar na cidade olímpica. O estádio Célio de Barros, no Maracanã, virou um estacionamento e o Engenhão, palco do atletismo na Olimpíada, teve sua pista retirada para a reforma visando os Jogos do ano que vem. Essa troca de pista virou polêmica.
“A obra da pista estava prevista para começar em janeiro. Os atletas estavam treinando lá com a borracha imperfeita. Existe uma exigência para Olimpíadas que a pista tem que ter no máximo dois anos. Fizeram até o processo errado. Porque primeiro você frisa e isso tinha que ser feito na borracha para que a nova fosse colada em cima. Mas arrancaram até o asfalto. Prefiro acreditar que seja por ignorância. Os atletas estão treinando no asfalto”, contou o presidente da federação carioca de atletismo, Carlos Alberto Lancetta.
Procurada pelo O DIA, a Rio-Urbe, responsável pelas obras no estádio disse que pista foi retirada pela empresa Mondo/Playpiso, acostumada com esse tipo de serviço: "Para a remoção e preparação da base para implantação das novas pistas de atletismo é feita em duas etapas: Remoção da camada de borracha e remoção com maquina politriz do material remanescente tais como restos de borracha, cola e primer. Será executado também, nesta etapa, o polimento e nivelamento da pista existente de forma a prepara-la para receber o novo revestimento”, afirmou a Rio-Urbe, por nota.
Sem o Célio de Barros, os atletas têm poucas opções para treinos e a maioria acaba se transferindo para outros centros.
“Os cariocas dificilmente conseguem treinar. Só nas entidades militares como Cefan, Escola de Educação Física do Exército e CDA da Aeronáutica. Temos dois estádios de atletismo. O Engenhão que só serve para competição e o Célio de Barros que era o único do estado do Rio. O Rio é sede olímpica e não tem nenhum estádio”, diz Lancetta.
A promessa para reconstrução do Célio de Barros feita pelo governador Pezão é que as obras comecem logo após o término dos Jogos.