Por pedro.logato
Santa Catarina - Ele viu a Chapecoense nascer, crescer e se consolidar como modelo de gestão no futebol brasileiro. Nos dias mais dramáticos da história da agremiação, coube a Ivan Tozzo, que será empossado dia 20 como novo presidente do clube catarinense, a missão de consolar as famílias das vítimas. Agora, um desafio ainda maior está em suas mãos: reconstruir o futuro da Chape e honrar os heróis mortos.
Ivan Tozzo assumiu a presidência da ChapeDivulgação

O DIA: O senhor assumiu o clube em meio a uma tragédia sem fim. Como foram os últimos dias?

IVAN TOZZO: Confesso que se dormi cinco ou seis horas foi muito. Tinha muitas lembranças, eram pessoas que eu conversava todos os dias. Perdi todos os meus amigos, jogadores, diretoria, gente da imprensa e pessoas que eu conhecia desde moleque. Senti uma falta muito grande, chorei a semana inteira, mas tinha que ter forças para fazer tudo o que era preciso. Graças a Deus conseguimos dar conforto às famílias, que era o mais importante. Estamos muito tristes e vamos rezar por elas. É inexplicável o que a gente passou. Foi o maior desastre aéreo envolvendo uma família, pois nosso time era uma família.
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O DIA: Como será a montagem do novo time?

IVAN TOZZO: Vamos ter que contratar de 20 a 25 atletas. Temos também os jogadores que não viajaram. Teremos que ver a situação de cada um, pois a maioria estava com o contrato vencido. O único jogador certo é o Martinuccio, que estava no departamento médico. Tem o Hyoran, que já tinha tratativas com o Palmeiras. Tenho que encontrar a agenda do nosso diretor de futebol e conversar com o pessoal do clube para saber o andamento das negociações e dos valores já acertados. Também tem muitos clubes que querem nos ajudar. Vamos entrar em contato e pedir uma lista para analisarmos os nomes. Isso sem falar dos jogadores das séries A e B do Brasileiro que observamos durante todo ano. Há muito trabalho a fazer.

Chapecoense irá disputar a Libertadores em 2017Reprodução / Facebook / Chapecoense

O DIA: A Chapecoense vai disputar sete competições em 2017. De quanto vai precisar para montar a equipe?

IVAN TOZZO: Não sei. Vamos fazer um novo planejamento. Vamos receber um dinheiro da Recopa, de três jogos da Libertadores, mais uma verba que a CBF nos passou. Já temos receita prevista de R$ 17 milhões. Além da receita dos sócios, da renda dos jogos. Abrimos agora para recebermos mais sócios, o Brasil inteiro quer se associar ao nosso clube. Está nos planos o sócio-contribuinte. Já tivemos 50 mil acessos e temos 15 mil sócios efetivados. Tínhamos nove mil, agora somamos 24 mil e podemos chegar a 75 mil sócios. Um número que pode até aumentar. Essa é a receita que podemos esperar. Vamos ver a verba que os clubes vão receber para a disputa do Brasileiro (cotas de TV). Esperamos pelo menos um aumento dos valores, pois nossas dificuldades serão muito grandes.
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O DIA: Como está a questão do seguro de vida das vítimas? Já se sabe quanto as famílias vão receber?
IVAN TOZZO: Já estamos preenchendo toda a papelada para a corretora de seguro. Está tudo bem encaminhado. Nosso clube é pequeno, mas bem estruturado. A gente sempre se preocupou muito nessa questão, alguém pode se machucar, ficar inativo. A gente tinha um seguro legal. Eles devem receber cerca de 12 salários da CBF e mais 28 do clube. Vão receber 40 vezes o que recebiam. Equivale a três anos de salários. 

O DIA: Em apenas seis anos, a Chapecoense pulou da Série D para a Série A do Campeonato Brasileiro. A que o senhor atribui tamanha ascensão?

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IVAN TOZZO: A organização sempre foi muito bem feita, tivemos a felicidade de montar times bons e a cidade abraçou. O nosso clube também não deve nada, nem um centavo sequer. Todos os pagamentos estão em dia. Por isso, os jogadores gostavam tanta de jogar aqui. Pela nossa responsabilidade e honestidade. Sempre honramos os nossos compromissos e formamos um grupo forte, de pais responsáveis, homens mesmo. Infelizmente, Deus levou todos os nossos atletas. Mas não vamos desistir. Estamos trabalhando duro para que tudo aconteça e contamos com o apoio do povo brasileiro.